A capital do país esteve ontem paralisada em mais um dia de manifestações, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, em repúdio aos resultados eleitorais, sequestros, raptos e violência policial. Tal como na segunda-feira, no primeiro dia das manifestações, alguns serviços públicos estiveram encerrados, enquanto outros funcionaram a “meio-gás”, com alguns utentes entrando e saindo de forma tímida.
Logo cedo, as ruas estavam desertas, com poucos transportes públicos em circulação, incluindo comboios. Algumas padarias estavam abertas, mas com filas longas para a compra de pão. Nas artérias da cidade de Maputo, movimento de pessoas e viaturas era fraco, com a Polícia a tomar de assaltos os principais pontos de aglomeração.
Entre os serviços públicos que estiveram encerrados estão a Direção de Identificação Civil, na Av. Eduardo Mondlane, onde os cidadãos se surpreenderam ao encontrar as portas fechadas, pois, os funcionários não conseguiram se fazer ao local de trabalho.
Os Hospitais Central de Maputo e Geral de Mavalane também registaram pouca afluência e os poucos utentes que lá foram não sabiam se seriam atendidos. “Eu fui ao Hospital Central por ser a maior unidade sanitária do país e tinha a certeza que estaria a funcionar em pleno. Eu vivo no bairro da Malhagalene e só saí de casa porque sinto muitas dores no pescoço desde a noite de quarta-feira”, disse Inês Nhachingo.
“Tivemos que reorganizar nossas escalas em razão da greve. Os que entraram na noite de quarta-feira vão ter que ficar até as primeiras horas da quinta-feira e, mesmo quem não costuma fazer turnos à noite, terá que entrar na escala para garantir que os pacientes recebam atendimento a tempo inteiro”, explicou um funcionário do Hospital Geral de Mavalane.
Já o Serviço Nacional de Migração (SENAMI) funcionou a “meio-gás”. Até às 12h00, registava pouca afluência de utentes, pelo que alguns funcionários colocavam “o papo” em dia por falta de trabalho. A Direção do Registro Criminal abriu às portas, mas esteve às “moscas”. Poucos utentes deslocaram-se à instituição para tratar seus documentos.
O ensino também esteve paralisado. Quase todas escolas da capital do país (públicas e privadas) estavam encerradas. Em algumas escolas, os alunos foram informados de que não teriam aulas, mas em outras não houve quaisquer informações, pelo que foi possível ver alunos uniformizados tentando chegar à Escola. (M. Afonso)
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) divulgou, na tarde de ontem, os resultados finais das eleições de 09 de Outubro, que dão vitória à Frelimo e ao seu candidato presidencial Daniel Chapo, com mais de 70% dos votos, a maior vitória eleitoral de sempre do partido no poder, na história da democracia multipartidária moçambicana.
Num escrutínio considerado como o mais fraudulento da história de Moçambique, os dados divulgados pelos órgãos eleitorais indicam que o PODEMOS (constituído por dissidentes da Frelimo) será, a partir de Janeiro de 2025, a segunda maior força política do país, relegando a Renamo (o actual maior partido da oposição) para a terceira posição, enquanto o MDM deverá contentar-se com o quarto lugar.
“Carta” revisitou as listas concorrentes à Assembleia da República para saber quem serão os novos legisladores, com destaque para os deputados do PODEMOS, o novo maior partido da oposição no xadrez político moçambicano. As listas compulsadas pela “Carta” indicam que, na cidade de Maputo, o partido liderado por Albino Forquilha conseguiu eleger Carlos Tembe e Rute Manjate, como deputados, em face dos dois lugares atribuídos pela CNE.
Já na província de Maputo, onde o PODEMOS conseguiu seis lugares, serão representantes da população daquele círculo eleitoral, os cidadãos Sebastião Mussanhane, António Acácio, Alfredo Pelembe, Ivandro Massingue, Aristides Novela e Simião Nuvunga.
Na província de Inhambane, onde o PODEMOS conseguiu um mandato, Nalfa Fumo será a responsável por representar a população daquela província, no Parlamento, enquanto, em Sofala, foram eleitos deputados do PODEMOS, Chico Tomo Mapenda e Valter Mabjaia.
