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Redacção

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O Banco de Moçambique procedeu esta quinta-feira (30) ao lançamento do Sistema de Transferência e Liquidação Interbancária em Tempo Real, designado por RTGS (em inglês, Real-Time Gross Settlement). Através do RTGS, são liquidadas as operações realizadas nos mercados monetário, cambial e de capitais, com destaque para as operações de política monetária.

 

Esta plataforma proporciona às instituições financeiras um instrumento apropriado para a gestão de liquidez, tornando-se numa ferramenta que minimiza os riscos de pagamento, o que constitui um dos principais objectivos da sua implementação.

 

Segundo o Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, o lançamento da plataforma enquadra-se num projecto amplo de modernização do Sistema Nacional de Pagamentos (SNP), que privilegia a digitalização dos meios de pagamento, cujo processo iniciou em 2000.

 

Neste contexto, em 2017, o Banco Central decidiu lançar o concurso internacional para a provisão de uma plataforma RTGS (ganho pela empresa Montran Corporation), que responde aos desafios cada vez mais crescentes e complexos impostos pela evolução dos sistemas de pagamentos e pela demanda dos utilizadores dos serviços de pagamentos.

 

Segundo Zandamela, para além de garantir maior rapidez nas transacções realizadas, na medida em que permite a disponibilização de fundos em tempo real, a plataforma RTGS também tem a vantagem de agregar, simultaneamente, várias funcionalidades, com destaque para a melhoria da gestão de liquidez pelos bancos, bem como a garantia da autenticidade dos remetentes das instruções de pagamento através da autenticação digital.

 

“Possibilita a utilização de várias moedas nas transacções. Contém sistema de monitoria do funcionamento da plataforma através de alertas visuais e sonoros de anomalias nas transacções. É ajustado ao padrão de qualidade ISO 20022 que permite aumentar a automatização, redução de fraudes e efectuar análises com maior qualidade”, acrescentou o Governador.

 

Por seu turno, o Presidente da Associação Moçambicana de Bancos (AMB), Teotónio Comiche, disse que a plataforma desafia as instituições para uma monitorização mais afincada das transacções, em razão da materialidade e dos seus intervenientes, para mitigação dos riscos de branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo e proliferação de armas de destruição em massa, num contexto em que decorrem esforços para ajustamento da legislação e procedimentos com vista a alinhá-los com as boas práticas internacionais no combate à utilização abusiva e indevida do sistema financeiro.

 

“Neste contexto, mostra-se oportuna e necessária a aceleração do processo de revisão da Lei do Sistema Nacional de Pagamentos, para corresponder, de forma eficaz, ao aumento de transacções financeiras nacionais e internacionais, acompanhar os avanços tecnológicos significativos e a sofisticação da oferta de produtos e serviços financeiros”, afirmou Comiche.

 

O evento aconteceu 11 dias depois de o Banco de Moçambique anunciar oficialmente que todos os bancos comerciais e instituições de moeda electrónica do país concluíram a integração na nova rede única nacional de pagamentos electrónicos, fornecida pela Euronet, cinco anos depois de um apagão no sistema fornecido pela Bizfirst.

 

Com a nova plataforma, o Banco Central diz que a Sociedade Interbancária de Moçambique (SIMO) passa a estar alinhada com os padrões internacionais dos sistemas de pagamentos, que impõem a tecnologia ‘contactless’ para todos os cartões bancários e terminais POS, que “oferece maior segurança e comodidade para os utentes”. (Evaristo Chilingue)

Começam a sair dos “armários”, os potenciais pré-candidatos à Presidência da República, a nível do partido Frelimo, organização política que governa o país desde a independência. O primeiro a “apresentar-se” aos membros do partido no poder é o antigo Primeiro-Ministro de Armando Guebuza, Alberto Vaquina, que nesta quinta-feira relançou a sua obra “as lágrimas do veterano”, lançada pela primeira vez, em 1999.

 

Numa cerimónia repleta de políticos (com destaque para o antigo Chefe de Estado, Joaquim Chissano, e a Presidente da Assembleia da República, Esperança Bias) e uma pequena franja de académicos e escritores, Alberto Vaquina dedicou todo o seu discurso (perto de 40 minutos) para “homenagear” e “agradecer aos anónimos” que marcaram a sua vida e nada disse acerca do livro, que era o principal motivo do encontro.

