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Guy Mosse

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Na noite de sábado, quando o empresário Rogério Manuel submeteu seu plano de voo ao “Despacho de Pilotos” do Aeroporto de Mavalane, solicitando autorização para voar de regresso para o Bilene, o técnico de serviço franziu o sobrolho e terá rejeitado que ele fizesse aquela que seria uma viagem fatal, apurou “Carta” de fontes reputadas. O técnico do aeroporto estava simplesmente a cumprir as normas: Rogério Manuel não estava habilitado a pilotar de noite. Nem sua aeronave, um helicóptero R44-Robinson, vinha equipada com instrumentos de navegação apropriados para voos nocturno. Era um pequeno monomotor, de 3 lugares, com autonomia de 3 horas e uma velocidade de cruzeiro de 200 km/hora, geralmente interditado para viagens noturnas, salvo em raras excepções de transporte postal. 

 

O técnico de serviço naquele dia tinha tomado uma decisão correcta, de acordo com um especialista em aviação, mas “Carta” sabe que o empresário insistiu que tinha de fazer aquela viagem. E pegou no telefone, tendo feito uma chamada. Do outro lado da linha veio uma autorização, e ele seguiu voo. Mas a autorização era ilegal. A direcção do Aeroporto de Malavane devia simplesmente tê-lo impedido de voar. Mas quem autorizou? A troco de quê?  Depois de muita insistência, “Carta” conseguiu obter ontem um depoimento do PCA das Aeroportos de Moçambique (ADM), Emmanuel Chaves, sobre o assunto: “O porta-voz sobre este acidente é o Comandante João Abreu, do IACM (Instituto de Aviação Civil de Moçambique)", disse ele. "Por se tratar de matéria regulada pelas autoridades nacionais e internacionais, caberá a esta entidade prestar declarações sobre as matérias do acidente”, acrescentou.

 

Mas quem autorizou que Rogério Manuel levantasse voo? O facto de ele ter levantado voo na base de uma autorização ilegal não seria motivo suficiente para o PCA dos Aeroportos se demitir, dado que desse voo resultou uma morte (independentemente da alegada imprudência do piloto)?, perguntamos a Chaves. Ele respondeu, por escrito, nos seguintes termos: ”Quanto à possibilidade de o PCA da ADM se demitir, se as investigações demonstrarem a necessidade da sua demissão, assim irá acontecer. O PCA não foi consultado para a autorização da saída e nem participou do processo da autorização de saída deste voo”. Insistimos com Chaves: há indicações de que, diversas vezes, o empresário Rogério Manuel fez voos nocturnos no seu monomotor R44-Robinson, que não lhe permitia isso. Quem lhe dava essa autorização e por que é que quando ele poisou na vinda do Bilene não lhe foi cassada a licença, dado que também se tratava de um voo nocturno? Chaves não quis expandir na conversa: “Reitero que não foi o PCA que foi consultado para a autorização da saída. Se não me confia é porque não me conhece”. 

 

A investigação do acidente já foi iniciada pelo IACM. Uma das questões centrais deverá incidir sobre o papel das autoridades aeroportuárias nesse voo particular, para se identificar quem efectivamente deu autorizou. “Carta” sabe que já está a circular uma narrativa tendente a atirar culpas exclusivas pelo acidente ao piloto, nomeadamente devido a uma alegada negligência. Uma das peças usadas para dar corpo a essa narrativa é um print out de um check list sobre o estado da aeronave em determinado momento onde se pode ler: insuficiência de combustíveis. Ou seja, o acidente tinha sido causado porque o piloto não controlara o nível de combustível. Essa narrativa serviria para desresponsabilizar terceiras partes, incluindo as componentes fabricante e seguros.

