O cidadão croata Alfred Musizza, um engenheiro electrotécnico assassinado na passada sexta-feira, na praceta onde vivia na Avenida Patrice Lumumba, a poucos metros da Escola Secundária Josina Machel, estava bem conectado com membros da elite política moçambicana, alguns bem conhecidos nos meandros do tráfico de influências em Maputo. Musizza foi assassinado à queima-roupa por três tiros disparados por um homem de pele clara (branco ou de origem árabe), quando eram precisamente 13 horas da passada sexta-feira. O assassino desceu de uma viatura “sedan” da marca Toyota, conduzida por outro homem com as mesmas características de pele, e dirigiu-se ao carro onde Musizza acabara de entrar (um Rav 4 de fabrico recente) para sair de casa, alvejando o croata sem contemplações. As três balas ficaram alojadas no corpo do finado que, socorrido, chegou ao hospital já sem vida.
De acordo com amigos de Musizza, que falaram à “Carta”, ele já estava a ser perseguido. “Há algumas semanas que ele recebeu ameaças”, disse uma das fontes. Por essa razão, Alfred Musizza optou por mudar de rotina, havendo dias em que passava a noite numa unidade hoteleira da marginal. Os guardas da praceta onde o assassinato teve lugar disseram que os dois homens, “brancos” na sua caracterização, foram por diversas vezes vistos a rondar as proximidades da praceta, mas eles não levantaram suspeitas. A autópsia ao corpo do croata foi realizada ontem e as démarches para sua transladação para a Croácia já terão terminado.
Nas últimas semanas, Musizza era um homem vivendo entre lamentações, sobretudo relativamente ao ambiente de negócios. Ele não se coibia de contar algumas peripécias. Uma delas envolve o Ministério do Interior. Alfred Musizza estava “agastado” com esta entidade alegadamente por que lhe “estavam a bloquear” o licenciamento de uma empresa de explosão e implosão de precisão. Ele contava que tinha conseguido trazer um parceiro estrangeiro de grande calibre e reputação, mas, há mais de 10 meses que a licença não saía e ele era obrigado a constantes idas para o Ministério, mas sem resposta. Para tentar acelerar o processo, Alfed Musizza e seus parceiros terão desembolsado 300 mil de USD a um conhecido “lobista” da praça com influências no aparato securitário e castrense local, mas aparentemente ele não estava a conseguir remover os bloqueios tal como tinha prometido.
Seus confidentes não são claros sobre se Musizza estava a tentar reaver o dinheiro adiantado. Ele dizia que o negócio de explosão e demolição de precisão era um investimento de retorno certo, sobretudo na área da mineração, que tem crescido em Moçambique. Em jantares com amigos, ele manifestava um tremendo desencanto com o facto de figuras do “lobby” empresarial serem cada mais impotentes. Também reclamava do facto, de como engenheiro electrotécnico, ter efectuado vários trabalhos de montagem de antenas para uma empresa de telefonia móvel que lhe devia “rios de dinheiro”, mas não lhe estava a pagar.
Alfred Musizza era um técnico e empresário estrangeiro que percebeu que para se ter acesso a negócios lucrativos em Moçambique era preciso ter boas conexões na classe política, pagando até valores chorudos de renda a “lobistas”. Uma fonte da sua amiga disse que o móbil para o seu assassinado só pode ter partido dessa área da sua vida. Várias fontes estranham o facto de seus assassinos não serem “moçambicanos negros”, mas crêem que esse foi um “ardil” dos mandantes para deixarem a percepção de que se tratou de “ajuste de contas entre eles”. (Carta)
O julgamento da antiga embaixadora de Moçambique nos Estados Unidos da América (EUA), Amélia Narciso Matos Sumbana, tem hoje início no Tribunal Judicial da Cidade de Maputo. Sumbana, que foi embaixadora nos EUA entre Novembro 2009 e Abril de 2015, é acusada de peculato, abuso de funções e branqueamento de capitais. Durante o seu consulado nos EUA, as autoridades americanas observaram “movimentações estranhas” nas suas contas e alertaram o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (MINEC). De acordo com a acusação, o MINEC transferia fundos para o funcionamento da embaixada em Washington, mas o dinheiro voltava a sair, pouco tempo depois, para pagamentos que nada tinham a ver com a embaixada.
Sumbana é também acusada de ter vendido um imóvel pertencente à embaixada. A antiga embaixadora foi exonerada poucos meses após a tomada de posse do Presidente Filipe Nyusi. Ela terá desviado 496.945,03 USD correspondentes a 17.393.076,05 Mts, ao câmbio do período dos factos, que ocorreram durante seis anos.
