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Carta de Opinião

quinta-feira, 12 novembro 2020 07:24

Os sonhos do "amigo do Presidente"!

Estávamos no ano de 2011. Acabava de admitir para o ensino superior, frequentando o 1º ano da licenciatura em ensino de Filosofia com habilitação em História na sala 02.7 na Universidade Pedagógica – Sede. No fundo da sala sentava um senhor, franzino, calmo e dedicado. Chamava-se Miguel Vicente, nascido no planalto dos makondes, no distrito de Mueda, província de Cabo Delgado. Miguel Vicente era um visionário humilde e que só revelou os seus tentáculos nos meados de 2014 durante o pleito eleitoral!

 

Dedicado aos estudos e com notas agressivas que arrepiavam os mais novos. Miguel Vicente tinha uma carta na manga que ninguém imaginava! Já em 2012 ele já havia previsto que o seu "amigo-irmão" da infância, de lá das matas da aldeia Namau, seria o futuro presidente da República de Moçambique. Militante apaixonado pelo batuque e pela maçaroca, sonhava em terminar a licenciatura, mestrado e doutoramento e abrir espaço para os mais novos em Cabo Delgado; terra hoje martirizada pelo terrorismo.

 

Durante horas, Miguel Vicente reflectia como tornar a sua bela terra, num local de referência local, nacional e internacional onde a juventude e não só teriam oportunidades sociais, políticas e económicas. Miguel Vicente sonhava com uma vida, onde as condições básicas de vida seriam facilmente suprimidas através da educação e emprego. Embora professor de formação e em exercício, Miguel Vicente pensava num Cabo Delgado e Moçambique diferente.

 

Miguel Vicente, bolseiro do sector da educação em Cabo Delgado, seguia um percurso académico invejável até que no quarto ano do curso foi encavilhado por um docente fazendo-o reprovar a uma disciplina, História de Moçambique. Excluído naquela disciplina nuclear e com uma nomeação a Inspector Provincial do Sector de Educação à espera, Miguel Vicente caiu doente, com o corpo paralítico e sem forças; foi transportado de Maputo para a 3ª maior baía do mundo, Pemba. Recuperou da doença e veio fazer a disciplina em falta, com sequelas da doença. Terminou a disciplina curricular e voltou a ter uma nova recaída. Teve que voltar para casa, com sinais de melhoria, quando faltavam dois dias para a defesa da monografia científica teve mais uma recaída (parece que o diabo não o queria largar). No dia da sua defesa Miguel Vicente perdeu a vida.

 

Sepultado no planalto dos Makondes, Miguel Vicente era um amigo sonhador do Presidente e foi enterrado no primeiro ano de mandato do seu grande irmão. Os sonhos de Miguel Vicente rebatiam a tese de que alguns estudos sobre as causas do terrorismo apregoam, infelizmente ele perdeu a vida dois anos antes dos terroristas destruírem sonhos e projectos de vidas como aqueles que o amigo do presidente sonhava: um Cabo Delgado próspero e diferente. 

 

Os contornos da vida de Miguel Vicente parecem terem partido junto com ele no túmulo e que homens iguais têm uma característica comum: partir cedo! Miguel Vicente, caso estivesse em vida seria um lutador incansável para estabilidade e a triste realidade que o povo que lhe viu nascer vive, hoje. Miguel Vicente deve estar a revivar-se no túmulo por tudo que está passar! O amigo do presidente que morreu com a vontade de fazer mais pelo povo…

quarta-feira, 11 novembro 2020 07:13

A prostituta que nunca quis ser

A primeira experiência que tive foi terrível, eu tinha apenas catorze anos. A minha mãe sofria de uma doença desconhecida. Estranha. Rastejava como um grande lagarto humano. Por vezes contorcia-se lembrando as serpentes em desespero. Na nossa casa o silêncio era por demais aterrador, e os meus dois irmãos mais novos chegaram a um ponto em que já não falavam. De fome. Parecia que estavam num funeral sem fim, assistindo aos seus próprios corpos descendo ao abismo. Vezes sem conta acercavam-se da mamã, abraçando-a sem se importarem com o mau cheiro que exalava. Eles também, como eu,  cheiravam mal por falta de banho.