 

Mas uma fonte do IACC disse ontem à “Carta” que a alegação da insuficiência de combustíveis era forçada, não verdadeira. Ou seja, o print out que circula nas redes sociais é falso. Mas a quem interessa essa falsidade? Ainda não sabemos. Um especialista local em aviação sugeriu que a investigação devia ser “o mais independente possível”, de modo a se apurar também o grau de responsabilidade de terceiras partes perante o comportamento do piloto, não apenas na véspera deste voo fatal, mas desde que ele obteve seu “brevet” para voar um pequeno monomotor de 3 lugares.

 

Relatos colhidos indicam que Rogério Manuel voava de noite sempre que lhe apetecesse e perante uma alegada complacência tanto do IACM como da ADM. Ontem, quando lhe sugerimos isso, repisando que ninguém tinha a coragem de impedir a conduta irregular do piloto, o Comandante João Abreu ripostou: “Gostaria de solicitar a tua (da “Carta”) colaboração em nos fornecer as provas materiais que factualizam os pontos arrolados. Dada a gravidade dos mesmos, poderão constituir matéria da Comissão de Inquérito nomeada para a investigação do acidente. Caso tenhas ou haja testemunhas, agradeço que estas se disponibilizem à Comissão junto do IACM”.  Abreu deu-nos a atender que, apesar de serem vários os testemunhos públicos das viagens nocturnas de Rogério Manuel no monomotor, ele tinha um cadastro limpo: ”O que é referido não consta no processo do piloto”. 

 

A pergunta central mantém-se: para quem foi a misteriosa chamada através da qual Rogério Manuel recebeu autorização de saída num voo que lhe levaria à morte?(Marcelo Mosse)

quarta-feira, 02 janeiro 2019 06:04

Manuel Chang não foi detido no “OR Tambo”

O Ex-Ministro das Finanças, Manuel Chang, não foi detido no Aeroporto Internacional Oliver Tambo, em Joanesburgo. Fontes seguras de “Carta” disseram que Chang foi detido na região de Pretória quando se encontrava a caminho do aeroporto para fazer uma ligação para o Dubai, para onde já se tinham deslocado alguns familiares chegados. O facto de ele não ter sido detido dentro do aeroporto na véspera de embarcar indica que os seus movimentos estavam a ser monitorados a partir de Moçambique, apontado para duas hipóteses. A primeira é a de ele se ter entregue ao FBI, para o que teve de retirar sua família mais próxima para proteção fora de Moçambique.

 

A segunda é a de que, eventualmente, ele foi “entregue” pelas autoridades moçambicanas. Esta última hipótese é corroborada por alegações de várias fontes locais segundo as quais o Governo de Maputo sabia da iminência da prisão de Chang por ordens das autoridades de justiça dos Estados Unidos da América.  Uma fonte da embaixada dos EUA em Maputo disse ontem à “Carta” que a representação diplomática de Whashington não podia tecer quaisquer comentários. “A Embaixada dos Estados Unidos não comenta sobre questões de aplicação da lei que estão em curso. E em caso de insistência sugerimos que contacte o Departamento de Justiça”, disse, por escrito, a porta-voz da representação. (Carta)

O corpo do conhecido empresário, Rogério Manuel, já está em Maputo. Sua mulher e filho estão a embarcar no aeródromo do Bilene a caminho de Maputo. Uma fonte próxima da família disse-nos que ele morreu sozinho. “Ele estava sozinho no helicóptero”, disse a fonte, descartando uma informação preliminar dando conta de uma segunda vítima da tragédia O empresário pilotava um helicóptero no seu regresso de Maputo à praia do Bilene, onde gozava as férias de verão com a família. Ele veio a Maputo evacuando o sobrinho do conhecido empresário Juneid Laygy, que se envolvera num acidente na tarde de ontem. Rogério Manuel chegou a Maputo pelas 19.30 e ligou de volta a informar que estava tudo bem. Para além do referido jovem evacuado, havia outro acompanhante no voo de vinda a Maputo. (Carta)

No distrito de Macate, em Manica, há cerca de oitenta e seis mil habitantes, de acordo com o censo de 2017. Porém, apenas 30.000 têm acesso a água potável fornecida por furos.
Ainda assim, catorze destas fontes encontram-se inoperacionais, carecendo de reparação, mas o governo distrital está desprovido de meios financeiros para as repor em funcionamento.

