João Figueiredo, um dos mais diligentes executivos da banca de Moçambique, acaba de resignar da liderança executiva do Moza Banco. Numa breve declaração à “Carta”, ele disse que chegou o tempo de se dedicar mais à família, 42 anos depois.
Figueiredo não sai do Moza. O banco decidiu adoptar “um novo modelo de governação corporativa em linha com as melhores práticas internacionais do sector”, procedendo a uma separação das funções de Chairman e Presidente da Comissão Executiva, tendo sido contratado para o efeito o gestor bancário Manuel Soares, o qual irá desempenhar as funções de PCE do Moza Banco já a partir do mês de Julho.
Manuel Soares, também moçambicano, era CFO no BCI, onde começou como auditor até chegar ao topo, tendo feito, em certo momento, sombra ao antigo PCE Paulo Sousa.
João Figueiredo sai das funções executivas do Moza dois meses depois de um banco ter anunciado que alcançou o “break even” 4 anos após a intervenção do Banco de Moçambique e que fecha ano de 2020 com um resultado líquido de 146 milhões de Meticais contra os 776 milhões de meticais negativos em 2019, consolidando a sua posição de Banco referência do sistema financeiro moçambicano e reforçando a confiança dos seus clientes e demais stakeholders”.
Este resultado apurado foi apresentado pelo Conselho de Administração no passado dia 20 de Abril na assembleia geral ordinária do Banco, onde os accionistas aprovaram o Relatório de Gestão e as Demonstrações Financeiras referentes ao exercício de 2020.
O banco destacou o facto de, no final do ano transacto, ter alcançado um rácio de liquidez de 42,5 %, acima do indicador regulamentarmente estabelecido de 25,% e um rácio de solvabilidade de 14,83%, superando o mínimo de 12% definido pelo Banco de Moçambique. A rendibilidade de capitais próprios (ROE) e rendibilidade dos activos (ROA) situaram-se em 1,87% positivos (2019: 9,07% negativos) e 0,31% positivos (2019: 1,85% negativos); o crescimento do seu activo em 14%, o crescimento dos recursos em 20%, e um ligeiro crescimento da carteira de crédito em 1%.
Break Even? O lucro anunciado não provém “strictu sensu” da actividade bancária
O alcance do “break even” pelo Moza, depois do imbróglio em que o banco esteve metido, suscitou dúvidas na praça. Vários analistas torceram o nariz. E fizeram sua leitura crítica do Relatório de Gestão e Demonstração Financeiras de 2020, conforme apresentado pela gestão. Eis as conclusões de dois especialistas contactados pela “Carta”:
Esta degradação de indicadores reflecte uma substancial quebra de valor dos activos do Moza Banco no ano 2020, designadamente do rácio de solvabilidade de 2020, publicado pelo Banco, 14,83%, ainda acima do requerido pelo Banco Central (12%), mas que revela uma tendência de drástica redução relativamente ao ano anterior (23,83% em 2919). O rácio de solvabilidade caiu 38% em relação a 2019.
Ontem, num breve contacto com “Carta”, João Figueiredo declinou comentar estas e outras leituras alternativas às contas de 2020. “Após a minha Carta de Resignação de hoje (ontem) não me vou pronunciar sobre estes temas agora. O que lhe posso garantir é que saio com a consciência tranquila de ter trabalhado com a minha equipa e que hoje temos um Moza Banco substancialmente melhor do que aquele que eu encontrei quando lá cheguei”. (M.M.)
Vinte e quatro (24) campos de produção de carvão vegetal foram desmantelados no Parque Nacional de Banhine, província de Gaza. A informação foi avançada, esta terça-feira, pela Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC), em comunicado de imprensa. A autoridade refere que a operação foi realizada, em conjunto, pelos fiscais dos Parques Nacionais de Banhine e Limpopo.
Em conexão com o caso, a ANAC deteve 14 pessoas, apreendeu três camiões e confiscou quantidades não especificadas do carvão vegetal. A ANAC sublinha que, só nos últimos três meses, o Parque Nacional de Banhine perdeu cerca de 6.000 árvores por causa daquela actividade.