 

Não tinhamos nada. O papá foi-se embora para onde até hoje ninguém sabe,  numa altura em que ainda não podiamos perceber as coisas, e a minha mãe nunca nos explicou sobre o desaparecimento do nosso projenitor porque ela perdeu a fala. Fomos crescendo como filhotes de uma fêmea abandonada. Incapaz. Sem provento. Pior do que isso, uma fêmea decepada por dentro, que vai passar a vida inteira sem poder caminhar na vertical. Era arrepiante ver  minha mãe erguendo o corpo como uma grande salamandra e ir a casa de banho para a satisfação das necessidades. E regressava sem se lavar adquadamente porque não tinhamos sabão. Não tinhamos nada. Absolutamente nada. Não sabendo, até hoje, como é que chegamos vivos até àquele limite.

 

Mas eu já não podia suportar mais uma situação que superava as nossas capacidades de sofrimento. Era um castigo que queimava mais que o fogo do vale de Guehena. Então, precisa urgentemente de fazer qualquer coisa. Tinha que me mover, não como a salamandra encarnada na minha mãe, mas como alguém capaz de abdicar do corpo e entregar-se aos sabujos. Era mais fácil assim, segundo o que eu pensava, do que procurar trabalho com a idade que tinha. Por isso decidi vender-me para alimentar meus irmãos e tentar mudar a vida da minha mãe.

 

Apesar de criança, eu possuía corpo de mulher. Era bonita, e já tinha consciência de que nenhum homem resistiria aos encantos da minha fisionomia. Era portador de um activo valioso, que podia ser colocado na mesa das negociações com alguma arrogância. Aliás, antes de entrar nesse carreiro do diabo, já conversava com as minhas vizinhas que tinham uma longa carreira de prostituição e elas falavam-me das manhas que era preciso ter se quisesse fazer aquele trabalho catalogado no patamar do abominável. Até porque fui relutante, porém cheguei ao ponto em que já não aguentava assistir a minha família sucumbindo.

 

Expus-me resolutamente na montra da noite, preparada para o pior, vestindo saia curta, comprada com dinheiro que pedi emprestado a uma daquelas que viriam a ser minhas companheiras do infortúnio.. Sabia que estava entrando para o inferno, porém nas circunstâncias em que vivia com a minha mãe e meus irmãos, eu precisa entrar no inferno, para dar o Céu aos meus irmãos. À minha família. Não era o prazer que me chamava, mas o dinheiro, esse metal do diabo, que sem ele não haverá pão em casa.

 

Parou ao meu lado um carro de luxo, e o homem que ia ao volante convidou-me gentilmente a entrar. Já me tinham dito, as minhas amigas, que eu valia ouro, por isso não devia brincar em serviço, ou seja, tinha que cobrar de acordo com o meu  estatuto. E foi isso que fiz. Sem saber, todavia, que a experiência seria amarga.

 

Eu era virgem, e o homem, ao aperceber-se disso, despejou sobre mim todo o seu sadismo. Estuprou-me com violência, e ainda revirou-me como carne no espeto sobre o fogo, sem se importar com o sangue que molhava os lençóis da pensão. Eu gemia de dor, e ele castigava-me mais a cada gemido.

 

Voltei para casa de madrugada. Esfarrapada no corpo e na alma. Revoltada. Decidida a nunca mais voltar a entregar-me às noites. Mas era mentira. Nesse dia a luz materializou-se na nossa casa. Comemos pão com salada e peixe frito, como nunca o tinhamos feito. Os meus irmãos tomaram banho com sabão. E a minha mãe, sem me dizer nada, chorou por perceber tudo. E comeu a comida da ignomínia. Mas tinha que comer para sobreviver.

 

Tornei-me profissional depois de todas as dores. Depois de toda a vergonha. A minha ferramente era o corpo. Usado e abusado, mas era uma importante jazida de rubis esgotáveis. Comprei um apartamento. Levei minha mãe ao tratramento médico na África do Sul, de onde regressou curada. Os meus irmãos estão formados, com a universidade paga pelo meu corpo subjugado. Mesmo assim, continuo a ser uma cobra, apesar das vestes de púrpura que me cobrem.