 

O antigo Primeiro-Ministro (que ocupou o cargo entre 2012 e 2014) começou por homenagear a mulher que, não sendo sua mãe de sangue, lhe deu leite materno, pois, a sua mãe não dispunha deste líquido, que serve de alimento para qualquer ser humano nos seis primeiros meses de vida. Seguiram-se a família, seus professores e o pai do escritor Ungulani Ba Ka Khosa (Esaú Francisco Cossa) que, na qualidade de Administrador do distrito de Eráti, na província de Nampula, emitiu o Atestado de Pobreza, que permitiu Vaquina frequentar o ensino secundário.

 

Depois de homenagear os “anónimos”, seguiu a homenagem aos “camaradas”, a começar por José Pacheco, antigo Ministro da Agricultura, a quem chamou de “meu primeiro governador”, tendo seguido Abdul Razak e Mouzinho Saíde, que o considerou seu primeiro Director Provincial da Saúde, em Nampula.

 

Homenageou os antigos Chefes de Estado, Joaquim Chissano e Armando Guebuza, pelo facto de Chissano considerar Alberto Vaquina como seu pai (pai de Chissano chama-se Alberto), enquanto Guebuza “tolerou” o seu comportamento: “eu sou muito irrequieto”, disse Vaquina. Também foram homenageados Eduardo Mulémbwe, Raimundo e Marina Pachinuapa, Eduardo Nihia e esposa, Mariano Matsinha, Óscar Kida, Hélder Injojo, Alberto Nkutumula, Lázaro Mathe e o jornalista Salomão Moyane.

 

Estranhamente, o nome do Presidente da República, Filipe Nyusi, não foi citado e nem de algum membro do seu Governo ou mesmo da Comissão Política do partido Frelimo. Aliás, a começar o discurso, Vaquina disse que Armando Guebuza e esposa foram convidados ao evento e que não se fizeram presentes “por razões devidamente justificadas”. Mas nada disse sobre o Presidente do seu partido.

 

O antigo membro da Comissão Política da Frelimo afirma que todos os homenageados fazem parte da sua caminhada e pediu-lhes que continuassem no mesmo barco. Aliás, intencional ou não, no seu discurso, Alberto Vaquina sempre enfatizou a parte étnica (macuas) e chamou António Taipo, pai de Helena Taipo, antiga Ministra do Trabalho, seu pai.

 

Aos jornalistas, Vaquina, que actualmente desempenha as funções de deputado, disse que nunca esteve desaparecido dos holofotes e que o evento servia apenas para o relançamento do livro e não para o seu posicionamento como pré-candidato às presidenciais.

 

“Nunca estive desaparecido, eu estava na minha aldeia a tomar conta da minha família. A tarefa que faço é a que tenho em cada momento histórico. Ao longo deste período, a minha tarefa era tomar conta da minha família e estar com aquelas pessoas perto de onde eu nasci para com elas aproveitar estar presente porque durante muito tempo estive ausente”, disse o político, médico e também escritor.

 

“Eu não tenho que estar desaparecido e nem tenho que me reposicionar, porque eu estou onde eu quiser estar em Moçambique e faço aquilo que eu quiser dentro daquilo que é legalmente autorizado”, disparou, considerando preconceituosa a pergunta sobre as suas intenções políticas neste momento de transição no partido Frelimo.

 

“Aí está um preconceito. Eu estou a lançar um livro e você pensa que me estou a reposicionar porque eu fui pré-candidato. Imagine que eu queira, qual é o impedimento? Não sou moçambicano?”, questionou, afirmando que a sua obra defende a união, com vista à construção do país que queremos. “Mas, para tal, devemos vencer os nossos preconceitos e unirmo-nos em torno do mesmo propósito, que se chama Moçambique”.

 

Lembre-se que Alberto Vaquina foi, a par de Filipe Jacinto Nyusi e José Pacheco, pré-candidato da Frelimo às presidências de 2014, todos indicados pela Comissão Política do partido. Vaquina perdeu na primeira volta com 19 votos, atrás de Luísa Diogo com 48 votos e Filipe Nyusi com 91 votos. Luísa Diogo, tal como Aires Ali, foram candidatos de última hora.

