Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI

Carta de Opinião

terça-feira, 01 junho 2021 07:08

Çinçeramente

"A Carta que eu Nunca te escrevi", grande êxito, é um tema do "rapper" lusófono, Boss Ac. "A Carta que eu nunca recebi ", é um triste êxito dos Correios de Moçambique. É, vão mesmo encerrar a empresa cujo o vestígio de  existência que se tem em memória, são as caixas vermelhas espalhadas um pouco por toda cidade. Sou de 89, e não me lembro de ter visto, um dia, um anúncio publicitário dessa instituição, que, com certeza, deve ter um departamento de Marketing. Çinçeramente!

 

"Mozão", a sério que é a primeira vez que uso o termo. Mas assumo que sempre gostei dele, coloca - nos mais próximos ao nosso líder. Nunca vi uma geração tão engajada, a escutar e debater aquilo que o presidente aborda. A malta pode até não ler e "xkrever"  mal, mas curtimos aos comunicados do "Mozão", finalmente começamos a perceber o que um presidente fala porque, "Mozão" usa uma linguagem Sustenta, entenda - se, "terra-terra". Botle Stores abertos das "8:00 - 17:00", OK "Mozão", restaurantes até as 21, lindo "Mozão", recolher obrigatório às 23? "Mozão", quem manda em casa é a secretária de Estado, recolher obrigatório sempre será as 20:00, e ninguém irá a praia e piscina com este frio todo, "Mozão". Não ande a dar trabalho mano Carlos, Çinçeramente

 

Acho que é chegado o momento do rapper Big L fazer um Remix daquele "beat" dele, " Polícia Camarária". Aquela música foi um hit, é um clássico do Hip Hop Moçambicano por reflictr tão bem a nossa polícia camarária. O vídeo que anda pelas redes sociais é de dar nojo. Sabe, Comiche, nutro imensa simpatia pela sua pessoa, mas por vezes me parece que ao invés de "xongar" Maputo, está interessado num cargo nas Águas de Moçambique. Ponha ordem na sua casa. Aquele cidadão sendo brutalmente arrastado para baixo dos bancos do Mahindra, enquanto nem eram 0:00, não há justificação para tal atitude, não precisamos de mais violência gratuita... "Polícia Camarária vohhitekela mintxumu hiku dumba ku hikwapaaaaa…" Çinçeramente.

 

Reinildo, "Est-ce que ça va"?. O puto está nas nuvens, teve até um encontro com "Mozão". Penso que Reinildo é o único cidadão Moçambicano autorizado a voltar para casa de madrugada,  " Mozão " deu - lhe um  passaporte diplomático, não há secretária de Estado e nem polícia camarária que lhe pode tocar... É nosso campeão, mesmo que o Lile lhe atribua um salário muito baixo para o seu rendimento em campo. O Se o puto fosse politico seria o mano Celso, não, esse  não. É  o Dominguez . Çinçeramente

 

Quando o Bono dos U2 esteve em Maputo, teve um encontro com um grupo de mulheres, antes do Show onde conheceu aquele preto com tiques de branco, o Xavier da vida de cão que não dá tesão (gajo porreiro). Nesse encontro o vocalista dos U2 conheceu mana Lulu, que deu nas vistas pelo seu palavreado inteligente e, seus penteados. Bono disse que a mana Lulu parecia personagem dos Star Wars e partiu... Nas redes sociais um perfil tem pipocado vertiginosamente, é a amiga do Bono. Mana Lulu partilha sempre dizeres motivaciobais, inteligentes e, de Bono(s), com uma foto onde aparece sempre com um penteado diferente. Parece que ela vai estar na Guerra das Estrelas em 2024. Çinçeramente.

 

Palavras chave: Mozão, Bono, Campeão, Lulu, Guerra das Estrelas, Çinçeramente, Comiche, Reinildo, Est - que çe vá?

 

Até para semana. Lembre - se, sortudo é o Reinildo, não você!