 

De acordo com os números apresentados anteriormente, constata-se que um furo do precioso líquido está para seiscentos e noventa e quatro habitantes, o que contraria as pretensões do governo segundo as quais uma fonte de água potável no país deveria satisfazer trezentos cidadãos, no máximo.

 

A maior parte da população de Macate vê-se obrigada a recorrer a poços tradicionais e vários riachos, correndo, vai daí, vários riscos – desde ataques de crocodilos a doenças de origem hídrica, visto que o precioso líquido não tem merecido o devido tratamento, pese embora os esforços do executivo para inverter a situação.

 

Os locais mais afectados pela escassez de fontes de água no distrito de Macate são os povoados de Hange, Nhabata, Ngoroza, Chinete, Morombwe e Macuendjera, os quais se caracterizam, igualmente, pela falta de infra-estruturas públicas. Aliás, por esse motivo, a maior parte de funcionários do Estado recorre à vizinha cidade de Chimoio para fixarem as suas residências.

 

O Secretário Permanente do Distrito de Macate, Aufi Razaco, garante que até ao princípio do próximo ano as fontes avariadas estarão operacionais visto que já foi encontrado um parceiro que se disponibilizou a financiar a sua reparação.

 

Enquanto isso, Razaco afiançou que o governo distrital continua a mobilizar fundos para a construção de fontes de água potável, tarefa nada fácil porque as condições socioeconómicas da região ainda estão aquém das necessidades.

 

Para que toda a população do distrito de Macate tenha acesso a água potável, serão necessários duzentos e oitenta e sete fontanários, o que acarreta custos estimados em oitenta e seis milhões de meticais.(Pedro Tawanda)

sexta-feira, 28 dezembro 2018 03:03

Kapa Dech: um regresso apoteótico

Cai o pano sobre o ano de 2018. É hora de se fazer o balanço de tudo o que aconteceu, aos mais diversos níveis, durante estes 12 meses.
Pois então, em termos culturais, há a registar o regresso dos Kapa Dech – a banda moçambicana nascida em 1996, por “obra e graça” de um grupo de jovens talentosos da capital: Tony Jango (já falecido), Rufus Maculuve, Zé Pires e Jaime Guambe “Mitó”.
Este quarteto, que compunha a espinha dorsal da banda, provinha do grupo infantil Pétalas Amarelas (da Organização Continuadores), a qual posteriormente deu origem ao grupo musical Kaway K10.

 Pretendendo formar uma banda que fosse capaz de representar o país além-fronteiras, os fundadores convidaram outros elementos provenientes de diferentes conjuntos que partilhavam o interesse de internacionalização e valorização da cultura moçambicana. Foi nesse contexto que passaram a integrar os Kapa Dech os músicos Roberto Isaías, António Melisse “Dodó”, Anselmo Novela “Neco” e Almeida Goca.

 

Nos primeiros anos da sua existência, o grupo foi apadrinhado pela já conceituada banda Ghorwane, que na altura tinha a sua sede nas instalações do Grupo Desportivo de Maputo. Foi aí onde aconteceram as suas primeiras apresentações públicas. Porém, rapidamente, o conjunto começou a ganhar espaço no panorama musical nacional, e em 1997 venceu a 1ª edição do concurso de agrupamentos juvenis, denominado Music Crossroads, em Harare (Zimbabwe), classificando-se como o melhor da região austral de África.