Alega-se que parte do dinheiro foi utilizado na aquisição de um apartamento, que registou em nome de um parente. A diplomata também ordenava a emissão de cheques a seu favor, alegadamente para efectuar pagamentos referentes a obras de reabilitação da residência oficial e compra de bens para o funcionamento da missão diplomática. Uma antiga adida financeira e administrativa de Sumbana também está sob investigação.
Amélia Sumbana é irmã de um conhecido dirigente da Frelimo já falecido, Amaral Matos , e do actual reitor da "Politécnica", Narciso Matos. Casou-se com um irmão dos conhecidos políticos da Frelimo, Fernando e António Sumbana. Durante anos, Amélia Sumbana foi chefe do Departamento de Relações exteriores da Frelimo. (Carta)
O ataque perpetrado domingo último pelos insurgentes no distrito de Macomia, na província de Cabo Delgado, resultou em sete mortes e mais de 196 casas incendiadas, segundo relatos de populares que estiveram no palco dos acontecimentos. A aldeia de Nagulue foi alvo de um ataque por volta das 10h00, enquanto a de Ingoane foi atacada quando eram cerca das 19h00 no mesmo domingo. Uma das vítimas, mulher, foi queimada viva dentro de casa. Outra pessoa foi baleada e teve de ser hospitalizada. Devido à situação de insegurança que se vive em Ingoane, toda a população abandonou as duas aldeias.
Segundo fontes de “Carta”, as matas existentes nas aldeias atacadas favorecem as acções dos atacantes, que se refugiam naqueles locais para depois desaparecer sem deixar rasto. Esta táctica foi usada pelos insurgentes nos ataques a Quissanga, Meluco, Mucojo, Quiterajo e Macomia.
Entretanto, em declarações prestadas à imprensa, ontem, o ministro da Defesa, Atanásio M’tumuke, reconheceu a ocorrência de ataques em alguns distritos de Cabo Delgado realçando que estavam a ser controlados pelas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). Para M’tumuke, as instituições e outros serviços está a funcionar “sem sobressaltos”.
Estima-se que mais de 200 pessoas tenham perdido a vida desde que a 05 de Outubro de 2017 iniciaram os ataques em Mocímboa da Praia, vindo depois a alastra-se para outros pontos da província de Cabo Delgado. Os ataques têm sido frequentes ultimamente, com os insurgentes a não esperam pelo anoitecer para cometer todo o tipo de barbaridades, incluindo decapitação de pessoas a sangue frio, para além de incendiar propriedades como casas e viaturas. (Omardine Omar)
Com a subida do caudal do rio Zambeze na província de Sofala, distrito de Caia, várias famílias, até ao momento em número de 400, estão sendo evacuadas coercivamente. As famílias abrangidas são as que vivem nas zonas consideradas propensas às inundações, que conforme apurou a “Carta” foram acolhidas em cinco centros de acomodação.
Às famílias cuja evacuação foi forçada o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) oferece a “devida assistência multissectorial”. Conforme garantiu Adérito Mavie, porta-voz do governo provincial de Sofala, neste momento decorre a identificação de locais não propensos às inundações pelo caudal do Zambeze, onde deverão ser reassentadas mais famílias. Mavie disse que entre as acções imediatas a serem tomadas constam prestar assistência alimentar às famílias afectadas, a médio e longo prazos. Acrescentou que será também necessário identificar outros locais não propensos às inundações, para que possam fixar as suas residências de forma definitiva.
Quando sobe, o caudal do Zambeze tem sido fértil em crocodilos que aparecem depois nas zonas circunvizinhas. Nestas circunstâncias, são frequentes ataques de crocodilos. O INGC apela às famílias para que não regressem às zonas de risco como tem acontecido durante os períodos em que o caudal do rio Zambeze sobe, mesmo sob pena de abandonar suas casas e culturas, assim como os seus animais domésticos, sobretudo os diversos tipos de gado. (S.R.)
Seis supostos caçadores furtivos vão a julgamento na próxima quarta-feira (13) no Tribunal distrital de Gorongosa, acusados de caça ilegal e nocturna, abate de espécies protegidas por Lei, uso e porte ilegal de armas de fogo e munições. Trata-se de Shazeem Abdul Rahim, Eduardo Givandás Pereira, Eduardo Eloy da Silva, Abdul Rahim Daud, Nelson Romeu e Alberto Nhangosol, que no pretérito dia 09 de Setembro do ano passado foram detidos pelo corpo de fiscalização do Parque Nacional de Gorongosa (PNG). A detenção dos seis foi possível graças à denúncia da população pertencente à comunidade de Nhamacuenguere, na zona tampão do PNG, quando se apercebeu que um grupo fazia incursões no Parque durante a calada da noite, sem autorização superior.