 

Çinçeramente

Era uma vez…num país situado no sudeste de África, banhado pelo oceano Índico, vizinho da Tanzânia, África do Sul, Malawi, Zâmbia e Zimbabué, chamado Moçambique.

 

Certa vez, neste país, um grupo de homens, vestidos de fato e gravata, e com poderes ilimitados de manusear as finanças públicas e fazer negócios em nome do Estado, decidiram contrair um empréstimo bilionário em nome de todos pobres, abastados e ricos do país.

 

A mola era tanta. Tanta que os banqueiros locais ficavam atônitos. Os computadores avariaram de tantos números registados diariamente. A massa era tanta, algo tinha que ser feito para descongestionar a massa que era avultada. Inspirado! O grande chefão. O "mastermind" decide contratar uma empreitada para construir umas mansões. Na procura por bons serviços, encontraram um jovem empreiteiro que até àquela data era um homem que prestava um trabalho de qualidade, mas tinha poucos ganhos.

 

A obra arrancou com um orçamento devidamente organizado e definido. O tempo correu, e a obra terminou. Chegou a hora do pagamento! Contactado o "chefão", eis que diz que não há problema, aguarde! Dias passaram…num dia inesperado, o empreiteiro, no seu sofá, assistindo televisão com a família e um "whisky barato" na mão, e repentinamente entra uma mensagem no telemóvel – pela concentração e o espírito pensativo do jovem empreiteiro, eis que o homem repara o telemóvel e vê que a mensagem era do banco, e o homem não acreditou – os zeros eram demasiados!

 

O homem ficou paraplégico – what? É isso mesmo, este todo dinheiro…meu Deus, como é muito! – Dizia o homem. Questionou-se, isto tudo é meu? Não, não…não pode ser, tenho que perguntar ao "boss" se não terá falhado na transacção – admirado! Decidiu entrar em contacto. Foi o que ele fez em seguida, ligou para o "chefão" - 'Boss, estou a ver uns valores aqui na conta, mas não era isso que tínhamos combinados' – eis que o chefe respondeu - 'calma, meu homem! Pegue seu carro e venha aqui em casa conversarmos, e assim foi'.

 

Chegando em casa do chefão, a orientação foi que compra-se mais de 50 coleman's (caixas térmicas) e anda-se com elas no carro, assim fez o homem!

 

No banco, os gestores da conta não dormiam durante aqueles dias – era tanta pressão e trabalho porque tinham que atender aquele expediente – afinal, "o dono das galinhas" não era qualquer – tinha "poderes ilimitados no governo moçambicano e no partido Frelimo".

 

As "galinhas" já depenadas e tratadas saíam diariamente em coleman's do banco para a casa do chefe – como se de um frigorífico trata-se. Foram dias e noites, o jovem empreiteiro transportando coleman's de dinheiro como se fosse peixe/carne ou bebidas, mas não era dinheiro – e o jovem empreiteiro realizando maratonas olímpicas e épicas de casa ao banco e de lá para a mansão do chefe!

 

Durante aqueles dias a agência só tinha único cliente! O dinheiro era requisitado da agência central e chegava directamente para os coleman's e levado para a casa do chefe – na rua do chefe, os vizinhos só viam a viatura a chegar e a sair, em voltas constantes durante o dia e até anoitecer, durante dias – em casa o empreiteiro já não sentava – saía pela manhã regressava na calada da noite todo cansado. A família já andava preocupada. No trabalho, os colaboradores já não colocavam os pés por lá – só dava ordens ao telemóvel!

 

Dias passaram, os coleman's tinham que ser acrescentados por que os que haviam sido adquiridos eram poucos. Foram durante vários dias, transportando "os pedaços de carne de galinha congelados" que saíam do banco para a casa do chefe.

