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Política

sexta-feira, 21 dezembro 2018 03:00

Quem é o famigerado Mabondo?

Para esclarecer determinadas questões relacionadas com os ataques a vários distritos da província de Cabo Delgado, a “Carta” apresenta alguns pormenores importantes, relativamente aos integrantes do grupo que há quase 15 meses atormenta os habitantes da região.

 

Na história do surgimento do grupo de insurgentes – que primeiro criaram uma seita religiosa islâmica, localmente conhecida por Al Shabab, termo árabe que significa “juventude” – não está dissociado o nome de Mabondo. Ou seja, quando se fala do grupo de rebeldes é forçoso referir-se, necessariamente, a este personagem.

 

Apesar de actualmente se encontrar em parte incerta, Aly Anlawe Mabondo, de 40 anos de idade, é um nome que não sai da cabeça das pessoas na vila de Mocímboa da Praia, quanto mais não seja porque este cidadão é tido como quem construiu a primeira mesquita dos “Al Shabab” naquele ponto do país.

 

Nasceu na aldeia Malindi e os pais são oriundos da zona de Cabacera, na localidade de Quelimane no distrito de Mocímboa da Praia. Durante a sua infância, não há indicação de ter frequentado o ensino formal, mas sim uma madrassa. Ainda assim, não atingiu um grau elevado nos estudos islâmicos.

 

Era apenas um muçulmano praticante, pertencente à seita al-sunni. Ate à data da sua integração no grupo e do início dos ataques, foi um empresário de sucesso, associado à venda de capulanas de vários tipos que ele mesmo encomendava de Nampula, Beira e importava da Tanzânia. A actividade comercial do nosso personagem foi sempre desenvolvida em parceria com o seu irmão mais velho, Janfar Anlawe Mabondo.

 

Os que o conhecem caracterizam-no por ser um homem afável, sempre disposto a ajudar e próximo, e sobretudo muito empenhado quando se tratava de realizar alguns trabalhos em prol da mesquita onde frequentava.

 

Mais tarde, os dois irmãos viriam a divergir por motivos não revelados e, repartidos os bens comuns, cada um passou a dedicar-se aos seus próprios negócios. O mais velho continuou a vender roupa e o mais novo apostou no sector de transporte, adquirindo algumas carrinhas para o transporte semicolectivo de passageiros, no trajecto Mocímboa da Praia - Rio Rovuma, junto à fronteira com a Tanzânia.

 

Entre 2015 e 2016, passou a frequentar, amiúde, aquele país irmão, donde trazia sheiks. Além de os transportar, também os hospedava e se responsabilizava pela sua alimentação. Foi sensivelmente nesse período (2016) que Mabondo liderou a construção de uma mesquita no bairro Nanduadua, muito próximo do mercado. Este era o principal local de culto, onde juntava crentes vindos de outros bairros.  Consta também que um dos seus filhos terá sido enviado por si para a Tanzânia, onde foi estudar numa madrassa.

 

Os crentes ligados à mesquita de Nanduadua eram de alguma maneira liderados pelos sheiks trazidos por Mabondo, os quais, igualmente, passaram a dirigir a escola maometana instituída naquele templo. Porém, ao longo do tempo, alguns crentes começaram a desconfiar dos ensinamentos ministrados pelos sheiks tanzanianos, alegadamente pelo facto de estes propagarem mensagens próximas do radicalismo islâmico. Além disso, contrariamente ao que sempre aprenderam, os ditos sheiks instavam os crentes a calçar sapatos, ou no mínimo chinelos, no decurso das suas cinco orações diárias.