Dados na posse da “Carta” indicam que, aquando da sua detenção foram apreendidos aos seis suspeitos, uma viatura da marca Toyota com a matrícula MBF-31-85, três armas de fogo de calibres 22, 308 e 12, 198 munições (167 munições de calibre 22; 21 munições de calibre 308. E 10 munições de calibre 12), uma culatra de arma de fogo, um GPS e três holofotes.
Na ocasião, um dos detidos, Eduardo Givandás Pereira, apresentou uma licença de caça que apenas lhe autorizava a abater espécies como galinha-do-mato e lebre. A licença de uso e porte de arma de caça apresentada por Pereira não correspondia a qualquer das três armas apreendidas, nem à culatra que os seus tinham em sua posse. Durante o acto de detenção do grupo também verificou-se que os seis suspeitos, oriundos de províncias diferentes, tinham abatido nove animais de espécies protegidas, incluindo três changos (uma fêmea e dois machos), uma imbabala fêmea, um facochero macho, dois pivas (ambas sub-adultas) e duas perdizes.
Um dos detidos, Shazeem Abdul Rahim, de 28 anos, é natural de Maputo e residente na Beira. Aquando da sua detenção disse ser o proprietário de duas armas de fogo, viatura e GPS que foram apreendidos. Eduardo Pereira (75), natural de Chinde, província da Zambézia, e actualmente residente na Beira, afirmou ser dono da arma de fogo de calibre 12 e munição. Garantiu que eram da sua propriedade as licenças de caça, livrete, licença de uso e porte da arma.
Eduardo Eloy da Silva (54), natural e residente na Beira, é proprietário de um Take Away denominado “Galo Verde” na zona da Miramar, cidade da Beira. O referido Take Away é famoso por vender hambúrgueres e petiscos de carne de caça. Abdul Rahim Daud (60), natural de Mocuba, província da Zambézia, residente em Chimoio, é pai do outro suspeito, Shazeem Abdul Rahim. Os outros suspeitos são Nelson Romeu (38), natural e residente na Beira, e Alberto Nhangosol, residente em Nhampoca, Gorongosa, que na altura de detenção não possuía qualquer documento. (Omardine Omar)
Desde há sensivelmente três anos que a Escola Primária Unidade 24 na cidade de Maputo está votada ao abandono, perante a passividade de quem deveria intervir para reverter tal cenário. Os moradores das redondezas do local onde se situa a referida escola, na rua Milagre Mabote, próximo da Avenida Joaquim Chissano, queixam-se do facto de ela estar agora a servir de refúgio dos marginais. O que resta do estabelecimento de ensino em causa, que tinha 10 salas de aulas, são ruínas. Nas paredes ainda são visíveis as escritas que indicam o nome da escola e aquilo que já foram Gabinete da Direcção e Sala de Professores. O pátio e os corredores estão repletos de lixo, fezes e capim, o mesmo acontecendo nas antigas salas de aulas, na sua maioria desprovidas de janelas, portas e teto.
Até 2016, de acordo com o relato de um antigo aluno que vive próximo da Escola Primária Unidade 24, este estabelecimento de ensino era frequentado por várias crianças que, bem uniformizadas, ali afluíam para dar os primeiros passos no mundo académico. Hoje a situação é totalmente desoladora, pois da escola só sobraram ruínas. Desde que a Escola Primária Unidade 24 ficou abandonada, tornou-se arriscado circular nas redondezas. Conforme contou à “Carta” Marília Meque, de 27 anos e vizinha da escola ora transformada em antro de malfeitores, as pessoas que à noite passam perto são assaltadas pelos marginais que lá vivem, o que constitui uma ameaça para a comunidade vizinha.
Ainda de acordo com a nossa fonte, desconhecidos supostamente dos bairros circunvizinhos transformaram os escombros da mesma escola num ponto de encontro onde se consomem drogas, fazem-se reuniões nocturnas e satisfazem-se necessidades biológicas. Fátima Nhamposse, igualmente residente nas proximidades das agora ruínas da Escola Primária Unidade 24, disse que no ano passado, quando se aproximavam as eleições municipais, apareceram camiões para descarregar pedras e areias, mostrando sinais de que se estava perante uma eminente reabilitação daquele estabelecimento de ensino. No entanto, até aqui nada aconteceu, e nem ninguém voltou a falar do assunto! Enoque Muchanga, residente do bairro Maxaquene, mas que em 2001 fez a quinta classe na Escola Primária Unidade 24, disse ser normal nos casos em que um edifício é abandonado começarem a surgir oportunistas. No caso da Escola primária Unidade 24, Muchanga lamentou a falta de intervenção da Polícia, apesar de existir uma esquadra nas proximidades. “Carta” contactou o Ministério da Educação, através da porta-voz da instituição, mas esta declinou falar do assunto. (Marta Afonso)