Nesse mesmo ano, os Kapa Dech assinaram um contrato com a editora francesa Lusafrica, sediada em Paris – em cujo catálogo faziam parte artistas como Cesária Évora, Bonga, Ferro e Gaita, Sally Nyolo, Filipe Mukenga, Chiwoniso, entre outros. A parceria resultou na gravação e edição de dois álbuns, nomeadamente Katchume (1998) e Tsuketani (2000), ambos gravados em Paris.

 

O sucesso dos Kapa Dech permitiu a sua participação em festivais fora de Moçambique (Noruega, Portugal, França, Suécia, África do Sul, Zimbabwe, Botswana, Swazilândia, entre outros).  

 

Possuidora de composições musicais com uma forte inclinação para a crítica social, a banda aliou a sua carreira a projectos e campanhas de acção social em diferentes vertentes, com destaque para área de HIV/SIDA e meio ambiente.

 

Perdas de vulto

 

Numa altura em que se encontrava muito bem posicionada no mercado e após um arrebatador sucesso, em 2007 o grupo sofre a perda de alguns dos seus elementos, designadamente Tony Jango, Pilecas (falecidos) e Roberto Isaías que optou por seguir uma carreira a solo, o que conduziu paulatinamente a uma instabilidade estrutural.
De registar que nessa altura os diferentes membros decidiram enveredar por projectos individuais, levando a que a banda sofresse uma estagnação de cerca de 10 anos.

 

Em finais de 2017, os antigos OK? integrantes do Kapa Dech sentiram a necessidade de retomar o projecto. O anúncio público do seu regresso aconteceu nos princípios do presente ano, e foi apadrinhado pelo Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho de Rosário.

 

A ocasião serviu também para dar a conhecer o retorno de Roberto Isaías e a integração de dois novos membros: a cantora Sizaquel Matlombe e o percussionista Pimenta Lifaniça. A retoma tem sido marcada por diversas apresentações em eventos, sendo de destacar os MMM (Mozambique Music Meeting), Festival da Barra, Conferência Anual do Sector Privado (CASP), Festival Azgo, Gala Vibratoques, Festival A Luta Continua, e Festival Municipal, dentro do país, e Bushfire, na Suazilândia.



“Line-up” e projectos para 2019

 

Para 2019 estão previstos o lançamento de um álbum de originais e um concerto na Praça da Independência intitulado “Retroespectativa”, o qual vai “olhar” para o passado, presente e futuro.

 

Actualmente o grupo é composto por Sizaquele Matlombe (Voz) Roberto Isaías (Voz),Pimenta Lifaniça (Percussão), Rufus Maculuve (Teclados), José Pires (Teclados), Stélio Zoé (Bateria), António Firmo (Guitarra) e Jaime Guambe (Baixo).(H.L)

Uma frota de seis autocarros civis transportando militares foi vista a atravessar ontem, por volta das 11 horas, a sede distrital de Macomia, em Cabo Delgado. Cada um dos seis autocarros transportava 70 homens fardados e armados. Os mesmos autocarros foram posteriormente também vistos na aldeia da Nova Zambézia, em Chai (Macomia) e Miagalewa (em Muidumbe). 

 

Em Macomia, a caravana passou numa altura em que na vila era visível um movimento desusado de pessoas, que chegavam de carro e a pé de Chicomo para o bairro de Nanga. Chicomo foi atacada na sexta-feira, numa incursão que resultou no incêndio de 103 casas, sem qualquer óbito. No final da tarde de ontem, os autocarros estacionaram em Owasse, no cruzamento entre os distritos de Mueda e Mocímboa da Praia. Desconhece-se o destino final dos homens mas este dado mostra que o exército decidiu reforçar as accões militares do terreno.

 

Nas últimas semanas, nos distritos de Mocimboa da Praia, Nangade, Palma e Macomia, registou-se um aumento significativo de ataques às comunidades locais, saldando-se em dezenas de mortes de pessoas inocentes (umas a tiro, outras decapitadas), ferimentos ligeiros e graves, para além de avultados danos materiais e até deslocados.  