No círculo eleitoral de Manica, Mangaze Manuel e Forquilha Albino Forquilha são os únicos eleitos deputados pelo PODEMOS, tal como Mário Manguene, na província de Tete. Cacildo Basílio Muicocome, Fenando Jone e Almério Tchambule são os deputados do PODEMOS pelo círculo eleitoral da Zambézia.
Em Nampula, o maior círculo eleitoral do país e o único em que o PODEMOS, de acordo com a dupla CNE/ STAE, conseguiu eleger 10 deputados, deverão tomar posse, em Janeiro de 2025, os cidadãos Armando Joaquim, Luísa António, Dias Coutinho, Gonçalves Macuácua, Atija Mussa, Bonifácio Suliva, Tome Nantar, Jafete Eurico, Adelino Puaneleque e Gabriel Macuelas.
No círculo eleitoral do Niassa, foi eleito deputado pelo PODEMOS o cidadão Ângelo Jaime, enquanto pela província de Cabo Delgado entram Elísio Muaquina, Zainaba Andala e José Suail José.
Esta, sublinhe-se, é a lista (provisória) dos deputados eleitos pelo PODEMOS, estreante no Parlamento, que poderá sofrer alterações, caso os juízes do Conselho Constitucional, decidam alterar os resultados produzidos pela dupla CNE/STAE, tal como se verificou nas eleições autárquicas de 2023.
Sobreviventes do MDM
Enquanto o PODEMOS entra, pela primeira vez, no Parlamento, com o estatuto de maior partido da oposição, o MDM, que se estreou na Assembleia da República, em 2009, mantém-se na chamada “Casa do Povo”, mas como a quarta maior força política, com apenas quatro deputados, fruto de dois mandatos conseguidos em Sofala e outros dois conquistados em Nampula.
Com menos dois deputados que no presente mandato, o MDM deverá contar, no próximo Parlamento, com Sílvia Cheia (mandatária nacional) e Maria Fernando, em Sofala, e Leonor Souza (Secretária-Geral do partido) e Fernando Bismarque (porta-voz da actual bancada parlamentar), em Nampula.
Sublinhe-se que será com base no próximo Parlamento que será composta a próxima CNE e o próximo STAE, entidades responsáveis pela gestão dos processos eleitorais, tal como o próximo Conselho Constitucional, órgão máximo da justiça eleitoral no país. (A.M.)
Moçambique parou, esta semana, para se despedir do advogado Elvino Dias e do mandatário do PODEMOS, Paulo Guambe, brutal e covardemente assassinados na passada sexta-feira, na capital do país.
“Carta” visitou, na tarde desta terça-feira (22), o mercado do bairro da Malhangalene, conhecido como "Pulmão", na cidade de Maputo, local frequentemente visitado pelo advogado Elvino Dias e de onde partiu, na última sexta-feira, antes de ser crivado de balas junto com Paulo Guambe, mandatário do PODEMOS.
Em conversa com os vendedores daquele mercado, que preferiram não se identificar por temer represálias, procuramos entender o que terá acontecido na fatídica noite e quem era a cidadã que estava à boleia do mandatário de Venâncio Mondlane, candidato à Presidente da República.
Relatos colhidos pela nossa reportagem indicam que Elvino Dias e Paulo Guambe estavam numa das barracas do “Pulmão”, onde o advogado costumava beber. No entanto, por volta das 23h00, uma das trabalhadoras da barraca pediu boleia para ela e sua prima, a cidadã identificada por Adássia Macuácua.
Sublinhe-se que Adássia, segundo vendedores do mercado, era também uma das funcionárias das vendedeiras, sendo que chegara àquele local duas semanas antes do bárbaro assassinato. O emprego, dizem, foi oferecido pela prima.
Ao chegarem ao carro, a jovem (prima da Adássia), cuja identidade não nos foi revelada, recebeu uma chamada do seu local de trabalho, solicitando o seu retorno para atender clientes que a exigiam. No momento, ela mandou a prima aguardar no carro e prometeu voltar em breve. Mas, chegando ao local de trabalho e percebendo que levaria mais tempo que o previsto, decidiu ligar para a prima para orientá-la a sair do carro e retornar à barraca, com a promessa de que encontrariam outra forma de voltar para casa.