 

Parte dos crentes abandou a seita, mas Mabondo manteve o (principal) sheik e só mais tarde o transferiu para a aldeia Makulo, onde se presume ter havido a grande base dos insurgentes antes dos ataques de 5 de Outubro. Quando assimilou a ideologia da seita islâmica que pregava o uso de sapatos em plena oração, mudou de negócio e começou a comprar peixe seco, holotúrias e conchas para posterior revenda na vizinha República da Tanzânia. Pai de (pelo menos) quatro filhos, desapareceu no mesmo dia em que a vila de Mocímboa da Praia foi atacada. Não deixou rasto. Pouco tempo depois, o seu irmão Janfar, que supostamente também fazia parte do grupo, foi preso pelas autoridades. (Saide Abibo)

quinta-feira, 20 dezembro 2018 08:32

Os números da estabilidade de Nyusi

O principal ganho para Moçambique em 2018 foi a estabilidade social e política que permitiu uma recuperação económica, embora ainda ténue. O Presidente Filipe Nyusi apresentou ontem, em discurso de Estado da Nação, os números sobre os quais assenta sua qualificação final de Moçambique como país “estável e promissor” em 2018. Ele disse que a crise económica de 2016 ficou já ficou para trás e apontou que a retoma já é palpável. O país mostrou-se resiliente, disse ele, “o que nos permitiu, em tempo recorde, recuperar a rota do crescimento e da prosperidade”. Mostrou alguma cautela: “Não estou a dizer que vencemos a crise, mas não permitimos que as dificuldades afetassem a nossa confiança nos caminhos estabelecidos”.

quarta-feira, 19 dezembro 2018 09:51

Governo quer combater desnutrição crónica

Em Moçambique, 43% das crianças com principal enfoque dos 0 aos 5 anos sofrem de desnutrição crónica. Esta situação é prevalecente desde 2013. Quando falta um ano para o fim do mandato, o governo moçambicano compromete-se a reverter a actual realidade diminuindo os índices de nutrição para 35%. Nos últimos 5 anos a taxa manteve-se em 43%, em 2019. Agora, o Governo diz que vai baixar em 8% em apenas um ano. 

 

Esta informação foi avançada ontem por Ana Comoana, Porta-voz do Conselho de Ministros, durante 39ª Sessão ordinária e última deste ano.

 

Comoana disse que o objectivo responder ao estudo efectuado pelo Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN), realizado entre Março e Abril, e publicado em Junho, deste ano. No estudo, as provincias de Cabo Delgado, Nampula, Zambézia e Tete são as mais destacadas, com uma percentagem que parte dos 44% aos 52%.

 

Ana Comoana explicou que o Governo vai promover a produção e o consumo nas comunidades e vai incentivar o agroprocessamento. Mesmo sem avançar as estratégias concretas que serão implementadas, Comoana reiterou que esta é uma decisão do executivo moçambicano e que tudo se fará para reduzir significativamente a desnutrição crónica em Moçambique.

 

Em contrapartida, o estudo do SETSAN apresenta vários factores que contribuem para desnutrição crónica em Moçambique, dentre eles, a escassez de alimentos, a falta de uma estratégia comunicacional com as comunidades, uma dieta alimentar frágil e que atrai doenças como a cólera, malária, mas também, o acesso a água potável e a não existência de assistência humanitária. Moçambique perde anualmente 1.6 bilhões de USD, devido a desnutrição crónica e África tem a dura missão de se libertar da fome até 2030. (Omardine Omar)

terça-feira, 18 dezembro 2018 14:25

Há “dois comandos” nas FDS, acusa Ossufo Momade

As recentes nomeações interinas de três oficiais da Renamo, pelo Ministro da Defesa Atanásio M’tumuke, estão a deixar as lideranças do maior partido da oposição com os nervos à flor da pele.  Tal preocupação foi apresentada, hoje, numa teleconferência realizada na Sede Nacional da Renamo, em Maputo, onde Ossufo Momade, Coordenador da Comissão Política, divulgou os detalhes do encontro realizado a 13 de Dezembro passado, na Serra de Gorongosa, com os representantes do Grupo de Contacto (composto por uma mediação que integra os embaixadores da Suíça, dos EUA, o representante da União Europeia e o Alto Comissário do Botswana).

Geraldo Carvalho, deputado da Assembleia da República pela bancada do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), foi substituído, na semana passada, na Comissão de Defesa e Segurança, do Parlamento, e no seu lugar foi colocado o suplente Raimundo Pitágoras. A medida vem pôr termo ao braço-de-ferro que coloca o então chefe nacional de mobilização e a direcção do MDM, por este ter, de forma unilateral, abandonado a formação política liderada por Daviz Simango.