 

Com as eleições internas para a escolha do candidato da Frelimo às presidenciais de 2024 a se aproximarem, também crescem as expectativas sobre quem sucederá Filipe Nyusi no trono, tal como começam os movimentos dos possíveis presidenciáveis. (A. Maolela)

O ministro da Economia e Finanças de Moçambique afirmou ontem, no parlamento, que a nova Tabela Salarial Única (TSU) travou o pagamento de horários extraordinários na Administração Pública, mas assegurou que estas remunerações serão integralmente liquidadas.

 

“A TSU criou uma descontinuidade na trajetória de pagamento das horas extra estabelecida em 2021”, afirmou Max Tonela.

 

Tonela falava na Assembleia da República em resposta a perguntas do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido, sobre as queixas dos professores por falta de pagamentos correspondentes aos horários extraordinários.

 

Aquele governante admitiu que a introdução da TSU gerou um esforço financeiro gigantesco para as contas públicas, prejudicando o empenho na regularização do pagamento do trabalho suplementar.

 

“Houve um esforço significativo para regularizar situações pendentes que se acumularam entre 2018 e 2021”, declarou.

 

Para o exercício económico de 2021, o Governo implementou medidas de controlo no sistema de pagamento, "adaptando a prática de pagar horas extraordinárias realizadas no mês corrente no mês subsequente”, enfatizou.

 

Destacando que o pagamento de horas extraordinárias tem sido um problema persistente que o Governo vem gerindo ao longo dos anos, o ministro da Economia e Finanças sustentou que a liquidação destes encargos está sujeita a um “cuidadoso processo de verificação, validação e disponibilidade orçamentária”.

 

Max Tonela assinalou que o recurso ao trabalho extraordinário é motivado pelo défice de recursos humanos em alguns setores da Administração Pública, nomeadamente educação e saúde.

 

Outro fator é a necessidade de melhoria do processo de controlo interno das instituições para evitar a acumulação sistemática de passivos, acrescentou.

 

Nesse sentido, prosseguiu, a prioridade é dada ao pagamento do salário base e outros suplementos.

 

Na segunda-feira, a ministra da Educação e Desenvolvimento Humano de Moçambique, Carmelita Namashulua, disse que o pagamento de horas extraordinárias aos professores está a ser feito de “forma gradual”, assegurando que os atrasos no pagamento não estão a afetar os exames finais.

 

“O processo está a acontecer. À medida que a inspeção vai verificando, vai validando e gradualmente os pagamentos estão a ser feitos”, disse a jornalistas Carmelita Namashulua, à margem do ato que marcou o início dos exames finais do ensino secundário em Moçambique, com cerca de 1,6 milhões de alunos em avaliação.

 

A ministra da Educação moçambicana falava depois de, na última semana, um grupo de professores de uma escola em Maputo anunciar um provável boicote aos exames devido a falta de pagamento das horas extraordinárias.

 

Várias classes profissionais, entre as quais professores, médicos e profissionais de saúde, queixaram-se, nos últimos meses, de atrasos e cortes no pagamento de salários e horas extraordinárias desde que foi introduzida a TSU, que está a ser alvo de forte contestação e críticas de vários segmentos do aparelho do Estado moçambicano.

 

A TSU foi aprovada em 2022 com o objetivo de eliminar assimetrias e manter a massa salarial do Estado sob controlo a médio prazo, mas o arranque, além de atrasos no pagamento, fez disparar os salários em cerca de 36%, de uma despesa de 11,6 mil milhões de meticais/mês (169 milhões de euros/mês) para 15,8 mil milhões de meticais/mês (231 milhões de euros/mês).(Lusa)

A Vulcan efectuou nesta segunda-feira, 27 de Novembro, a entrega de material desportivo diverso ao Centro Desportivo e Recreativo de Moatize (CDRM), que prepara a sua participação no Campeonato Nacional de Futsal, em Maputo, que está a ser organizado pela Federação Moçambicana de Futebol.

 

A competição vai decorrer entre os dias 2 a 17 de Dezembro, e o apoio é composto por dois pares de equipamentos completos, meias, quatro bolas, e 20 chuteiras para todo o plantel, nesta que é a primeira aproximação entre a Vulcan e o CDRM.