 

Finalmente, o chefe disse chega, as galinhas que restaram na capoeira (no banco) ficam para ti pelos bons préstimos! O homem não acreditava – a massa era tanta – nunca havia visto e nem imaginava que um dia teria tanto dinheiro assim…! Que a vida mudaria num "acordar e piscar dos olhos" – foi assim que aconteceu com um empreiteiro que anos depois viriam a descobrir que estava envolvido no maior golpe financeiro já registado na Pérola do Índico e por que não do continente africano – as famigeradas "dívidas ocultas…"    

quinta-feira, 27 maio 2021 10:13

Ligações comerciais perigosas

 A família Hilmer vivia há décadas em Cabo Delgado. Eram provenientes da República da África do Sul e tinham vários negócios. Alguns duvidosos e outros não. Os Hilmers eram bons contribuintes para a economia local e não só. Com um Resort luxuoso numa das Ilhas da linda província, estabelecimentos comerciais e outros investimentos. Vivendo em Moçambique há décadas, os Hilmers também eram apoiantes do partido no poder - Frelimo. Mas quando a guerra começou a sua vida entrou em decadência.

 

Tudo começou quando agentes do Serviço secreto moçambicano intersectaram alguns jovens que frequentavam os seus estabelecimentos e apresentavam algum comportamento esquecido. Os homens transportavam valores monetários e circulavam pelas zonas afectadas pelo conflito. Capturados, alguns apontaram  August Hilmer como financiador. O caso foi bastante investigado e houve até mulheres infiltradas, uma vez que mesmo casado, August Hilmer apreciava uma boas pernocas das lindas jovens da terra do gás e do pescado.

 

Na investigação percebeu-se que Hilmer tinha uns negócios duvidosos que coincidiam com uma das coisas que mais circulava, nos distritos afectados pela – órgãos de seres humanos. Os agentes escalaram a casa de Hilmer – balearam-no num dos membros superiores e foi raptado. A sua esposa Janeth Hilmer circulou por tudo que era esquadra e hospital, mas não o encontro – o homem estava desaparecido. Foram criadas várias narrativas sobre o homem. Mas a verdade é que havia sido detido.

 

Foi um caso melindroso. O homem morreu na posse das autoridades e sem responder pelas alegações criminosas que lhe eram feitas. Pássaros da justiça argumentavam que o homem só abriu a boca para dizer que iria falar na presença de grandes chefes do país – dois presidentes! Estranhamente, foi encontrado morto num hospital, depois de passar mal quando tomava uma refeição no estabelecimento penitenciário – o homem não aguentou e o caso foi tratado a sete chaves.

 

Janeth Hilmer com vícios ligados a droga e álcool, perdeu-se mais. O medo de enfrentar a longa luta pela justiça e do nome do chefe de família que estava linchado na praça pública e corredores internacionais. Ela lutou até onde pode. Desamparada e sem permissão para que os filhos entrassem em Moçambique, Janeth Hilmer perdeu a vida doente, uma vez que desde que August, seu grande amor, já não estava no mundo dos vivos – mesmo com toda riqueza, casas luxuosas e dinheiro para fartar, ela perdeu a vontade de viver e dormia no carro– sentiu a dor da injustiça e de estar do lado dos perseguidos – mesmo com os amigos presidentes, ministros, governadores e empresários renomados que antes confraternizavam juntos, na hora H, desapareceram e ficaram a ver o filme ao vivo.

 

Na montanha das tramoias contra a família Hilmer, estava o combate por uma área turística e de exploração de recursos petrolíferos e gasoduto que haviam ocupado e tinham o título de propriedade há anos. Mas os "novos ricos" da província e do país não tinham como o retirar formalmente – então, inventaram que o homem era um financiador depravado, viciado em sangue humano e que tinha passagem pelo famigerado batalhão Búfalo, designado 32º da elite sul-africana que interveio na guerra civil Mangolé e na guerra da independência dos Nama e Herero – na Namíbia. Os inimigos vaticinaram estes factos e difundiram falsas informações sobre o homem e sujaram a sua biografia para sempre…!

