Amanhã, quando se celebrar o Dia da Vitória, o significado profundo do 7 de Setembro no imaginário das novas gerações estará ausente. A maioria sabe pela historiografia oficial mais difundida do dia como um daqueles em que a Frelimo finalmente assinou os Acordos de Lusaka, mas poucos sabem da resistência de centenas de jovens que, na antiga Lourenço Marques, antes da Frelimo chegar, se barricaram contra o último reduto urbano e reacionário do colonialismo. O dia não é apenas o da vitória das armas. Não, não foi apenas isso. Havia as armas dum vento que soprava do norte, empunhadas sem balas por uma fornada de jovens nacionalistas que, mobilizados pela luta e sem procuração passada, fizeram também a sua quota-parte pela independência deste país. Mas o que aconteceu realmente a 7 de Setembro de 1974, aqui no hoje Maputo?
Na terça-feira da semana passada, o General Alberto Chipande levantou-se do leito onde, acometido por doença, tem passado seus dias. No ensopado azedo da política nacional, ele decidiu meter sua colherada de tempero...picante. Subiu ao andar do edifício branco da antiga Pereira do Lago, a sede nacional da Frelimo. A Comissão Política (CP) decidira reunir-se para discutir o "caso Samito". Mas Chipande não foi de meias medidas. Caso Samito?, vociferou. Para ele não havia um "caso Samito". Havia um caso de traição e manipulação. Samora Júnior era um traidor. Nos tempos sombrios da luta de libertação da Frelimo, que durou de 64 a 74, ele teria um destino macabro.
Em 1969, Uria Simango (pai dos políticos Daviz e Simango, do MDM) era um militante agastado com o rumo que a então Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) tomava. Para dar corpo a suas inquietações, Uria escreveu um relatório explosivo intitulado “Gloomy Situation in Frelimo”. O documento pintava uma situação sombria na frente, desinteligências insanas e posturas individualistas, que punham em perigo a unidade dos três movimentos que lhe deram originaram. A definição do inimigo era um debate recorrente. Simango se insurgia contra o regionalismo perverso de uns e o individualismo ganancioso de outros. Contra o sectarismo e o tribalismo também. A Frelimo não estava coesa. Era um antro de guerrilheiros dominados por figuras do Sul, que centralizavam a tomada de decisão. Seu texto causou feridas e ele foi expulso. Sua rotulagem do partido foi tida como pária.