Decorrente do frenesim das eleições americanas, e porque disputadíssimas, a media internacional, e não só, tratou de concluir que a América estava profundamente dividida. E no caso, o estar dividido, dito como se fosse um assunto da mais alta gravidade. Confesso que até fiquei com dúvidas em relação a democracia como um bom modelo de governação, pois não cola  que uma eleição com a maior participação de sempre e disputadas até ao período de compensação fosse dada como um problema de “saúde pública”.  O contrário – que um dos concorrentes ganhasse com uma larga maioria –  é que seria o saudável? Talvez sim, porque, supostamente, significasse que a América saísse mais unida.   

 

Afinal, em democracia, e porque divide, os altos níveis competitivos entre concorrentes não é saudável e deve ser combatido. E eu convencido de que os resultados das eleições americanas estavam a demonstrar a vitalidade da sua democracia, e quiçá a da democracia pelo mundo fora. Puro engano. E ainda mais, sendo a América a democracia mais consolidada do mundo e com o actual inquilino da Casa Branca aos berros, chego a triste conclusão de que em democracia o equilíbrio não é salutar e que o melhor é que uma das partes ganhe e quanto possível de forma retumbante.

 

Neste contexto, diante do equilíbrio entre os candidatos  e na sequência a ideia de que tal (uma América competitiva) não é saudável, pois divide,  e de que a união só com uma maioria retumbante, dei por mim a pensar no processo eleitoral  moçambicano que fora na mesma diapasão é mais maduro.  Aliás, uma escassa vitória eleitoral entraria em choque com a constituição, particularmente com  um dos objectivos fundamentais do Estado moçambicano  que é a consolidação da unidade nacional.

 

Em síntese, para fechar, o equilíbrio eleitoral não é bem-vindo  (em Moçambique e pelos vistos  nem na América) e  que uma vitória retumbante é um imperativo nacional de união e tal decorre, na Pérola do Índico,  de um comando constitucional.  Neste aspecto, os Estado Unidos da América  deviam colher a experiência moçambicana para que em próximas  eleições não brinquem em serviço.

quinta-feira, 05 novembro 2020 07:16

Samira: a moçoila que foi "burlada" amorosamente

Samira Mussa cresceu em Quelimane, concretamente no bairro da Vila Pita, mas as suas origens encontram-se na cidade de Nampula, onde nasceu e perdeu logo cedo os pais vítimas de uma doença prolongada.

 

Linda, com um olhar sensual, discreto e muito fugida. Samira professava a religião islâmica, onde era aplaudida por todos como a futura "grande estudiosa do islão". As vestimentas da Samira eram típicas da religião e das mulheres nativas do mundo árabe que mesmo diante do feroz sol e calor da terra dos Bons Sinais ela estava toda coberta. Na escola era um exemplo a seguir. Embora com estas todas qualidades, Samira era apaixonada por Ramiro, um rapaz honesto e de uma família humilde, com tudo para dar certo num relacionamento a sério com a Samira.

 

Ramiro, jovem com sonhos elevados, conseguiu admitir ao ensino superior, numa das maiores universidades do País, com sede em Maputo. O namoro de Samira e Ramiro passou a ser alimentado por longas juras de amor ao telemóvel e promessas de um futuro diferente. O contrato entre o casal era de que, independentemente das circunstâncias, todos os meses de Dezembro, Ramiro tinha de voltar à casa para estar com sua amada.

 

A promessa foi por quatro anos cumprida, mesmo diante do fogo cruzado ao longo da Estrada Nacional (EN1) entre as forças governamentais e os homens armados da Renamo; Ramiro arriscava tudo para ver a sua amada, entretanto tudo viria a mudar quando a família da Samira conseguiu inscrever a mesma na Universidade Católica de Moçambique (UCM) delegação de Nampula. Um ano estudando em Nampula, Samira mudou totalmente, passou a gostar coisas mundanas. 

 

Os pedidos que ela fazia para o seu amado Ramiro já não eram correspondidos. Na Universidade as colegas mudavam de telemóveis mensalmente. Tinham namorados que traziam as mesmas de carros particulares e nos intervalos alugavam a lanchonete e nos finais de semana estavam em discotecas e grooves nas praias de Ilha de Moçambique e Chocas Mar. O Ramiro andava atolado na busca por uma oportunidade de emprego na capital. Finalmente, Ramiro conseguiu. Samira já estava num outro relacionamento com um cidadão da Guiné Conacri.