 

Para falar sobre esta iniciativa da Vulcan, Reges Tauelia, supervisor da área Social, deixou ficar a seguinte mensagem.

 

“Este apoio tem como objectivo promover o desporto a nível de Moatize, criando condições para que o CDRM nos represente condignamente no mais alto nível do futebol de salão no país”, explicou Tauelia, e acrescentou: “esta ajuda surge no contacto que fomos mantendo com a direcção do CRDM e com base nas necessidades que tinham disponibilizamos estes equipamentos”, concluiu.

 

Já o Presidente do CDRM, Romualdo Brito, mostrou-se satisfeito pelo facto da sua equipa ser a única a representar a província de Tete, e congratulou a Vulcan pelo apoio. “Agradecemos a Vulcan por ter garantido todo o equipamento aos jogadores da CDRM. Foi um esforço muito grande de toda equipa para termos a chance de participar no campeonato em representação de toda província. Gostávamos de igual forma, convidar mais parceiros para abraçar essa causa, porque no final é Moatize e a nossa província no geral que sai a ganhar”, finalizou Romualdo Brito.

 

Lembrar que, para além desta entrega, a Vulcan tem vindo a apoiar este tipo de iniciativas voltadas a promoção do desporto, através do Programa de Desporto Comunitário, que até ao momento já abrangeu mais de mil adolescentes e jovens de Moatize e Cateme, em diversas modalidades.(Carta)

O Banco de Moçambique alerta que continuam a agravar-se os riscos e incertezas sobre o aumento de preços de bens e serviços (ou inflação). Na envolvente externa, para além do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, a instituição destaca as incertezas quanto ao prolongamento e alastramento do actual conflito no Médio Oriente (entre Israel e Hamas) e os seus impactos sobre os preços internacionais do petróleo e de bens alimentares. A nível interno, o Banco Central aponta a pressão sobre as finanças públicas e as incertezas quanto à evolução e efeitos de eventos climáticos extremos.

 

A informação foi divulgada esta quarta-feira pelo Banco de Moçambique, depois da última reunião do Comité de Política Monetária (CPMO) da instituição. Devido aos referidos riscos e incertezas, o Banco de Moçambique decidiu manter a taxa de juro de política monetária, taxa MIMO, em 17,25%.

 

O Banco Central alerta também que a pressão sobre o endividamento público interno continua a aumentar. O endividamento público interno, excluindo os contratos de mútuo e de locação e as responsabilidades em mora, situa-se em 334,4 mil milhões de Meticais, o que representa um aumento de 59,3 mil milhões em relação a Dezembro de 2022.

 

O CPMO continuará a monitorar a evolução dos riscos e incertezas associados às projecções da inflação e tomará as medidas que se mostrarem adequadas ao contexto. A próxima reunião ordinária do CPMO está marcada para o dia 31 de Janeiro de 2024. (Carta)

A Associação das Indústrias de Óleos e Produtos Afins (AIOPA) propôs mais cinco anos de isenção do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) na comercialização do óleo, sabão e açúcar, introduzida pelo Governo em Dezembro de 2020.

 

Segundo o Secretário-geral da AIOPA, João Matlombe, a prorrogação visa proteger as indústrias que operam num ambiente económico competitivo. A intenção da AIOPA foi apresentada esta semana à Comissão do Plano e Orçamento da Assembleia da República, no contexto de uma auscultação em torno da isenção em causa.

 

Durante a audição, Matlombe defendeu a prorrogação da isenção com o facto de o sector estar a enfrentar desafios de vária ordem, com destaque para o alto preço de aquisição das matérias-primas, a fragilidade das indústrias já existentes influenciada pela Covid-19, associado a incentivos nos países vizinhos que contribuem para a concorrência desleal com a indústria nacional.

 

Citado pelo “Notícias”, o Secretário-geral da AIOPA disse também, aos deputados, que se não houver a prorrogação há possibilidade do encerramento das indústrias e, consequentemente, a redução de postos de trabalho e o impacto nas famílias. Sem isenção, disse a fonte, a comercialização daqueles produtos vai encarecer e aumentar o custo de vida dos moçambicanos, o que vai criar a desnutrição crónica e a pobreza.

