- Senhora Luísa, você tentou uma vez candidatar-se a candidato a presidente da República, depois não conseguiu. Como é que se sentiu após essa derrota?
- A vida é composta de batalhas intermináveis. Aliás, já ao sairmos do ventre da nossa mãe, recebemos imediatamente esse aviso através da pancadinha que nos dão no rabinho, e choramos. O normal seria sorrirmos ao ver a luz do sol pela primeira vez, mas não é isso que acontece, choramos de susto e medo perante os verdugos que nos aguardam, disfarçados no imenso brilho do próprio universo.
- Mas qualquer batalha perdida deixa em nós uma dor!
- Eu acerdito que você já assistiu a grandes jogos de futebol, e nesses jogos deve lembrar-se de ter visto um grande golo marcado por um jogador genial, mas o árbitro entende anular esse tento que até pode ser de antologia. Por isso, ao entrarmos para grandes desafios, temos que contar com aqueles que têm o machado na mão, prontos para decapitarem-nos.
- Então sabia que podia perder naquele jogo de candidatura a candidato a presidente da República, onde pontificavam nomes avultados, não propriamente por aquilo que fizeram para o desenvolvimento do país, mas por outrios motivos!
- Em todas as minhas lutas contei sempre com o inesperado. A vida em si é inesperada. O próprio Jesus sabia que iria lhe acontecer o pior, mas veio a terra enfrentar os chacais e jamais deixou de lutar.
- Continua a acreditar que um dia pode vir a ser Presidente da República?
- O objectivo da minha vida não se circunscreve ao poder. Há várias frentes de luta, e a de presidente é apenas uma delas.
- Mas a Luísa Diogo queria (quer) ser Presidente da República!
- Há coisas que você só pode fazer tendo o poder na mão.
- Mas a senhora está no poder!
- O problema não é estar no poder. É ter o poder na mão.
- Há uma contradição nas suas palavras, e pela forma como fala deixa-nos perceber que afinal há uma espécie de obsessão dentro de si nesta luta!
- Se há alguma obsessão dentro de mim, é no sentido de que o meu desejo fervoroso é lutar para que algumas pessoas deixem de pensar que este país é deles sozinhos.
- É isso que lhe move na luta por ter o poder na mão?
- O que me move é a luta pela justiça, pelo respeito aos direitos dos cidadãos. É isso que me move.
- Os seus camaradas não têm conseguido isso?
- Eles combateram um bom combate, mas a partir de um determinado momento degeneraram, e precisam de descansar. Então precisamos todos nós, de um novo paradigma.
- E acha que esse novo paradigma está nas suas mãos?
- (Risos)
- Senhora Luísa, você teve momentos de pico, continua a ser uma mulher respeitada, é temida por aqueles que não querem novas luzes. Não receia que amanhã possa sair do cume onde está, para o sopé?
- Primeiro, não sabia que eu era temida por aqueles que não querem novas luzes, você é que está a dizer-me agora. Outrossim, nós vivemos entre os cumes e os sopés, segundo o escritor Lucílio Manjate, e eu subscrevo. Jesus Cristo foi aviltrado, achincalhado, pisado como areia, mas há uma coisa que não conseguiram tocar nele, a alma. Então se Jesus, que é uma Pessoa Grandiosa, chegou a ser puxado até ao nível do chão, quem sou eu para não ser posto a rastejar. Mas podem acreditar, a minha alma é inabalável. Continuo a acreditar na vitória dos meus propósitos.
- Moçambique tem futuro?
- Moçambique sempre teve futuro, o que acontece é que estamos ainda no alto-mar, a ser abalroados. Mas lá chegaremos, nem que seja a bordo de uma mwadia (canoa).
- Há quem diz que essa mwadia é a Luisa Diogo!
- (Risos) Nunca ouvi essa professia
* Entrevista imaginária
* Entrevista imaginária
A TOTAL, uma empresa petrolífera francesa, suspendeu a continuação do projecto de gás em Afungi, Cabo Delgado, alegando razões de força-maior (insegurança). Da decisão seguems, em jeito de ecos e raparos, algumas e breves notas.