 

Os Hilmers deixaram muita riqueza e com a guerra ninguém sabe quem terá se apoderado dela, uma vez que os filhos todos foram proibidos de pisarem em Mossambike!

segunda-feira, 24 maio 2021 09:31

Estou em decadência como a minha cidade

Já antes de pairar por aqui a Covid-19 eu era uma mulher sem esperança, não acreditava no futuro, nem meu nem da minha cidade. Há sinais que me chegavam de vários lados com a mensagem de que do outro lado da porta não há nada, e eu levei tempo a perceber isso. Houve insistência por via de acontecimentos nefastos, testemunhados pelo silêncio que afinal vem dos tempos, para me fazerem entrender as parábolas, então acabei sentindo que ao final do dia não haverá flores para colher.

 

Nasci aqui há mais de 70 anos e nunca vi nada de extraordinário a acontecer. A princípio virava-me contra aqueles que saíam e não voltavam mais, eu sempre pensei que aqui fosse um paraíso. Por isso era incompreensível que alguém abandonasse um paraíso, era assim como eu pensava. Mas agora percebo esse êxodo dos filhos da dita “Terra da boa gente”, têm medo de voltar. Temem sucumbir como eu, que na verdade estou em estado vegetativo.

 

Um amigo meu, cuja intimidade vem dos tempos de infância, apareceu na minha cidade vindo da Europa, depois de longos anos de ausência e disse assim, Nhambuli, quero construir um complexo de lazer para divertir a juventude aos fins-de-semana, e o lugar escolhido é um bairro que fica a  cerca de cinco quilómetros em direcção à praia do Tofo, saíndo do centro da urbe.

 

Delirei ao ouvir aquilo que me parecia uma música afinada em grandes conservatórios. O sonho em si era lindo, capaz de atrair o belo, porém a realidade veio mostrar que o homem que acabava de desembarcar com um projecto daqueles no regaço, não conhecia com profundeza o terreno que pisava, afinal movediço. Ergueu as infraestruturas que incluiam uma piscina para o público. Fez publicidade. Conquistou de facto a juventude que foi em avalanche. Badalou-se o complexo em terras outras. Vieram músicos de renome para noites de festa, em catadupa, mas pouco tempo depois a casa fechou as portas e o jovem regressou à Europa. Deixando seu sangue vertido no chão. Em vão.

 

Eu acreditava no sonho do meu amigo. Ia lá sempre passar o tempo e beber a minha cachaça e queimar o tempo num lugar retirado e tranquilo,  e chegava mesmo a mergulhar na piscina sem qualquer complexo de mostrar o meu corpo envelhecido e enrugado, eu vibro por dentro mesmo assim. Mas o sol não demorou a cair no ocaso e deixou aquelas ruinas que ainda hoje me flagelam o espírito.

 

Não era a primeira vez que eu chegava a um limite doloroso como este, mas agora o meu cepticismo quanto ao futuro da minha cidade, que entrou em decadência, contrariando os tempos de euforia da juventude, aumentou. Não acredito no amanhã, e o que me resta é ruminar as dores sem poder fazer nada. Absolutamente nada! A não ser passar o tempo a beber cachaça e ouvir a música de Elizeth Cardoso, “Eu bebo sim”, sem esperança porém, de que o sol vai nascer outra vez na minha cidade.

sexta-feira, 21 maio 2021 10:12

Uma Frelimo que não vi …e tenho saudades

Acabo de ler textos recentes (agrupados em “Corrigir para fazer melhor”)  do professor Elísio Macamo em que  debruça sobre a Frelimo, em parte  a partir do Relatório do II Congresso da FRELIMO (1968), um relatório  que o Elísio Macamo reconhece qualidade. “Um relatório impressionante”  na suas palavras. E por falar da qualidade deste relatório, lembro-me que já cruzara com algo parecido sobre os documentos da  Frente de Libertação de Moçambique.  Foi há uma década ou pouco menos, que em conversa ocasional com  um membro sénior da Frelimo (frente e partido), contara-me que o filho o questionara sobre a qualidade dos documentos produzidos pela Frente de Libertação de Moçambique.  Na verdade o filho queria saber como é que foi possível jovens, em tenra juventude, produziram documentos de tamanha qualidade, coisa que jovens de hoje, até com o dobro da idade e em melhores circunstâncias (tecnológicas e outras), não conseguem. Ainda na conversa, o citado membro confessara de que essa qualidade era conhecida e respeitada pelos outros movimentos de libertação (e não só) e de que tal foi um grande diferencial da FRELIMO na arena internacional.   Foi uma conversa interessante, mas mais interessante,   foi o que conto abaixo e que me invadia a mente, enquanto decorria a conversa. 