 

Os ataques registaram-se concretamente nas aldeias de Chitolo, Nfinji, Njama e Nangondo (em Mocimboa da Praia), Chicuaia-velha, Litingina, Ngangolo, Machava, 5º Congresso (no distrito de Nangade), Bagala, Malamba, Pundanhar (em Palma) e Milamba, Cogolo, Chitoio, Chicomo e Nacutuco (em Macomia). 

 

Nos últimos dias, altas patentes do exército e membros do Governo provincial estiveram nalgumas regiões afectadas, onde populares pediram armas para se defenderem mas também o aumento de efectivos militares. 

 

O reforço do contigente militar é uma resposta ao recrudescimento dos ataques na região e à solicitação dos populares e acontece poucos dias depois de o Presidente, Filipe Nyus, ter, na AR, interpretado a insurgência em Cabo Delgado da seguinte forma:”A nossa marca para a conquista plena da independência económica não é bem vista por grupos de interesses adversos. Assim se explicam os novos fenómenos do crime organizado, nas zonas de  exploração de recursos minerais, que representam um desafio para todos os moçambicanos”. Alguns dos autocarros vistos a atravessar a região de Macomia ostentavam a nome da Selekane Grupo, uma empresa privada que faz ligações por terra a partir de Maputo para destinos no norte. (Saide Abibo)  

quarta-feira, 26 dezembro 2018 03:02

Governo deve ex-trabalhadores da AVÍCOLA há 30 anos

Mais de 500 trabalhadores da antiga empresa estatal de criação e produção de aves, (AVÍCOLA), em Nampula, estão há 30 anos a reivindicar os seus ordenados, indemnizações e pré-avisos, na sequência da venda da empresa a privados, em 1987. 

 

Os trabalhadores acusam o governo de lhes ter “burlado" e, como forma de recuperar o que lhes é devido, decidiram, há um mês, intensificar a manifestação (junto ao edifício da Direcção Provincial da Agricultura e Segurança Alimentar DPASA ) que já vinham levando a cabo há 13 anos. Com recurso a latas, galões vazios de óleo alimentar e outros objectos, os antigos trabalhadores daquela que foi uma das principais empresas estatais que produziam ração, aves e ovos, na província de Nampula, nas décadas 70-80, amotinaram-se defronte do edifício da DPASA, bloqueando assim o passeio e a sua entrada. 
Não obstante, aquela instituição continua a funcionar normalmente.

 

‘‘Se fosse em Maputo, haviam de nos pagar… se fosse em Inhambane, haviam de nos pagar…’’, são algumas das palavras proferidas na língua local (emakhwa), por vezes acompanhadas por passos de dança. Os trabalhadores dizem que o governo decidiu privatizar a extinta AVÍCOLA em 1987, por alegada incapacidade financeira, mas sem aviso prévio. Trinta anos depois, os trabalhadores ainda aguardam pelo pagamento dos seus vencimentos.

 

Apesar de terem iniciado a greve (de forma silenciosa) em 2006, eis que agora, cansados de promessas, os ex-trabalhadores decidiram, desde o mês passado, amotinar-se no edifício da Direcção Provincial da Agricultura e Segurança Alimentar, instituição que tutelava a empresa, para pressionar o governo a pagar o que lhes deve.

 

Pereira Travessa, antigo trabalhador e porta-voz da extinta AVÍCOLA, conta-nos que já foram feitas várias promessas, desde 2006, para o pagamento dos seus ordenados, mas que os resultados continuam os mesmos, ou seja, não passam de meras promessas. ‘‘O Ministro da Agricultura fez duas: uma primeira que autorizava o pagamento, em 2013. A segunda foi no ano passado, quando ele ordenou que se pagassem os salários atrasados da extinta empresa AVÍCOLA’’, disse a nossa fonte.