 

Além disso, Matlombe destaca a necessidade de estabilização e recuperação dos investimentos realizados pelas empresas do ramo, salientando que, sem esses recursos, as fábricas estarão condenadas à falência. De acordo com o periódico, a vice-presidente da Comissão do Plano e Orçamento, Cremilde Muchanga, disse, por sua vez, que os deputados vão avaliar a proposta apresentada, numa altura em que, com o levantamento da isenção do IVA, o Governo prevê arrecadar 1.6 mil milhão de Meticais em receitas ao Estado em 2024.

 

As transmissões do açúcar, óleos alimentares e sabões gozam de um benefício fiscal consubstanciado na isenção do IVA, incluindo os respectivos bens e prestações de serviços, matérias-primas, produtos intermédios, peças, equipamento e componentes para a indústria nacional com a aprovação da Lei n. ̊ 16/2020, de 23 de Dezembro, com o prazo de 31 de Dezembro de 2023.

 

Em Outubro de 2022, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) realizou um estudo que comprovou que o sector está de facto a beneficiar-se da isenção do IVA, contrariando uma análise feita pelo Centro de Integridade Pública (CIP), que dava conta de que a medida não trazia benefícios, principalmente aos consumidores (pois, os produtos eram caros) e ao Estado que estava a ser lesado na colecta do Imposto. (E. Chilingue)

 

“A actuação da Polícia da República de Moçambique [PRM], nos processos eleitorais, tem sido ajustada à medida que se consolida o processo democrático no país, portanto, não actua de forma arbitrária [autoritária], mas derziva da lei que estabelece as regras e circunstâncias da sua intervenção”.

 

Esta é a mais nova narrativa trazida pelo Ministro do Interior para justificar a carga policial verificada durante as principais fases do processo eleitoral (campanha eleitoral, votação e nas marchas de repúdio dos resultados), que resultou no assassinato de cerca de uma dezena de cidadãos, nas autarquias de Chiúre, Nacala-Porto, Nampula, Gurué e Quelimane.

 

Lembre-se que, no princípio deste mês, o governante disse, no Parlamento, que não houve uso excessivo e desproporcional da força durante as VI Eleições Autárquicas e que a Polícia “apenas garantiu a ordem e segurança públicas, protegendo todas as organizações políticas, criando condições de segurança e tranquilidade para que cidadãos exercessem e exerçam as suas funções sem nenhuma perturbação”.

 

Pascoal Ronda defendeu a sua nova narrativa, ontem, na Assembleia da República, durante a sessão de perguntas ao Governo, que termina esta quinta-feira. O governante respondia, assim, uma pergunta colocada pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), que pretendia saber por que razão a Polícia se intromete sempre nos processos eleitorais.

 

Para o Ministro do Interior, nada aconteceu durante as eleições autárquicas que justificasse o repúdio e nem a contestação popular à actuação da Polícia, apesar de haver evidências que apontam para o assassinato, com armas do Estado, de cidadãos indefesos e desarmados.

 

Ronda diz não ter vislumbrado nenhuma irregularidade cometida pela Polícia e muito menos testemunhou a prática de actos que consubstanciem intromissão das forças policiais em prejuízo da liberdade dos cidadãos, da transparência e da justiça dos resultados, apesar de existirem evidências ilustrando a Polícia a carregar urnas e a introduzir mais de um boletim de voto nas urnas, com recurso ao voto especial.

 

“Pelo contrário, a Polícia da República de Moçambique sempre manteve a sua presença em todas as assembleias de voto com objectivo de garantir a protecção e segurança do processo de votação, bem como a efectivação do gozo das liberdades dos cidadãos”, defende Ronda, para quem a PRM pauta pelo rigor, respeito pela legalidade, isenção, imparcialidade, objectividade e apartidarismo, tomando em atenção o interesse público.

 

“Desde a introdução da democracia multipartidária, em 1990, a PRM sempre assumiu, com responsabilidade, o seu papel de garantir a protecção do processo eleitoral em todas as suas fases e em todo o território nacional”, reitera o mais novo membro do Governo, atirando a culpa aos membros da Renamo que saíram às ruas, dois dias depois das eleições para reclamar vitória, nas autarquias da Cidade de Maputo, Matola, Quelimane, Nampula, Angoche e Nacala-Porto.