 

Em 2019, num meu texto ( Por onde andas, Kalungamo? ), em jeito de homenagem aos 90 anos de Marcelino dos Santos (1929-2020), outro destacado membro sénior da FRELIMO, relato um episódio de uma reunião em que participara com ele.  A reunião, decorrida em finais de Dezembro de 2006,  foi convocada por ele e eu tomara parte com outros colegas, na altura a equipe executiva que organizara, meses antes, o 1º Fórum Social Moçambicano (FSMoç), um espaço aberto de debate crítico de ideias.   Na abertura da reunião e conforme o relatado no citado texto: “Marcelino dos Santos tinha na mesa os documentos  do FSMoç, destacando o Plano Nacional. Este estava excessivamente sublinhado e com diversas cores e anotações, evidenciando que o tinha lido, como também, que vinha “chimoco”. Para a nossa satisfação, Marcelino começa a reunião  elogiando a qualidade dos documentos, admitindo  que não via há bom tempo algo parecido na pérola do Índico, o que o deixava contente (…)”. Em outro desenvolvimento da reunião, Marcelino perguntara se já havíamos lido os estatutos da fundação da FRELIMO, pois os documentos estruturantes do FSMoç (O Plano Nacional e a Carta de Princípios), tinham o mesmo espírito. 

 

E aqui, o mesmo espírito, começa a parte mais interessante e que me invadia na conversa ocasional acima relatada.  Soa até a uma confissão.  Uns anos anos (2003/2004) antes da  realização do 1º FSMoç (2006), ainda no processo de discussão da sua constituição, fora criado um Grupo de Trabalho para redigir um documento informativo/orientador sobre o FSMoç. O grupo era encabeçado por Hélder Martins, outro membro sénior e fundador da Frelimo, e este, em tempo programado, apresentou o documento, que  por sinal, e não vem ao acaso, ele lamentara a pouca ou nula  participação dos restantes membros do grupo . Este documento, em 2006, é resgatado e servido de base, a par da “Carta de Príncipios” do Fórum Social Mundial (FSM),  para a elaboração do Plano Nacional do FSMoç, o tal documento que Marcelino dos Santos elogiara a sua qualidade e dissera de que era do mesmo espírito  dos estatutos da fundação da FRELIMO. Em reunião de seguimento, em Janeiro de 2007,  Marcelino até sugerira um intercâmbio entre o partido Frelimo e o FSMoç, pois os propósitos do FSMoç eram os mesmo que guiaram a fundação da FRELIMO e que conduziram a luta de libertação nacional.

 

É desta Frelimo - a da qualidade (conteúdo) dos seus documentos -  que não vi…e tenho saudades. Por sinal,  concluo que é  a mesma Frelimo que o professor Elísio Macamo debruça  sobre ela e torce  para que seja resgatada na reunião do seu Comité Central que se avizinha. Uma vez resgatada, e para fechar, “Um outro Moçambique é Possivel!” conforme ditava  o lema que guiava o FSMoç. A Luta Continua!  

Todo cidadão decente e que presencia um crime tem o dever moral e a obrigação social e legal de colaborar com as autoridades judiciais. Pelo menos, foi neste espírito que a família Josiane decidiu colaborar com o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), uma vez que dias antes havia presenciado um esquema graúdo de venda de resultados negativos sobre a Covid-19 protagonizado por diversos funcionários da saúde a nível da cidade e província de Maputo.

 

Hamilton Josiane, chefe da família e um jovem repórter investigativo em ascensão num reconhecido órgão de comunicação social nacional que dias antes recebeu denúncias de cidadãos que vivenciaram as manobras dilatórias dos enfermeiros, médicos e técnicos de saúde que vendiam exames negativos para quê quisesse viajar para um país estrangeiro. A pessoa só precisava de ter 3.000,00 Mts ou 3.500,00 Mts.