“Depois de várias chamadas, a moça achou estranho a prima não atender e imaginou que pudesse estar com o celular no silêncio e, por isso, não ouviu tocar. Aquela moça não conhecia Elvino Dias porque era nova aqui no mercado. Ela não tinha nem duas semanas de trabalho. A prima tinha acabado de arranjar emprego para ela e, logo a seguir, aconteceu tudo isso”, lamentou uma das fontes.
A fonte conta ainda que, ao circular a informação sobre a morte da jovem, o mercado ficou chocado, pois, tratava-se de alguém que estava apenas no lugar errado e na hora errada. "Tivemos informações de que a moça levou tiros nos braços e que o seu estado de saúde era estável. Ficamos chocados quando disseram que ela perdeu a vida. Ela nem tinha recebido o primeiro salário do emprego que a prima arranjou para ela", relata, sublinhando que Adássia tem aproximadamente 40 anos de idade. Ninguém sabe onde ela vive.
Questionamos se era comum um cliente solicitar ser atendido por uma funcionária específica em detrimento de outra e tivemos a seguinte resposta: “Neste mercado, isso é normal. Existem clientes que, ao chegarem a uma barraca e não encontrarem as pessoas que os atendem habitualmente, preferem ir a outro lugar. Portanto, isso é comum. Existem clientes exigentes e, por hábito, essas meninas acabam fazendo as vontades desses clientes. Por isso, a moça teve que voltar, mas ela não sabe se a prima não atendeu as suas chamadas porque já havia ocorrido o assassinato do advogado ou porque não ouviu o celular, pois ligou uns 10 minutos depois e nesta zona há muito barulho à noite, especialmente aos fins-de-semana", frisou.
Entretanto, as fontes contam que a prima de Adássia Macuácua ainda não conseguiu retornar ao trabalho e se culpa por ter colocado a prima naquela situação. "É muita coisa que passa na cabeça daquela moça, porque Elvino era das suas relações e a prima mal o conhecia. Inclusive, foi ela quem interveio para que a prima conseguisse a boleia que a levou ao hospital, onde está internada até hoje".
Na terça-feira, o Hospital Central de Maputo (HCM) garantiu que Adássia Macuácua está viva e fora do perigo, colocando um ponto final ao boato que inundava as redes sociais, dizendo que a sobrevivente havia perdido a vida. No entanto, o Director de Urgência do HCM, Dino Lopes, escusou-se a dar mais detalhes sobre a identidade da jovem e dados de sua residência. “Não posso fornecer esse tipo de informação por motivos que não vou explicar. A saúde da paciente está estável e em breve terá alta clínica”, explicou.
Já, na quarta-feira, enquanto o país se despedia de Elvino Dias e Paulo Guambe, o Presidente da República deslocou-se ao HCM para visitar a sobrevivente e, vestindo a capa de Polícia, pôs-se a interrogá-la. Ao Chefe de Estado, Adássia disse que não conhecia Elvino Dias e Paulo Guambe e que pediu boleia aos dois, porque o marido estava a demorar ir buscá-la.
Recorde-se que a Polícia da República de Moçambique (PRM), na Cidade de Maputo, disse, logo pela manhã de sábado, que o crime ocorreu em decorrência de uma discussão entre Elvino Dias e os assassinos, relacionada a assuntos conjugais. (Carta)
Moçambique voltou, ontem, a ser banhado de sangue, terror e luto, gerado pela PRM (Polícia da República de Moçambique), nas suas mais diversas especialidades, incluindo a Polícia de Trânsito. Balas verdadeiras e gás lacrimogénio voltaram a se fazer ouvir e sentir nas cidades de Maputo, Matola, Nampula e Nacala-Porto.
O dia, uma quinta-feira de sol na capital do país, até começou calmo, com milhares de pessoas a marcharem pacificamente em quase todas cidades do país. Em alguns casos, com escolta da Polícia, mas o cenário viria a mudar momentos ainda no final da manhã, com a Polícia a lançar gás lacrimogénio e disparar balas verdadeiras nas cidades de Nampula e Nacala-Porto, na província de Nampula. Pelo menos quatro pessoas perderam a vida, em Nampula, e uma em Nacala-Porto.