 

“Estas manifestações [passeatas] desviaram a sua finalidade, alterando a ordem, segurança e tranquilidade públicas, gerando violência, que culminou com a destruição de património público e privado, para além de impedir a livre circulação de bens”, acrescenta o Ministro do Interior, defendendo que a Polícia “cumpriu com zelo e profissionalismo a sua missão de garantir a ordem e segurança pública em todas as fases do processo eleitoral”.

 

Refira-se que o clima de tensão causado pelas VI Eleições Autárquicas continua a caracterizar o quotidiano do país, com a Polícia a estacionar blindados em algumas Comissões Provinciais de Eleições, na Comissão Nacional de Eleições, no Conselho Constitucional e em algumas avenidas adjacentes à Presidência da República. (A.M.)

A Renamo vai interpor uma providência para suspender a repetição das eleições autárquicas, marcada para 10 de dezembro, em quatro municípios moçambicanos, enquanto o Conselho Constitucional não responder ao seu pedido de aclaração, anunciou hoje o partido.

 

“Nós vamos submeter uma providência porque não se pode avançar para as eleições no dia 10 enquanto o próprio Conselho Constitucional (CC) ainda não apreciou o pedido de aclaração do acórdão submetido pela Renamo, portanto, depois de se responder a isso, haverá condições para se avançar com as próximas eleições”, disse à comunicação social Venâncio Mondlane, candidato da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) para a cidade de Maputo, à porta da Procuradoria-Geral da República, minutos depois de submeter novas queixas-crime contra os juízes conselheiros do CC.

 

Na terça-feira, o Conselho de Ministros de Moçambique aprovou o decreto que determina 10 de dezembro como a data para repetição das eleições autárquicas nas mesas dos quatro municípios em que o processo não foi validado pelo CC.

 

Além da resposta ao pedido de aclaração, Venâncio Mondlane referiu que só haverá condições para a realização das eleições depois de o CC responder também ao recurso extraordinário para anulação do acórdão que validou o escrutínio de 11 de outubro, um documento que será submetido até sexta-feira.

 

“Se o Conselho Constitucional fosse rápido e nos respondesse isso ainda hoje ou amanhã, claramente que se calhar até íamos a tempo de fazer essas eleições no dia 10”, referiu Venâncio Mondlane, acrescentando que tudo agora depende da celeridade do órgão em responder aos pedidos do partido.

 

A Renamo submeteu hoje à Procuradoria-Geral da República queixas-crime contra os sete juízes conselheiros do CC, dois dos quais indicados pelo partido, acusando-os de “usurpação de funções” ao anularem sentenças dos tribunais judiciais distritais, uma decisão que, segundo Mondlane, só pode ser tomada pela Assembleia da República.

 

“Tem de haver responsabilização desses sete senhores que compõem o plenário do Conselho Constitucional”, referiu Venâncio Mondlane, frisando que o órgão “usurpou funções da Assembleia da República para invalidar, sem fundamento, decisões que os tribunais tomaram”, extravasando o seu campo de atuação e competências.

 

O maior partido da oposição moçambicana anunciou ainda a apresentação, na quinta-feira, de queixas-crime contra membros do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) e contra outros 17 membros da Comissão Nacional de Eleições (CNE), entre os quais o presidente do órgão, Carlos Matsinhe.

 

Na segunda-feira, a Renamo submeteu duas queixas-crime contra o comandante da polícia, Bernardino Rafael, e contra o presidente da Televisão de Moçambique (TVM), Élio Jonasse, acusando-os de uso de força desproporcional e de manipulação da opinião pública durante as eleições, respetivamente.

 

Depois de várias semanas de ausência, os deputados da Renamo voltaram hoje ao parlamento, mas surpreenderam a reunião plenária apresentando-se de preto e com inscrições de protesto face ao que classificam de “megafraude” nas eleições de 11 de outubro.

 

O CC proclamou, na sexta-feira, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, vencedora das eleições autárquicas em 56 municípios, contra os anteriores 64, com a Renamo a vencer quatro, e mandou repetir eleições em outros quatro.