 

Hamilton foi atrás do caso, mas para complementar a sua investigação precisava de colher provas factuais, e devido a sua vida pública não deveria ser ele a ir comprar os exames, foi neste contexto que pensou em envolver algumas pessoas próximas e que felizmente com as instruções do repórter conseguiram ter todos elementos da investigação e a história caiu que nem uma bomba atómica no seio das estruturas máximas de saúde, políticas, diplomáticas e judiciais da Pérola do índico. Algo tinha que ser feito!

 

A notícia, que foi ao ar numa sexta-feira, levou as autoridades a reunirem-se de emergência durante o final de semana porque o impacto foi maior que levou a vizinha África do Sul a rejeitar os resultados de exames negativos que os cidadãos de nacionalidade moçambicana ou não que pretendem entrar naquele território. Estava instalada uma crise diplomática entre os dois países. As movimentações não paravam. Todo mundo estava agitado. Algo tinha que ser feito. Uma equipa multissectorial foi criada. O SERNIC foi acionado. A diretoria do órgão de comunicação social que investigou o melindroso caso foi prontamente contactada e esta mostrou-se aberta a colaborar com a equipa de agentes nomeados para seguir e responsabilizar os supostos criminosos.

 

O repórter Hamilton Josiane foi solicitado pela diretoria do Jornal que explicou as vantagens de tal colaboração com os agentes do SERNIC. Hamilton foi contactado pelos agentes do SERNIC, onde foi explicar tudo que investigou e entregou as provas todas, mas como não esteve na hora da compra dos exames que confirmavam tudo, teve que explicar que envolveu outras pessoas para tal acto. Foi neste momento que a história viria a mudar totalmente.

 

Depois dos agentes ouvirem as pessoas que foram comprar os exames e recolherem as características fisionómicas das pessoas que compraram com elas os resultados falsos dos testes, eis que dias depois, o SERNIC contacta a família Josiane informando que haviam identificado alguns funcionários que batiam com as características apresentadas pelas testemunhas e que queriam a presença da mesma para confirmação ou não.

 

A família Josiane aceitou, mas antes o repórter Hamilton perguntou como seria este reconhecimento, se seria nos modelo hollywoodiano ou tinham outra forma, eis que o agente indicado disse que tinham uma outra forma de procedimento e que não havia nenhum risco. Chegou o dia combinado! Logo cedo, eles se apresentaram no SERNIC que prontamente pediu que se fizesse um compasso de espera, porque não podiam se deparar com os possíveis implicados – acto que foi acatado pela família Josiane.

 

Minutos depois foram solicitados a subir para a tal sala do reconhecimento, onde viriam a ser surpreendidos com o procedimento que em vez de proteger o denunciante, expunha o mesmo – já na sala, Hamilton foi deixado do lado de fora e a esposa foi levada pelos agentes do SERNIC  que a colocaram numa sala juntamente com as possíveis implicadas frente a frente e pediram-lhe para identificar quais delas!

 

Mediante as circunstâncias, a esposa de Hamilton ficou alarmada e limitada. (In) felizmente, nenhum dos possíveis implicados fazia parte da team que no pretérito dia venderam os exames negativos da Covid-19. Após a secção, a mulher explicou ao repórter como foi…ele não acreditou! Afinal fazem assim? questionou Hamilton – como pode-se identificar um criminoso nestes moldes – isto é inaceitável – como trabalham deste modo? Infelizmente a bondade da família Josiane havia sido molestada por acreditar que as autoridades iriam lhes proteger – principalmente numa terra onde vivemos na linha do tiro e não sabemos separar as realidades dos contos de fada, ou seja, dos mitos – ser denunciante ou testemunha e merecer da protecção da justiça em Moçambique! Talvez seja por isso que em muitos casos, a culpa morre solteira ou os inocentes morrem no xilindró fruto da falta de rigor na investigação!!!     

Pág. 104 de 167