Eco 1. Por conta das consequências nefastas que advirão da decisão da TOTAL, a classe empresarial nacional veio a terreiro, e bem alto, falou da profundeza das àguas em que se viram mergulhados os empresários, apontando para um naufrágio estimado em milhões de dólares americanos. Até aqui tudo bem (mal), mas para a posteriedade fica o seguinte reparo: alguém lembra-se de gritos quando a torneira de Afungi estava a jorrar? .
Eco 2. Ainda na senda da suspensão, quem ainda não se pronunciou é a entidade responsável pela elaboração do “Modus Operandi” do Fundo Soberano, mormente a condução da sua fase da ascultação pública. Sobre o silêncio, e para a posteriedade, vai o reparo: será que o processo de elaboração do quadro operacional do Fundo Soberano também foi suspenso?
Eco 3. Na mesma semana da decisão da TOTAL , não passou despercebido o anúncio de mais uma doação (e no quadro da ADIN, Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte). Fala-se em mais de um bilião de dólares americanos. É muita massa, mas que dá muita massada (uma delas a burocrática) e pelo histórico das doações é mais um adiamento do desenvolvimento e da afirmação da soberania. Contudo, fora este entretanto, e em jeito de raparo para a posteriedade, dói que o país não possa financiar o seu desenvolvimento com fundos da sua riqueza e no lugar ter que mendigar/depender da caridade (problemática) de terceiros.
Certamente que existem outros ecos e reparos, mas por enquanto estes são os que me ocorrem e para a posteriedade, em jeito de fecho, vai, à francesa , o reparo-maior:“Cest la vie!”.
Eram 16 horas do dia 24 de Março, numa quarta-feira do ano de 2021 quando homens fortemente armados e equipados atacaram a terra do gás e do petróleo – Palma. Um local que até a data do ataque estava amplamente guarnecido e militarizado. Mas não foi o que se viu naquele dia! A vila estava escancarada. Desprotegida e vulgarizada. Os que viveram o cenário contam como é conhecer o inferno. Ver as palavras contidas nos amuletos sagrados na prática ou sentir-se um morto ressuscitado no dia do julgamento final - mas estavam vivos – vivenciando o horror em directo!
No dia 24 de Março, todos rezavam para ter asas para voar. Poderes sobrenaturais para combater ou desaparecer. O cenário era de tristeza. Os terroristas pegaram as pessoas de surpresa, numa hora que ninguém imaginava e fardados de uma forma idêntica às Forças de Defesa e Segurança, mas com lenços vermelhos e pretos amarrados na cabeça.
Os abutres gritavam Allahu Akbar (Deus é o maior)…hoje é hoje (…) os que não tiveram sorte foram decapitados, esfolados, esquartejados, esnobados, profanados ou queimados. Entretanto, alguns conseguiram vencer o terror correndo e nadando durante dias em busca de segurança e salvação – alguns não aguentaram, morreram tentando!
Todos haviam sido surpreendidos! As pessoas corriam de um lado para outro e com várias perguntas sem resposta – como conseguiram entrar até aqui? Quem são eles? Porquê estão a fazer isso? Para a surpresa de todos, parte dos terroristas eram jovens locais. Que dias antes dedicavam-se aos serviços de moto-táxis, corte de cabelo, vendedores ambulantes cuja maioria eram provenientes de Mocímboa da Praia e nas suas discussões diziam que queriam que os terroristas entrassem em Palma para igualarem!
As cobras que entraram dias antes como lagartijas ou animais de estimação (como lobos em pele de cordeiro) pessoas famintas e que perderam tudo, afinal não passavam de inimigos camuflados e que chegaram meses antes como deslocados internos e foram acolhidos pelos populares que lhes deram água, comida, roupa, introduziram-lhe no interior das suas residências e deram-lhes uma esteira e cobertores para dormir – ou seja, abriram-lhes as portas e trataram-lhes como familiares, mas no dia do ataque pareciam que estavam possuídos ou acabavam de cair acidentalmente no nosso planeta.