 

O conflito entre Carvalho e o MDM já se arrasta há bastante tempo, muito antes da realização das eleições autárquicas, tendo o deputado rompido o silêncio e apoiado publicamente a campanha eleitoral de Manuel Bissopo, derrotado pelo ”eterno autarca da Beira”. Geraldo Carvalho foi um dos que defenderam a substituição de Daviz Simango na lista dos candidatos do MDM ao Conselho Autárquico da Beira, situação que criou o isolamento do então chefe nacional de mobilização no seio do clã Simango, que nunca quis ceder a presidência da edilidade a outros membros.

 

A saída forçada de Geraldo Carvalho da Comissão da Defesa e Segurança foi-nos confirmada pelo porta-voz do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), e também deputado do parlamento, Sande Carmona. ”Não tenho muitos detalhes sobre isso, mas tive informações de que ele foi substituído na semana passada pelo colega e deputado, Raimundo Pitágoras, que era suplente na mesma comissão parlamentar”, disse a nossa fonte.

 

Refira-se que ainda se aguarda a decisão do Parlamento relativa à perda de mandato de Geraldo Carvalho e Ricardo Tomás, que já foram ouvidos pela comissão parlamentar de ética, sob proposta do Movimento Democrático de Moçambique. A destituição destes dois deputados deve-se pelo facto de os visados se terem filiado ao partido Renamo. “Carta” falou ontem com Carvalho. Ele disse que prefere não fazer comentários. “O certo é que continuarei na Assembleia da República em cumprimento das leis existentes, não pela vontade de pessoas”, disse. Geraldo Carvalho diz não ter dúvidas que está a sofrer uma perseguição política interna, movida pela liderança do Movimento Democrático de Moçambique. (Sitoi Lutxeque)

 

segunda-feira, 17 dezembro 2018 17:00

O fim do PAHUMO em Nampula

O Partido Humanitário de Moçambique (PAHUMO), cujo secretariado nacional funciona na cidade de Nampula, pode estar a caminho do seu fim, em virtude do término do mandato do seu único membro na Assembleia Municipal local, por sinal a sua secretária-geral. Em Nampula, o PAHUMO tinha como rosto Filomena Mutoropa, a única mulher que desde 2013 vem disputando a presidência do Conselho Municipal do terceiro maior centro urbano de Moçambique, mas sem nunca ter chegado ao poder, tendo-se contentado com um assento na Assembleia da autarquia.

 

Actualmente, o partido anda à deriva, na sequência de sucessivos abandonos de membros para outras formações políticas, nomeadamente AMUSI (Acção do Movimento Unido para a Salvação Integral), RENAMO, FRELIMO, MDM e a recém-criada pela ala de Mahamudo Amurane, o Partido Liberal de Desenvolvimento Sustentável (PLDS). Umas das causas do abandono são as alegadas má gestão e falta de coordenação entre a direcção máxima (da presidência ao secretariado nacional) daquela formação política liderada por Cornélio Quivela, antigo deputado pela bancada da RENAMO.

 

Os fundadores do partido foram os primeiros a abandoná-lo, sendo um dos primeiros Henriques Lopes, actualmente porta-voz da RENAMO na Assembleia da República. Ussene Mário, que ocupava as funções de delegado provincial do PAHUMO, afastou-se em princípios do ano passado acompanhado de outros companheiros, para se juntar ao partido AMUSI, onde desempenha as mesmas funções que assumiu na força política anterior. À "Carta", Ussene disse não duvidar que " este pode ser o fim do PAHUMO em Nampula, tudo por falta de coordenação. Não há bom ambiente de trabalho", disse justificando a sua saída.

 

A fonte chegou a afirmar que muitos faziam parte do partido graças à secretária-geral, Filomena Mutoropa, que lhes incentivava, uma vez que o presidente era muito pouco interventivo no fortalecimento daquela organização partidária. Entretanto, o secretariado do partido reconhece as desistências, apesar de não avançar os motivos, mas garante que o partido poderá continuar a trabalhar, não obstante ter perdido o assento na Assembleia Municipal. (Sitoi Lutxeque)