Tal como na segunda-feira, a “proatividade” da Polícia, incluindo agentes do Serviço Nacional de Investigação Criminal, em querer dispersar os manifestantes, acabou resvalando em violência, com os manifestantes a lançar pedras e garrafas aos agentes da Polícia. Igualmente, colocaram barricadas nas estradas e queimaram pneus, como forma de retaliação.
A Polícia, mais uma vez, retaliou e, além de usar balas de borrachas e gás lacrimogénio, recorreu às balas verdadeiras, disparando de forma indiscriminada, causando vítimas mortais nas cidades de Nampula, Nacala-Porto e no município de Boane, província de Maputo.
Na capital do país, a situação ganhou contornos alarmantes após o anúncio dos resultados das eleições de 09 de Outubro, que dão vitória a Daniel Chapo e seu partido, a Frelimo, com mais de 70% dos votos. As Estradas Nacionais Nº4, Nº 1 e Nº2 foram literalmente bloqueadas, nos bairros Luís Cabral, Fomento, 25 de Junho, George Dimitrov e Cumbeza.
As avenidas Eduardo Mondlane, 24 de Julho, Joaquim Chissano, Julius Nyerere e FPLM, na Cidade de Maputo, também foram palcos de manifestações, com centenas de jovens a tomarem o controlo das vias. Postes de iluminação, painéis publicitários e contentores de lixo voltaram a ser derrubados pelos manifestantes, que iam gritando o nome do candidato presidencial Venâncio Mondlane, como o presidente eleito pelo povo.
Ao cair da noite, na Estrada Circular de Maputo, concretamente no Município da Matola, um grupo de manifestantes começou a incendiar pneus e a montar barricadas, impedindo a circulação normal dos carros. A Polícia foi obrigada a intervir para dispersar a população.
Dados ainda não confirmados pelas autoridades indicam que a Polícia matou pelo menos seis pessoas em todo país, sendo quatro na cidade de Nampula, uma em Nacala-Porto e outra em Boane, província de Maputo. Na segunda-feira, pelo menos uma pessoa morrem com balas da Polícia.
Refira-se que as manifestações continuam esta sexta-feira, em todos bairros e distritos do país, conforme reiterou ontem Venâncio António Bila Mondlane, candidato presidencial responsável pela convocação da greve, em repúdio aos resultados eleitorais, aos raptos e sequestros. (M. Afonso)
O Presidente do Podemos, Albino Forquilha, espera que a Comissão Nacional de Eleições (CNE) entregue o poder a quem realmente o conquistou, a fim de evitar a convocação de novos protestos após a divulgação dos resultados das eleições do dia 9 de Outubro.
Comentando à saída do velório de Paulo Guambe sobre as suas expectativas quanto aos resultados eleitorais, Forquilha espera que a justiça eleitoral seja feita.
“Esperamos que a CNE tenha efectivamente avaliado as impugnações que apresentamos nos distritos e que, por sua própria consciência, reconheça que os resultados divulgados não correspondem à verdade. Que possam, de facto, promover a transparência eleitoral, pois, isso é essencial para a pacificação do país. Não adianta dizer que devemos ser serenos e esperar pelas decisões das instituições competentes”, destacou Forquilha.
O Presidente do partido PODEMOS acrescentou que espera que essas instituições busquem a justiça e considerem o que o povo moçambicano expressou. “Se cumprirem com esses pressupostos, que são de lei, ninguém convocará protestos; ninguém lutará por algo que não conquistou. Portanto, o contrário sempre criará problemas”, enfatizou.
Forquilha também declarou que espera que a CNE tenha consciência de que não deve repetir o que ocorreu em 2023 e que entregue o poder a quem realmente o conquistou. “A nossa luta é para que a soberania permaneça nas mãos do povo, e não nas mãos de quem conta os votos ou daqueles que têm armas para silenciar. Se assim for, continuaremos sempre a lutar.” (Carta)
O Arcebispo da Arquidiocese de Maputo, Dom João Carlos Nunes, defendeu, esta quarta-feira, em Maputo, que a violência que vitimou Elvino Dias e Paulo Guambe, mandatários de Venâncio Mondlane e PODEMOS, é um sinal de que o mal continua a ameaçar a sociedade, o país e, em particular, a capital do país.