O espanto é que a maior parte deles não gostavam de trabalhar e parte deles era normal negarem trabalhar nas empresas locais por alegarem que o salário era pouco e preferiam passar o tempo a jogarem futebol, dama ou cartas.
Os tipos já estavam infiltrados nas comunidades! Atacaram a próspera vila de Palma por dentro, porque dormiam, conviviam e comiam com a população e os militares, aguardando o dia do ataque chegar. Escolheram as pessoas que iriam matar e as infraestruturas que deveriam ser incendiadas. Alteraram a realidade plena de um povo abençoado e condenado por nascer e viver numa terra inundada pelos preciosos recursos – "gás e petróleo"…Esta é uma das faces da guerra em Cabo Delgado, onde quase sempre o inimigo dorme ao nosso lado!
Estive em Maputo entre os dias 25 e 27 deste mês de Abril, contra a minha vontade. A capital do meu país já não me seduz, nem quero mais sentir o cheiro que ela expele em toda a dimensão das avenidas e ruas, e dos prédios degradados. Fui porque era inevitável, o assunto requeria a minha pessoa em presença. É verdade que já fiz parte em tempos, do ram-ram desta grande metrópole, levando uma vida intensa que incluia bares noturnos onde ia ouvir música livre, com muito fumo à mistura e outras coisas que me levavam ao paraíso do céu. Mas hoje perdi a estrutura do anarquista que eu era, por isso todo este bulício, todo este cheiro de mijo alagando as acácias e as vedações e os becos dos subúrbios, as intermináveis buzinadelas, tudo isso repele-me.
Saí de Inhambane no domingo, dia 25 de Abril, transportado num autocarro da empresa ETRAGO, que podia considerar-se confortável, não fosse o inoportuno televisor colocado lá dentro e que nos é forçado a assistir, “querendo como não”. Mesmo que eu quisesse fechar os olhos para conciliar o sono e desligar-me deste castigo, seria impossível por causa do som que incomoda. A música que toca não faz parte da minha formação, pior os vídeos que vão sendo mostrados, não têm mais do que a exibição gratuita do corpo feminino. É isso que somos obrigados a assistir ao longo de uma longa viagem de quinhentos quilómetros.
Maputo não tem nada a oferecer-me, a não ser a frustração dos jovens completamente destruidos pelo álcool e pelo fumo, o desespero das mulheres sentadas na berma das ruas vendendo tudo. Dói-me sobremaneira o tratamento a que somos submetidos nos “chapas”, nos my love. Os prédios que Samora Machel nos deu estão a ruir um a um, e ninguém sabe o que será o nosso dia de amanhã, perante gritante incapacidade.
Ainda fui a tempo de ver, à entrada da cidade de Maputo, na zona de Marracuene, a nova fábrica da 2M. Lembrei-me ter visto, por via da televisão, o ilustre Tomaz Salomão na inauguração da mesma, fazendo um discurso de pompa, enaltecendo os empregos que irão para a juventude, e o milho das nossas machambas que será empregue na fabricação da cerveja. Mas o que eu não confirmo é se a 2M que se bebe em Moçambique é de boa qualidade ou não. Isso eu não confirmo nem desminto, por isso não me empolguei tanto com a intervenção dessa fugura que é membro da Comissão Política da Frelimo. A menos que volte e nos diga que a cerveja que ele mesmo propala na publicidade, é de boa qualidade.
Mas Maputo pode ser a síntese de que todo o nosso país está a ser abalroado no alto mar, em todas as vertentes. Eu desdenho Maputo, uma cidade que tem na mesma moeda um lado falso, e outro lado real. O lado falso é da Av, Julius Nyerere para lá, onde se arrotam fígados. O lado real fica mais para cá, onde a podridão nunca vai se esconder. É aqui onde vou me hospedar entre os dias 25 e 27 de Abril, convivendo com todo o fedor dos guetos sem futuro.
Maputo não tem futuro!