 

Segundo o acórdão aprovado por unanimidade, a Frelimo manteve a vitória nas duas principais cidades do país, Maputo e Matola, em que a Renamo se reclamava vencedora, apesar de cortar em dezenas de milhares de votos o total atribuído ao partido no poder.

 

O CC é o órgão de última instância da justiça eleitoral com competência para validar as eleições em Moçambique.

 

As ruas de algumas cidades moçambicanas, incluindo Maputo, têm sido tomadas por consecutivas manifestações da oposição contra o que consideram ter sido uma “megafraude” no processo das autárquicas, fortemente criticado também pela sociedade civil e organizações não-governamentais.(Lusa) 

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, avançou hoje que foram detidas no último ano 31 pessoas indiciadas por crimes de rapto no país, numa altura em que se regista uma nova vaga destes crimes em Maputo.

 

Ao intervir na abertura do conselho coordenador do Ministério do Interior, em Maputo, Filipe Nyusi deu conta da redução dos casos de raptos, em seis casos, bem como frustração de três casos, da detenção de 31 indivíduos indiciados por este crime, da desativação de cativeiros e do resgate de duas vítimas.

 

"Os criminosos não são fabricados pela polícia, a sociedade gera esses criminosos, mas quando aparecem, a tarefa da polícia é estar de prontidão e resolver”, afirmou Nyusi.

 

“Desde o último conselho coordenador, há sensivelmente um ano, o setor registou notáveis avanços”, disse o chefe de Estado moçambicano na mesma intervenção, dando conta de uma “redução da criminalidade em 666 casos”, o que, considerou, “não é pouco”.

 

Acrescentou que as forças policiais concretizaram no último ano o “desmantelamento de 951 quadrilhas que se dedicavam ao cometimento de crimes com recurso a arma de fogo”, em todo o país.

 

A cidade de Maputo vive há algumas semanas uma nova onda de raptos, sobretudo de empresários, com registo de dois luso-moçambicanos visados no último mês e suspeitas de envolvimento de agentes ligados à investigação policial neste tipo de crime.

 

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) português confirmou hoje à Lusa que o Consulado-Geral de Maputo está a acompanhar a tentativa de rapto de um cidadão luso-moçambicano, ocorrida na segunda-feira, o segundo caso num mês.

 

“O Consulado-Geral em Maputo acompanha a situação da tentativa de rapto de um cidadão luso-moçambicano. As autoridades moçambicanas tomaram conta da ocorrência”, referiu fonte oficial do MNE, em resposta a uma pergunta da Lusa.

 

Um comerciante luso-moçambicano foi ferido a tiro por desconhecidos que o tentaram raptar na segunda-feira, no centro da cidade de Maputo, crime frustrado graças à intervenção da população.

 

“Quatro homens munidos com uma pistola e uma arma AKM tentaram raptar um comerciante ao princípio da noite de segunda-feira, na cidade de Maputo, e perante a resistência da vítima e a intervenção de populares, acabou baleado na perna”, disse Leonel Muchina, porta-voz da polícia na capital de Moçambique.

 

O rapto foi impedido por populares, que arremessaram pedras contra os autores do crime, tendo estes fugido, acrescentou Muchina.

 

Num outro caso, um grupo de três homens armados raptou na manhã de dia 01 de novembro uma jovem luso-moçambicana de 26 anos, quando esta saía da sua casa em Maputo, cerca das 07:50 locais (05:50 em Lisboa), com a intenção de se dirigir a um ginásio, segundo o porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM), Lionel Muchina, em declarações à Lusa no dia do rapto.

 

“A situação está a ser acompanhada através dos postos diplomáticos e consulares em Maputo, que estão em contacto com a família”, disse anteriormente fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros à Lusa.

 

Neste caso, a jovem luso-moçambicana permanece em cativeiro até hoje.

 

Na semana passada, seis pessoas foram detidas por alegada participação numa tentativa de rapto do empresário moçambicano Juneid Lalgy, no dia 08 de novembro, avançou anteriormente o Serviço Nacional de Investigação Criminal (Sernic).

 

O porta-voz do Sernic na província de Maputo, Henrique Mendes, disse que os seis homens simularam um acidente de viação para abalroar a viatura de Lalgy e tentar raptar o empresário.