Numa homilia proferida na manhã de ontem, durante o velório do advogado Elvino Dias, crivado de balas na noite da passada sexta-feira, em Maputo, Dom João Carlos Nunes disse que o desafio, neste momento, é “não cedermos ao medo ou indignação, mas alimentar a nossa esperança com fé”.
Para o líder da Igreja Católica, na província e cidade de Maputo, a sociedade não pode ficar indiferente ao sofrimento que afecta as nossas famílias, “especialmente quando se trata de vidas interrompidas de forma tão brutal”.
“Devemos estar juntos nestas causas porque todos temos este dom que Deus nos deu: a vida. Precisamos de estar juntos para construirmos uma sociedade de paz, de tolerância e de respeito pela vida humana”, afirmou, sublinhando que temos a missão de renovar o nosso compromisso com a justiça, com a verdade e, sobretudo, com a paz.
Acompanhe, a seguir, os excertos da homilia proferida na manhã desta quarta-feira pelo Arcebispo de Maputo, na Paróquia Nossa Senhor do Rosário, no bairro de Laulane, durante a despedida do advogado Elvino Dias.
Nenhuma palavra vai transmitir aquilo que vai na nossa alma. Estamos aqui, como uma família cristã, para nos despedir do nosso irmão Elvino Dias, cuja vida foi interrompida de forma tão cruel e inesperada. Estamos materialmente esmagados por este golpe. Custa-nos acreditar, mas temo-lo diante dos nossos olhos e temos de aceitar. É que a barbaridade e a violência que levou a sua vida nos choca profundamente e nos faz questionar a presença do mal no meio de nós. O mal existe aqui na terra. Unimo-nos à família, queremos apresentar as nossas sinceras condolências e unirmo-nos de coração à sua imensa aprovação nesta hora. Vamos nos manter firmes, porque ele, Jesus Cristo, não nos abandona.
Apesar de a sua vida ter sido breve, o justo é considerado abençoado aos olhos de Deus. A morte de um justo não é um castigo, mas um sinal de que Deus o escolheu para uma vida plena junto dele. A vida tem um grande valor imensurável e ninguém pode tirar a vida de ninguém. Por isso, a igreja e todos os cristãos dizem que tirar a vida é um pecado grande.
Elvino Dias, apesar da sua partida precoce, viveu uma vida cheia de significados. Como advogado, trabalhou incansavelmente em prol da justiça, certamente, defendendo os direitos dos mais vulneráveis e empenhando-se na promoção do bem comum. Se calhar, terá sido por isso que não foi bem entendido e nem acolhido.
O facto de ter partido antes de alcançar a excelência física, não diminui a plenitude da sua vida e nem o significado enorme que ganhou a sua vida. O que importa para Deus não é a duração dos nossos anos, mas a retidão das nossas acções e a profundidade do nosso compromisso com o bem e, disso, o nosso irmão Elvino tinha e tinha bastante.
O valor de uma pessoa não se mede pela quantidade de dias vividos, mas pela qualidade de amor e justiça e verdade que semeou no coração de muitas pessoas. A justiça que Elvino defendeu é agora reconhecida por Deus também na eternidade.
A violência que o vitimou é um sinal de que o mal continua a ameaçar a nossa sociedade, o nosso país e a nossa cidade. Não sermos ingénuos, o mal existe! A mensagem de Jesus nos desafia a não cedermos ao medo ou indignação, mas alimentar a nossa esperança com fé. Temos que renovar o nosso compromisso com a justiça, com a verdade e, sobretudo, com a paz. A morte de Elvino nos desafia a dar continuidade a esta missão.
Não podemos ser indiferentes ao sofrimento que afecta tantas famílias nossas, especialmente quando se trata de vidas interrompidas de forma tão brutal. Devemos estar juntos nestas causas porque todos temos este dom que Deus nos deu: a vida. Precisamos de estar juntos para construirmos uma sociedade de paz, de tolerância e de respeito pela vida humana. (Carta)
Cerca de 20 mil pessoas do distrito de Chibuto, na província de Gaza, no sul de Moçambique, enfrentam insegurança alimentar devido aos impactos do fenómeno climático El Niño, disse o administrador local.