Era mais um dia alegre e de muita adrenalina juvenil no conhecido bairro de Laulane, na cidade de Maputo. Tantas gajas, muitas guitarradas desfilando. Belos rostos de moçoilas endiabradas. Tarde quente. Jovens tomando cervejas e fumando charutos, maconha e snifando coca. Crianças correndo de um lado para outro. As mamanas suportando a poeira nas paragens com a corrida de Fórmula 1 dos chapeiros enquanto vendiam legumes.
Os passageiros estavam tão aflitos em chegar à praia da Costa do Sol; naquele dia o sol era intenso, embora fosse uma segunda-feira, da 3ª semana do mês de Fevereiro do ano de 2020, as meretrizes do Laulane e Hulene estavam semi-nuas.
Naquele dia, uma alma era parida à força. Um jovem contabilista de profissão e consultor de uma empresa em ascensão na capital do país, deixava o mundo dos vivos, num crime que chocou a comunidade de Laulane e os amigos do finado que horas antes da morte haviam trocado copos com ele. O crime ocorreu no modo siciliano – típico da cosa nostra.
Em vida, a vítima respondia pelo nome de Stélio Filipe Budula. Um jovem promissor, mas com amizades super-estranhas. Alguns deles metidos em negócios sinuosos e protegidos pela bófia. Os contornos da sanha assassina de Stélio parecia uma cena cinematográfica nos moldes sicilianos. Mas não, era em Maputo, Moçambique – a terra das oportunidades da Pérola do Índico.
Tudo terá acontecido quando um amigo que seguia com ele na viatura disse que a mesma não tinha combustível, tendo parado num local quando era meia-noite. No dia Stélio levava 4 mil meticais no bolso, mas mesmo assim, a cabala havia sido feita; repentinamente chegou uma viatura da polícia com agentes fortemente armados que lhe pediram a documentação. O jovem apresentou os documentos.
Na ocasião, mandaram Stélio Budula seguir em frente, donde viriam a ser cercado na zona da Igreja Maposse, onde foi apertado o pescoço por dois homens e disseram que lhe queriam matar. Dadas as suas habilidades, uma vez que tinha treinamento de artes marciais, começou a lutar com os assaltantes que na ocasião disseram-lhe que vinham para acabar com ele. Stélio Budula gritou e lutou pela vida, até que se desfez dos dois agressores, tendo estes ficado com seu telemóvel, valores monetários e uma pasta com laptop que continha informações do sector laboral.
No referido dia Stélio Budula teve que recorrer à casa do pai, sediada a escassos metros do local da agressão em Hulene. No dia seguinte, o telemóvel não foi desligado e sempre que a família ligava, os criminosos diziam para que ele fosse buscar o telemóvel na Casa Branca, Matola. O telemóvel permaneceu ligado todo dia. Um mês depois, num domingo, um amigo do finado veio tirar-lhe de casa com o objectivo de fazerem um trabalho, tendo regressado no período da noite; à calada da noite o jovem Stélio saiu e regressou no dia seguinte com o comportamento totalmente alterado.
No dia 17 de Fevereiro, Stélio Filipe Budula foi perseguido por agentes da polícia e violentado com uma AKM e depois desapareceu; os telemóveis do mesmo estavam desligados até que a família começou a procurar-lhe, tendo encontrado o seu corpo na morgue do Hospital Geral de Mavalane. Não havia nenhum registo até que a família teve que recorrer a subornos para que tivesse acesso ao livro onde constava o nome da pessoa que o levou àquele local.
Foi disponibilizado o corpo. Que estava todo esfolado, com sinais de ter sido torturado, com os braços quebrados, sem dentes e o grupo fez de tudo para que na autópsia viesse que o jovem tinha sido atropelado, uma versão que não era verdadeira. No dia da morte estava com alucinações. Os passarinhos dizem que o homem teria feito uma alta consultoria empresarial para uma das famílias envolvida no calote mediático. Donde terá facturado uma boa massa e descoberto várias malandrices que não deveria ser do seu conhecimento!