 

No início, o relacionamento entre Samira e o novo companheiro dela era uma maravilha. Ele bancava todas as contas. Ramiro conseguiu um emprego, onde em seis meses foi nomeado assessor da instituição, tinha um bom salário e condições para viver. Sem saber da situação da amada, Ramiro pagava as mensalidades da Samira e enviava alguma mesada para a mesma. Levou muito tempo, Samira já não queria mais nada com o Ramiro. Samira recebeu um pedido do companheiro guineense para viverem juntos.

 

A vida seguia normalmente. Samira engravidou. Os negócios do companheiro corriam bem. Ela abandonou a formação e passou a dedicar-se mais ao companheiro e no desenvolvimento familiar. O projecto de vida entre eles estava bem encaminhado. De repente, tudo mudou. O companheiro guineense da Samira virou violento. Eram socos no estômago ao pequeno-almoço, chapadas na cara ao almoço e pontapés ao jantar. Com sete meses de gestação, o guineense deu um soco na barriga da Samira e pediu divórcio, mas na esperança de manter o lar, a Samira suportou tudo.

 

Dois meses depois veio ao mundo, o filho do casal. Com os valores acumulados por debaixo do colchão e nas contas bancárias da Samira. Dias depois o companheiro contou que o pai havia perdido a vida em Conacri e que ele precisava viajar para lá. O companheiro guineense exigiu que ela entregasse todo valor porque ele tinha que seguir com a viagem para o inteiro e eis que a mesma levantou o valor e facultou-lhe. Lá foi ele para Conacri.

 

Com a estória do falecimento contada em Moçambique, enquanto em Conacri esperava-se um noivo para o casamento do ano. Que esteve em Moçambique a trabalhar e a organizar o futuro da família. Em Moçambique, o guineense havia enrolado uma família larga e contado uma longa-metragem. No noivado com a Samira, ele apresentou uns conterrâneos como parentes legítimos que o representaram. No entanto, o visado em questão tinha outros planos.

 

Chegou em Conacri casou-se com uma companheira de longa data. As fotos do evento foram parar  nas redes sociais. Com a legenda em francês diziam "mariage de l'année...Le couple de l'année" que significa "casamento do ano... o casal do ano". Do modo como a farsa estava montada, até o mesmo bloqueou nas redes sociais a esposa moçambicana. Entretanto, o mesmo "esqueceu-se" que as irmãs da Samira acompanhavam sua "maratona digital" e dada às facilidades que o facebook permite ultimamente, as irmãs traduziram a legenda acima mencionada e descobriram que o cunhado havia casado com uma outra mulher e que não havia perdido nenhum parente, mas sim acabava de acrescentar mais uma parente.

 

Sem alternativas, as irmãs comunicaram a Samira da situação, agoniada e desesperada. Samira mergulhou-se em lágrimas com um filho recém-nascido. O companheiro guineense não mantinha contacto com a mesma num intervalo de seis meses. Estranhamente, neste período, alguns conterrâneos do guineense começaram a pressionar a moçoila para abandonar a casa e deixar tudo que estava no interior da residência.

 

Samira resistiu e passando algum tempo o guineense voltou sem nada. O valor todo que haviam acumulado para o projecto familiar, acabava de ser torrado no novo matrimónio contraído em Conacri. Em território moçambicano, o guineense procurou a Samira para reatar a relação. A pressão e as bofetadas eram tantas que mesmo no momento de reconciliação o guineense chegou embriagado, pegou num copo e atingiu a Samira na testa. Em pouco tempo a face estava toda inchada. Foram dias de agonia e dor.

 

Diante do sofrimento, Samira abandonou a residência e voltou para sua casa. Entretanto, dias depois o guineense regressou a sua procura; queria amantizar com ela. Uma mulher que ele havia burlado sentimentalmente. A Samira hoje vive traumatizada e diante de várias lembranças, sempre aparece na memória dela o seu amor de Quelimane, Ramiro, o jovem rejeitado na altura por não ter melhores condições que o guineense.

Nos últimos meses um dos  pratos fortes da media é a corrida eleitoral para a presidência americana. Hoje, 3 de Novembro, é o dia decisivo. Fora as candidaturas o que me chama atenção é a “ausência” do homólogo americano do nosso presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), o Cheikh Abdul Carimo.  Daí a pergunta se alguém o terá visto ou,  e é possível, que tal figura nem exista na América.