 

 O representante dos grevistas afirma não ter dúvidas de que foram e continuam a ser enganados pelo Estado moçambicano, mas assegura que a reivindicação vai continuar e será ininterrupta. ‘‘Sentimo-nos burlados porque estamos há muito tempo a reivindicar. O despacho do senhor Ministro da Agricultura, em 2013, até agora não está a ser cumprido. Já se fez um documento para o Ministro das Finanças, em Maio do ano passado, mas até hoje não estamos a ter nenhum dia marcado para o pagamento, por isso estamos a lutar para que, pelo menos, nos informem do dia do pagamento’’, manteve o seu desabafo.

 

Há trabalhadores que morreram sem sequer ter saboreado os seus ordenados. Inicialmente, eram mais de 600 e agora só ficaram 566 trabalhadores, e isso inquieta Travessa que vê a demora no pagamento como algo intencional do governo para que os restantes desistam. ‘‘A demora é demais! Muitos acabam por morrer. Quem vai receber esse dinheiro? Eles estão à espera que todos nós morramos para ficarem com o dinheiro? A inquietação é essa’’, rematou.

 

 O Director Provincial da instituição devedora, Jaime Chissico, disse reconhecer a situação, que não só afecta os antigos trabalhadores em Nampula como noutras províncias do país, mas assegura que o executivo vai pagar e está a trabalhar para o efeito. Todavia, não estabelece datas nem se pronuncia quanto a previsões. Outras três empresas enfrentam a mesma situação, sendo que o número de afectados pode estar acima de 1500 trabalhadores. (Sitoi Lutxeque)

Um consórcio que concorreu na quinta ronda de licenciamento de blocos petrolíferos em Moçambique, oficialmente encerrada em 2015, está a intentar uma acção judicial contra o Instituto Nacional de Petróleo (INP), regulador do sector, escreveu ontem a Zitamar News. O consórcio acusa o INP, na pessoa do seu PCA, Carlos Zacarias, de ignorar um despacho da então Ministra dos Recursos Minerais e Energia, Lectícia Klemens, o qual dava instruções ao INP para iniciar negociações visando a atribuição ao grupo de um bloco terrestre no norte de Inhambane. O consórcio, liderado pela ShoreCan (uma joint venture entre a canadiana Overseas Petroleum Limited, COPL, e a Shoreline Energy International, da Nigéria), afirma que foi injustamente desqualificada da ronda, encerrada em Julho de 2015.

 

A Zitamar News cita fontes do consórcio alegando que, depois de reclamações junto do MIREME, o INP convidou, a 30 de Outubro de 2017, a ShoreCan a iniciar negociações “diretas” para a atribuição de um bloco de pesquisa. O consórcio não aceitou a proposta de negociações "diretas” e argumentou que tinha o direito de ser tratado nos mesmos termos que os outros vencedores da ronda. Alega também que o convite para negociações "directas" assentava numa falsificação e era contrário ao espírito e letra do despacho relevante da então Ministra Klemens. 

 

O consórcio decidiu processar o INP junto do Tribunal Judicial de Maputo por “ignorar as instruções da Ministra e falsificar documentos relevantes". Se o caso fosse levado ao Tribunal Administrativo e a desqualificação fosse considerada injusta, então a quinta ronda poderia ser tecnicamente anulada, e os contratos de exploração e produção, que levaram mais de dois anos a negociar com a Exxon, ENI e Sasol, seriam cancelados, alega-se na matéria. 

 

Com a acção criminal, o consórcio quer apenas forçar o INP a abrir negociações para um contrato de exploração do bloco PT5-B, no norte de Inhambane, dentro dos parâmetros da quinta ronda de licenciamento.