 

No dia 17 deste mês, um empresário moçambicano ligado ao ramo automóvel foi raptado por homens desconhecidos na cidade de Maputo.

 

A Confederação das Associações Económicas (CTA), a maior associação patronal do país, defendeu no início de novembro, face a esta nova onda de casos, penas de prisão “mais severas” contra raptores e sem possibilidade de pagamento de caução para travar estes crimes.(Lusa)

 

Tudo indica que a brigada anti-raptos anunciada em Dezembro de 2020 pelo Chefe de Estado para estancar este tipo de crime, que flagela o país desde meados de 2011, já não é a solução para combater este negócio milionário, na República de Moçambique.

 

Ontem, o Ministro do Interior propôs a realização de uma nova reflexão em torno dos raptos, agora envolvendo não só agentes da Polícia, do SISE (Serviço de Informações e Segurança do Estado) e do SERNIC (Serviço Nacional de Investigação Criminal), mas também magistrados judiciais e do Ministério Público, deputados e governantes.

 

Pascoal Ronda lançou esta proposta, na Assembleia da República, quando respondia a uma pergunta da bancada parlamentar da Renamo, que pretendia saber das acções em curso para combater o crime de raptos. Refira-se que, nesta semana, um empresário, proprietário de uma loja de venda de tecidos, escapou de um sequestro, dias depois de outro empresário, do ramo de transportes, também ter sido vítima de uma tentativa frustrada de rapto.

 

“O crime de raptos, apesar dos esforços do Governo para o seu combate, sugere uma nova reflexão com envolvimento de todos os actores, nomeadamente, do poder legislativo, executivo e judicial para resolver o problema de forma mais adequada, apropriada e eficaz”, propôs o titular da pasta do “Interior”.

 

A proposta do Ministro do Interior chega quase três anos depois de o Presidente da República ter anunciado a criação de uma unidade anti-raptos, com objectivo de combater este tipo de crime. “Não nos podemos dar por satisfeitos enquanto se registarem raptos com o intuito de extorsão, criando um clima de insegurança na classe empresarial. Como Governo, não descartamos e instruímos já a possibilidade de criar uma unidade anti-raptos”, afirmou Filipe Nyusi, durante o seu discurso sobre o Estado Geral da Nação.

 

Três anos depois, a referida unidade ainda não foi criada e o Director-Geral do SERNIC, Nelson Rego, diz ainda estar em curso a elaboração de estudos e estratégias visando introduzir a referida unidade especial. Sem data e sem qualquer luz no fundo do túnel, Pascoal Ronda introduz um novo medicamento: uma reflexão conjunta.

 

Segundo o Ministro do Interior, o Governo tem incrementado acções de prevenção e combate aos raptos, resultando na redução dos casos criminais e no aumento de detidos em conexão com o crime. “Entretanto, preocupa-nos o facto de, amiúde, parte dos detidos verem a sua medida de coação alterada”.

 

Isto é, no entender de Pascoal Ronda, a Polícia prende os supostos raptores e os Tribunais soltam-nos. Aliás, esta é uma guerra antiga e sempre colocou o judiciário em rota de colisão com a Polícia. A Polícia sempre acusou os Tribunais de não colaborarem no combate ao crime organizado, mas o judiciário justifica as suas decisões com o facto de a Polícia não apresentar provas que incriminem os supostos raptores.

 

O Ministro do Interior disse ainda que o Governo privilegia também acções de cooperação com os países da região, tanto na troca de informações, como na realização de operações conjuntas e simultâneas. Acrescentou ainda que a PRM e o SERNIC têm planos específicos de combate à criminalidade, que se traduz na redução significativa dos índices do crime à escala nacional, tal como na permanente purificação de fileiras.

 

Refira-se que, nas contas da Confederação das Associações Económicas de Moçambique, o crime de raptos já rendeu mais de 2.2 mil milhões de Meticais até 2022. “Fizemos referência a 2.2 mil milhões de Meticais, do que foi extorquido, não temos o número vertiginoso relativo à exportação e fuga de capitais temendo esse fenómeno”, afirmou Agostinho Vuma, durante a realização do IX Conselho de Monitoria do Ambiente de Negócios (CMAN), que decorreu em Fevereiro deste ano. (A.M.)

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