“Neste momento há algumas comunidades em que já há bolsas de fome por causa da falta de chuva que tivemos na última campanha agrária e também na segunda época não tivemos uma boa precipitação. Então, isso condicionou para que a essas alturas começássemos a registar algumas bolsas de fome pelas comunidades”, disse Sérgio Moiane.
O administrador indicou que a situação afeta principalmente a zona norte do distrito, nos povoados de Godide, Alto Changane e Changanine, abrangendo mais de 20 mil pessoas. “A alternativa é que as populações comecem a usar o gado que têm, comecem a usar os animais de pequeno porte para poder vender e estão [a vender]”, explicou Sérgio Moiane, apelando ainda para o plantio de culturas tolerantes à seca como forma de minimizar a escassez de chuvas causada pelos efeitos do fenómeno El Niño.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.
O El Niño é uma alteração da dinâmica atmosférica causada por um aumento da temperatura oceânica. Este fenómeno meteorológico está também a provocar chuvas torrenciais na África oriental, que já causaram centenas de mortos em vários países, como Quénia, Burundi, Tanzânia, Somália e Etiópia. (Lusa)
Está, novamente, a causar indignação e repulsa a brutalidade demonstrada, mais uma vez, pela Polícia da República de Moçambique (PRM) nas manifestações desta segunda-feira, em Maputo, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio António Bila Mondlane para repudiar o assassinato do advogado Elvino Dias e do cineasta Paulo Guambe, mandatários do candidato e do PODEMOS, respectivamente.
Em conferência de imprensa concedida esta terça-feira, em Maputo, a Renamo repudiou os actos de violência protagonizados pela Polícia, através da sua Unidade de Intervenção Rápida (UIR – Polícia antimotim) na capital do país, sobretudo nos bairros de Maxaquene e Urbanização.
Para o maior partido da oposição, os actos presenciados na segunda-feira colocam em causa a dignidade humana e minam a paz social. “O que presenciamos é uma afronta não só aos princípios democráticos, mas também à dignidade humana. Cada acto de violência é uma ferida aberta em nossa sociedade e, essas feridas, se não tratadas, podem transformar-se em cicatrizes que levarão gerações para curar”.
Segundo a Renamo, é necessário lembrar que as pessoas que se fazem aos protestos não são inimigas do Estado, mas “cidadãos que, por meio da manifestação pacífica, buscam um Moçambique melhor para todos nós”.
A “perdiz” sublinha que a liberdade de expressão e o direito à manifestação são pilares fundamentais de qualquer sociedade justa e democrática. “São a essência da nossa luta por justiça, igualdade e direitos humanos. Quando pessoas saem às ruas para reivindicar seus direitos, clamar por mudanças ou simplesmente expressar suas opiniões, não estão apenas a cumprir um dever cívico, mas exercendo um direito conquistado com sacrifício de filhos e filhas desta pátria”, defende, enfatizando que a segurança pública deve basear-se na protecção e na confiança e não no medo e opressão.
“Todos nós devemos engajar-nos no debate público, participar nas decisões que afectam nossas vidas e exigir transparência e responsabilidade de nossos dirigentes, sem medo de sermos silenciados. A Polícia precisa perceber que cada voz importa e a participação cidadã é a chave para uma democracia vibrante”, acrescenta.
“Estamos unidos por um profundo sentimento de repúdio à violência que se espalhou pelo país após as eleições. Em tempos de divergências políticas, é essencial manter a civilidade e o respeito mútuo, valores que são a base de uma sociedade democrática e plural”, remata, realçando a sua indignação com as “cenas impensáveis” testemunhadas esta semana.
Refira-se que esta não é a primeira vez em que a Polícia recorre à violência para reprimir os direitos fundamentais dos cidadãos. Só no ano passado, por exemplo, Moçambique assistiu a diversos casos de violência policial, com destaque para os testemunhados nas marchas de homenagem ao rapper Azagaia (a 18 de Março) e nas marchas de repúdio aos resultados das eleições autárquicas. Em todas estas situações, a Polícia lançou gás lacrimogéneo, feriu e matou cidadãos. (Carta)
A Cidade da Beira esteve paralisada esta segunda-feira, na sequência da convocação feita por Venâncio Mondlane para os moçambicanos observarem uma greve nacional geral, em protesto às últimas eleições nacionais.