 

O recurso ao tribunal foi decidido alegadamente porque o consórcio não tem obtido respostas aos seus pedidos para que o INP cumpra o despacho de Lectícia Klemens. Apesar de a quinta ronda ter sido dada por encerrada em 2015, uma das companhias do consórcio, a COPL, disse que depois de um recurso, foi notificada em 2017 de que havia de facto vencido o bloco. Alegas-se que o MIREME, agora sob a liderança de Max Tonela, que substituiu Klemens em Dezembro de 2017, também não respondeu às reclamações do consórcio, de que faz parte uma empresa moçambicana, a Índico Dourado.(Carta)

sexta-feira, 21 dezembro 2018 03:02

Afinal quem financia os insurgentes em Cabo Delgado?

 Eis uma questão que continua sem uma resposta clara e objectiva: de onde vem o dinheiro que alimenta os grupos de insurgentes, em Cabo Delgado? Mais: por que razão a juventude adere a estes grupos? Qual a proveniência das quantias encontradas na posse destes, aquando da sua captura? É lícito ou provém de (algum) pagamento referente à adesão a tais grupos? Pelo menos no distrito de Macomia, a grande maioria dos cidadãos acredita que um número significativo de participantes nas acções de insurgência terá sido aliciado por pessoas que movimentam grandes quantidades de dinheiro, através de uma rede organizada. A opinião pública local (de acordo com entrevistas concedidas por líderes comunitários e religiosos, comerciantes influentes e informais, e professores de Macomia) aponta dois objectivos por detrás da sublevação: “manchar” a religião islâmica e gerar instabilidade no país, numa altura em que se regista a ocorrência de recursos naturais, como petróleo, gás e outros minerais.

 

O extremismo islamismo foi apenas um ardil para a arregimentação de jovens, levando-os a levantamentos, mas ninguém é capaz de entender a sua génese: se tem raízes externas ou se nasceu no interior de Cabo Delgado. É irónico o facto de a luta armada de libertação nacional ter igualmente iniciado naquela província, em 1964. Apesar de se acreditar que muitos dos jovens terão sido aliciados para se juntarem ao grupo, nenhuma evidência foi demonstrada, ou seja, não há provas materiais que levem a crer que os integrantes terão tido acesso a dinheiro proveniente de fora do país.  No distrito de Macomia, ao longo de 14 meses de insurgência, foram atacadas as aldeias de Naunde, Ilala, Natugo 1, Pequeue, Cogolo, Nacutuco, Nagulue, Namaneco, Unidade e Milamba. Depoimentos de testemunhas indicam que os atacantes dessas aldeias são os mesmos que, no dia 5 de Outubro de 2017, assaltaram o Comando Distrital e o Posto Policial de Owasse, iniciando a saga assassina.

 

Entre os nossos entrevistados, mesmo admitindo que provavelmente os jovens revoltosos terão sido aliciados em troca de valores monetários, ninguém garante, apresentando provas, donde, eventualmente, provém o dinheiro, nem sugere a identidade de quem lidera o aliciamento. Em Pangane, travámos uma conversa com o cidadão Assane, que afirmou que, pouco depois de o conflito ter tido início, ficou-se com a ideia de que os jovens recebiam dinheiro para levar a cabo tais actos, e que se tratava de um “trabalho encomendado” por pessoas visando satisfazer os seus interesses.

 

Já em Ilala, no posto administrativo de Quiterajo, a “Carta” dialogou com o cidadão Abdala. No seu entender, “não é possível algumas pessoas locais cometerem crimes, tais como incendiar casas e matar inocentes, sem terem recebido algo”. Ou seja, o nosso entrevistado não descartou a hipótese de haver aliciamento, mas também não foi capaz de revelar a origem do dinheiro, muito menos o nome do financiador. Na sede do posto administrativo de Mucojo, a ideia é partilhada por muitos populares, mas ninguém está em condições de dizer se e quando ocorreu o processo de pagamento, em que circunstâncias, e quem são os protagonistas de tais actos.