“Se não fosse detectada a tempo, esta actividade ilegal poderia ter destruído grandes áreas de habitat únicas da vida selvagem e prejudicar a sobrevivência da biodiversidade, devido ao risco de incêndios florestais durante o desmatamento da área”, sublinha a nota. (Carta)
Numa altura em que vários consumidores de Gás de Petróleo Liquefeito (GPL) ou gás de cozinha da Galp sofrem com a escassez do produto, principalmente na área metropolitana do Grande Maputo, a empresa nega haver falhas no fornecimento. Pelo contrário, afirma ter havido aumento de fornecimento nos últimos meses.
Essas informações constam de uma carta que a Galp Moçambique enviou ao Jornal em resposta ao pedido de esclarecimento da escassez de GPL no Grande Maputo. A resposta da empresa vem um dia depois de a "Carta" noticiar a crise no fornecimento daquele produto.
Eis, ipsis verbis, o que a Galp Moçambique escreve na carta: “Não houve, da parte da Galp, quaisquer falhas no fornecimento de GPL; bem pelo contrário, houve um aumento da disponibilização de GPL para fazer face ao crescimento da procura – demonstrado pela subida das vendas, por parte da Galp, durante o mês de Maio em relação a Abril e ao mês homólogo do ano passado. De resto, terá sido esse crescimento da procura e a preferência dos clientes pela marca Galp, entre outras razões eventuais às quais a Galp é alheia, que terá levado a que, em alguns casos muito pontuais e circunscritos à Cidade de Maputo, a disponibilidade de GPL não fosse suficientemente célere para a reposição integral do stock”.
Todavia, noutra vertente, a empresa contradiz-se, ao assumir que o seu parque de enchimento está em obras, facto que leva a depreender-se que diminuiu o nível de enchimento e, por consequência, reduz o fornecimento do produto.
“Tal como tem sido noticiado, a Galp tem em curso grandes obras de beneficiação e modernização no seu Parque de Enchimento de Garrafas com o intuito de melhorar significativamente a infra-estrutura de armazenagem e enchimento de garrafas de GPL de forma a aumentar, ainda mais, a sua disponibilidade no mercado nacional e dar resposta à cada vez maior apetência dos consumidores por este produto”, escreve a Galp na carta.
Embora questionada, a Galp não disse quando as obras vão terminar, nem explicou o que faz para mitigar o problema (aliás, diz não haver falhas), o que leva a concluir que a crise de fornecimento do gás continua longe de terminar. Também não explica em que níveis aumentou o seu volume de produção e muito menos explica em que níveis aumentou a procura do seu produto. (Evaristo Chilingue)
A taxa de juro de referência de Moçambique vai manter-se em 18,9% em junho, anunciou hoje a Associação Moçambicana de Bancos (AMB).
O valor é calculado pela AMB e Banco de Moçambique com base num indexante único de 13,3% (calculado pelo banco central) e um prémio de custo de 5,6% (definido pela AMB).
O anúncio surge em linha com a decisão do Comité de Política Monetária (CPMO) do Banco de Moçambique que a 19 de maio manteve a taxa de juro de política monetária (taxa MIMO) em 13,25%.
Na altura, a manutenção foi fundamentada "pelo agravamento dos riscos e incertezas, não obstante a revisão em baixa das perspetivas de inflação no curto e médio prazo, a refletir, sobretudo, a recente apreciação do metical".
A criação da 'prime rate' com um valor inicial de 27,75% foi acordada entre o banco central e a Associação Moçambicana de Bancos (AMB) em junho de 2017 para eliminar a proliferação de taxas de referência no custo do dinheiro.
O objetivo é que todas as operações de crédito sejam baseadas numa taxa única, "acrescida de uma margem (spread), que será adicionada ou subtraída à 'prime rate' mediante a análise de risco" de cada contrato, explicam os promotores.
O nível de rendibilidade do Banco Nacional de Investimento (BNI) tendeu a baixar desde 2017, tendo o lucro mais baixo sido registado em 2019. No ano de 2016, o banco registou um resultado líquido de 354.9 milhões de Meticais, tendo no ano seguinte caído para 187.8 milhões de Meticais. Em 2019, registou o lucro mais baixo ainda, que foi de 64.4 milhões de Meticais.
Interpelado sobre as razões, à margem da apresentação, há dias, do Relatório e Contas de 2020, o Presidente do Conselho Executivo (PCE), Tomás Matola, explicou que a redução da rendibilidade se deveu à crise financeira e económica que afectou o mundo e o país, a partir de 2016. Negou associar a baixa rendibilidade com as chamadas dívidas ocultas, que levaram os doadores a congelarem os seus financiamentos ao Orçamento de Estado, uma medida que agravou a crise financeira e económica do país.