Na urbe houve restrição no movimento de cidadãos e registaram-se focos de barricadas nas principais estradas de acesso à cidade da Beira. Na Munhava, no Vaz e na estrada do Aeroporto ao Estoril houve queima de pneus na via pública para impedir a circulação de viaturas.
Os autores não são conhecidos, mas vê-se mais mirones e curiosos, alguns dos quais pousando no local junto para tirar fotos e alimentar o ciclo de partilha nas redes sociais. A circulação está retraída porque as pessoas não querem correr riscos enquanto não há certeza do que pode acontecer.
As pessoas mantêm-se confinadas nas suas áreas de residência, tanto que o serviço de transporte público de passageiros também paralisou as actividades.
Lembre que o transporte público de passageiros, na Beira, e em Moçambique em geral, é dominado pelo sector privado, pelo que facilmente é notório o défice.
O comércio está a funcionar muito timidamente, mas os maiores mercados da cidade optaram por encerrar. Isso aconteceu em vários sectores e empresas, que mandaram de volta para casa os seus trabalhadores, por receio de que possam ser vítimas dos protestos.
A Polícia está a patrulhar a cidade e garantir a ordem e tranquilidade com o destacamento de agentes da corporação em quase todas as artérias. Todas as escolas fecharam e os hospitais funcionam por "obrigação" do seu dever. O Corredor da Beira e o Aeroporto estão a funcionar normalmente. (Falume Chabane)
A cidade de Maputo, especificamente o bairro da Maxaquene, nas proximidades da avenida Vladimir Lenine, enfrentou ontem momentos de terror, com a Polícia disparando balas reais e lançando gás lacrimogéneo, inclusive nas residências, bem como recorrendo a cães para amedrontar a população indefesa.
Veículos Mahindras circulavam de um lado para o outro e disparos de balas verdadeiras eram ouvidos, enquanto barricadas e pneus queimados se espalhavam durante as manifestações de repúdio contra o duplo homicídio dos apoiantes de Venâncio Mondlane e dos resultados das eleições do dia 9 de Outubro.
O cenário caótico persistiu até às primeiras horas da noite no bairro da Maxaquene. A população continuava a incendiar pneus para impedir a passagem dos automobilistas. Desde as primeiras horas do dia, os jovens do bairro demonstravam determinação em não cessar e a Polícia teve de fazer uma permuta: os agentes que estavam de serviço durante a tarde recuaram e, ao cair da noite, outro grupo entrou em acção no local.
Ainda de manhã, blindados rugiam e os agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) estavam a atacar a população indefesa de forma indiscriminada. Os populares ganhavam ânimo ao cair da noite, continuando a queimar pneus na avenida Milagre Mabote até ao início das avenidas Joaquim Chissano e Vladimir Lenine.
O comércio neste bairro ficou completamente encerrado e houve também vandalização de algumas infra-estruturas, painéis publicitários e bloqueio de várias vias. Os jovens do bairro iam arremessando pedras e garrafas por cima da Polícia, sem demonstrar nenhum medo. A coragem pairava sobre eles e criava mais raiva da Polícia que ia entrando dentro do bairro a tentar perseguir um por um.
Em termos globais, o bairro da Maxaquene destacou-se ontem em termos de violência e desordem. Havia cenas de postes de energia queimados, garrafas quebradas e arremessadas no meio da estrada, culminando numa escalada de violência sem precedentes, o que fez com que o helicóptero da polícia sobrevoasse continuamente o bairro.
Alguns jovens do bairro foram feridos pela Polícia e alguns jornalistas também sofreram durante escaramuças entre a população e os membros da PRM. Num autêntico filme de terror, a Polícia invadiu alguns becos daquele bairro de lata, onde até crianças não escaparam ao gás lacrimogêneo, provocando desespero em muitas mães que tentavam proteger os seus filhos.
Recorde-se que a Polícia da República de Moçambique já havia lançado um aviso de que havia de abortar qualquer acto de violência que pudesse surgir. Por outro lado, a Comissão Nacional de Eleições tem, até esta quinta-feira, o prazo para anunciar os resultados finais das eleições de 09 de Outubro, contestados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que defende ter ganho o escrutínio. (Marta Afonso)