 

Uma porta para a corrupção

 

Ainda na sede de Mucojo, a “Carta” tomou conhecimento de que esta situação levado a que, no seio das autoridades, certas pessoas ameacem alguns agentes económicos – na sua maioria da seita islâmica “al-suni” – acusando-os de pertencerem ao grupo dos insurgentes e de beneficiarem de financiamento. Com receio de represálias, os visados acabam por desembolsar avultadas somas. 

 

No dia 23 de Setembro, por exemplo, três agentes económicos da aldeia Pangane (dois nacionais e um estrangeiro), foram acusados de pertencer ao grupo dos rebeldes, e que supostamente teriam recebido dinheiro de uma empresa cujo nome nunca se revela. No mesmo dia, foram intimados a comparecer no posto policial de Mucojo, de onde depois seriam levados para o Comando Distrital. Entretanto, enquanto se encontravam em Mucojo, aguardando a sua transferência para Macomia, eis que as suas esposas recebem chamadas de pessoas que se identificavam como funcionários da procuradoria e do tribunal, instando-as a levar consigo 54 mil Meticais cada uma, para a polícia, em troca da sua liberdade. Esta acção foi frustrada devido à intervenção da Administradora Distrital e de alguns familiares dos detidos residentes fora de Macomia, que receberam informações do esquema por telefone. “Carta” apurou ainda que dois cidadãos identificados por Marecano e Nelson Sualeh, este último professor da Escola Primária Completa de Macomia sede, terão igualmente caído na malha das autoridades, sob acusação de que beneficiaram do dinheiro que os insurgentes receberam. 

 

Esta atitude resulta do facto de que Marecano, que há alguns anos foi condenado por participação em acções de caça furtiva, se teria (O “QUE” ATRAI O “SE” PARA ANTES DO VERBO) ausentado do distrito, supostamente para integrar o grupo. Relativamente ao professor Sualeh (que também já havia sido sentenciado num processo que tem a ver com caça furtiva), a suspeita é de que teria adquirido desde ano passado uma viatura pessoal, acto que foi logo associado ao facto de que “teria embolsado valores para fazer parte do grupo de rebeldes”. Mesmo sem provas, as autoridades levaram-nos até Mocímboa da Praia, onde foram interrogados por uma “comissão de inquérito” sobre a sua pretensa participação em actos de sublevação, tendo acabado por ser inocentados.


Mas que há dinheiro… há!

 

Entretanto, a “Carta” teve conhecimento de que muitos dos insurgentes capturados pelas autoridades, e até mesmo os que acabaram por ser mortos nos confrontos em Mocímboa da Praia, traziam nos seus bolsos avultadas somas de dinheiro. Mas qual seria a origem desta quantia? Algumas fontes contactadas na vila de Macomia, por exemplo, afirmaram categoricamente que, antes de se deslocarem a Mocímboa da Praia onde viriam a protagonizar o ataque, os rebeldes venderam os seus pertences (casas, barracas, e outros), facto que pode justificar a posse de avultadas somas de dinheiro na sua posse.

 

No entanto, há algumas coisas que “não encaixam”: é que um dos actos perpetrados pelos insurgentes quando atacam aldeias consiste em saquear valores monetários e outros bens nas barracas, sinal de que têm fome e necessitam de dinheiro.  Ora, se recebessem as alegadas quantias, não precisariam de roubar bens e numerário nas barracas. Enfim, ninguém fala com propriedade e evidências, mesmo que a opinião pública admita que os insurgentes terão sido aliciados para integrarem o grupo. Não há quem consiga revelar o nome da empresa, agência, muito menos pessoas de referência que garantam o acesso ao referido dinheiro usado para aliciar jovens. (Saide Abido)

segunda-feira, 17 dezembro 2018 03:01

MINEDH no encalço dos mentores do vazamento dos exames

A guerra comercial que se verifica no Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH), envolvendo empresários e lobistas da instituição, poderá ser desmascarada nos próximos dias, revelou uma fonte à “Carta”. Com efeito, o MINEDH está a encetar diligências em coordenação com a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC). 

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