Todavia, Matola lembrou que, em crise, houve no sistema financeiro nacional um “aumento significativo das taxas de juro, que foram para além de duplicar. Tivemos ainda a deterioração dos principais indicadores macroeconómicos, incluindo a inflação que geraram um ambiente de total incerteza relativamente à nossa economia. Como consequência, as empresas tenderam a contratar menos crédito à banca. Além disso, as empresas começaram a enfrentar dificuldades de pagar a dívida e, nessa altura, o BNI começou a registar um nível de crédito em incumprimento elevado, daí que tínhamos de aumentar provisões e imparidades, o que tem impacto directo nos resultados”.
Todavia, em 2020, o BNI apresentou um lucro líquido de 137,51 milhões de Meticais em 2020, correspondente a um crescimento de 113% relativamente ao montante de 64,4 milhões de Meticais registados em 2019. Com base nesse resultado, o PCE do BNI diz: “os nossos fundamentos económicos indicam-nos que, agora que retomamos, a nossa tendência de resultados positivos vai voltar”.
Segundo Matola, o desempenho positivo de 2020 foi acompanhado pela consolidação da robustez e saúde financeira do banco, evidenciada pela rendibilidade dos activos, robustez dos fundos próprios, nível de adequação dos fundos próprios e de liquidez.
O rácio de solvabilidade do BNI registou 40,43%, acima dos 12% estabelecidos pelo regulador e o rácio de liquidez situou-se nos 54,52%, contra os 25% regulamentares. Há ainda a destacar a redução do rácio de crédito em incumprimento para 2,5%, um nível muito abaixo da média do sector. (Evaristo Chilingue)
A agência de notação financeira Moody's considera que Moçambique está em risco de entrar novamente em Incumprimento Financeiro ('default') em 2024 se a produção de gás se atrasar e comprometer o aumento previsto das receitas.
"A decisão da Total relativamente à suspensão da produção não terá um impacto imediato mas como o pagamento dos títulos de dívida depende das receitas, o adiamento da produção e o atraso nas receitas pode ser o gatilho para um novo 'default'", disse a diretora do grupo de análise do risco soberano na agência de notação financeira Moody's.
Em entrevista à Lusa, Marie Diron salientou que "ainda há tempo [para evitar o incumprimento], porque como o pagamento dos títulos encarece a partir de 2024, há vários anos para o Governo reavaliar as fontes de financiamento", mas alertou que "tendo em conta o histórico anterior do Governo, há um risco e é por isso que o 'rating' é baixo", estando atualmente em Caa2, perto do limite inferior da escala de avaliação da qualidade do crédito soberano.
A reestruturação dos títulos de dívida que Moçambique fez na sequência do chamado 'escândalo das dívidas ocultas' diminuiu os juros a pagar até 2023, mas quase duplicou as prestações, de 5% para 9% ao ano, a partir desse ano, que era a altura em que se previa que começassem as exportações de gás natural, cujas receitas fiscais suportariam o aumento dos custos.
Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes segundo o projeto de registo de conflitos ACLED e 714.000 deslocados de acordo com o Governo moçambicano.
Um ataque a Palma, junto ao projeto de gás em construção da petrolífera Total, a 24 de março, provocou dezenas de mortos e feridos, sem balanço oficial anunciado.
As autoridades moçambicanas anunciaram controlar a vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar o recinto do empreendimento que tinha início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.
A Moody's analisa 28 países em África, que vão de A3, do Botsuana, até ao Ca, da Zâmbia, havendo uma concentração de opinião sobre a qualidade do crédito mais no limite inferior da escala, "refletindo os constrangimentos devido aos baixos níveis de rendimento que dificultam a resiliência a choques, constrangimentos orçamentais e de dívida, que já estava a subir mesmo antes da pandemia", disse Marie Diron, notando que dois terços das perspetivas de evolução dos 'ratings' estão estáveis.
"Isto indica que a nossa opinião sobre a qualidade do crédito soberano está bem posicionada para um período de recuperação muito gradual e desigual, com os governos a precisarem de tempo para recuperarem a base de receitas", concluiu a analista. (Lusa)