 

Faço a pergunta porque não estou habituado a ver eleições em que os organizadores não são os principais protagonistas ou mesmo em  que os candidatos sejam os principais protagonistas. Por cá, a  Pérola do índico, a CNE/STAE é o centro das eleições. Esta é mais famosa   do que os candidatos e de longe dos respectivos manifestos eleitorais. Por cá o debate político não é entre os candidatos, mas sim no seio da CNE/STAE. E como se não bastasse,  posso estar enganado, a nossa CNE/STAE dá a sensação de funcionar como se fosse o Colégio Eleitoral para os americanos que é quem, na verdade, elege o presidente da nação mais poderosa do mundo.

 

Em síntese, e para terminar (hoje tenho pouco tempo por força das eleições americanas) passo a concluir, e a propósito do título do texto,   que o homólogo americano  da nossa CNE/STAE é o Colégio Eleitoral e este, pelo que eu saiba,  não anda desparecido. Isto, pelo menos, até ao anúncio dos resultados da eleição americana, pois, em caso de derrota de Trump (candidato republicano), é bem possível que o homólogo americano do Cheikh Abdul Carimo ( ou figura similar) venha a terreiro e passe a ser a figura principal. Afinal de contas, e mesmo a fechar, a Pérola do Índico também consegue  interferir nas eleições  da nação mais poderosa do  mundo. Aliás, há poucos dias, tal não deixou dúvidas  quando uma comitiva de Biden  (candidato democrata) foi impedida de fazer campanha no Estado de Texas, uma espécie de província de Gaza  para os republicanos.

O comandante Assane Amisse Gavana tem uma história de vida semelhante a de tio António (cantada pelo músico ango-congolês Sam Mangwana). Gavana nasceu em 1951, no distrito de Muidumbe, na martizada província de Cabo Delgado. Com uma infância marcada por sofrimento e cavalgadas coloniais. Em 1968, Assane Amisse Gavana, foi incorporado nas fileiras das Forças Populares de Libertação de Moçambique (FPLM), tendo passado a sua mocidade nas matas a lutar pela independência nacional.

 

Com a independência alcançada em 1975, um ano depois teve que voltar ao teatro operacional combatendo na Guerra... No calor intenso provocado pela guerra, em 1989 Gavana, com o objectivo de proteger a sua família, não resistiu e foi refugiar-se na Tanzânia; onde ficou por uma década.

 

Em Moçambique, o "comandante" Assane Gavana, passou a viver na aldeia 1º de Maio, no distrito de Nangade. Na busca pelo reconhecimento dos seus feitos, nos 10 anos de luta de libertação nacional e 13 da Guerra Civil, o comandante Assane Gavana, apresentou-se às autoridades para que passasse a gozar do estatuto de antigo combatente como os outros compatriotas; ele submeteu documentos para o efeito na Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN) de Nangade, na ocasião foi orientado a dirigir-se para Mueda, donde foi dito para seguir para Pemba.

 

O "comandante" viveu diversos ping-pongs; a isso acrescente-se a falta de assistência e acompanhamento que o fizeram desistir de fazer parte da prestigiosa lista de antigos combatentes que mensalmente aufere algumas somas graciosas e em datas festivas caminham em grupo todos devidamente uniformizados. O "comandante" Gavana durante o seu percurso militar chegou a operar em diferentes frentes: Ilha de Moçambique (Nampula), Chitengo, Canda e Sakuzo (Sofala), Manica, Inhambane e Boane (Maputo).

 

Nas longas conversas lamuriosas do "comandante" com os jovens que combatem os terroristas nos distritos de centro e norte de Cabo Delgado, Gavana conta a sua epopeia heróica mas com dor de quem se sente excluído da marca de herói nacional oficial, vivendo na clandestinidade; e a juventude toma-o como um simples compilador de historietas, um velho lunático e embriagado. 

 

Quando o "comandante" Gavana conta que já zarpou de emboscadas do inimigo como um "fantasma" e viu a sua vida por um fio, os jovens com a farda e uma espingarda rasgam-se de risos. A verdade é que ele, é um combatente esquecido e deixado para trás pelos seus. O "comandante" Gavana até tem dado dicas aos jovens como combater os al-shababs que aterrorizam a província há três anos. 

 

Gavana dá educação patriótica aos jovens militares que defendem a soberania nacional e alguns militares que passaram acreditar nele imaginam como seria a motivação e a dedicação do mesmo, caso fosse reconhecido e não esquecido.