Enquanto pelo mundo, incluindo países africanos, os candidatos a cargos públicos anunciam vitória e/ou derrotas eleitorais, antes do anúncio dos resultados pelos órgãos eleitorais, em Moçambique tal acto é considerado anti-ético e ilegal.
Quem assim o diz é o Ministério Público, secundando o porta-voz da Comissão Nacional de Eleições (CNE), que disse não ser ético proclamar-se vencedor, referindo-se aos pronunciamentos públicos de Venâncio Mondlane, que desde quinta-feira se tem declarado vencedor das eleições presidenciais de 9 de Outubro.
Porém, em comunicado de imprensa partilhado ontem com a comunicação social, o garante da legalidade não aponta o dispositivo legal violado pela auto-proclamação dos resultados. Aliás, é de lei que os partidos políticos tenham cópias dos editais do apuramento parcial dos resultados, pelo que cada concorrente está em condições de apurar o seu desempenho nas urnas.
Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), a auto-proclamação de vencedores, pelos concorrentes, pode degenerar em convulsões sociais. A PGR afirma que tem constatado, através dos meios de comunicação social, redes sociais e plataformas digitais, discursos que incitam a violência, a desordem pública, “incluindo auto-proclamação de vitória do pleito eleitoral, antes da divulgação dos resultados pelos órgãos competentes, situação que viola a lei e é susceptível de degenerar em convulsões sociais”.
A PGR afirma ainda que tem estado a fazer o seguimento da ocorrência de ilícitos eleitorais, irregularidades, criminalidade comum e a violação de normas ético-eleitorais, praticada por diversos intervenientes no processo eleitoral, entre membros e simpatizantes dos partidos políticos, agentes da administração eleitoral e concorrentes.
“Relativamente à violação de normas éticas do processo eleitoral, quando consubstancia o apelo à desordem ou à insurreição ou incitamento ao ódio, ao racismo, à violência ou à guerra, a lei prevê aplicação da pena de prisão de 2 a 8 anos, se outra mais grave não couber. Nesse sentido, o Ministério Público, para além de intimar as entidades a conformarem-se com a lei, tem instaurado os competentes processos”, refere o documento.
Na nota, a PGR insta aos actores políticos para respeitarem o processo, “actuando de forma a cumprir com as normas constitucionais por nós aprovadas, contribuindo para uma eleição pacífica, livre e justa e para a consolidação do Estado de Direito Democrático”. (Carta)
Os enfermeiros consideram a possibilidade de convocar uma greve nacional, caso a Ordem dos Enfermeiros penalize aqueles que ainda não estão inscritos. Aquela entidade propôs a penalização de todos os enfermeiros que ainda não estão registados.
Segundo informações partilhadas pela Associação dos Enfermeiros, muitos já se inscreveram, mas o pagamento das suas quotas não está em dia, enquanto outros não estão inscritos devido à falta de informação.
“Eles deram-nos 45 dias para regularizarmos as nossas inscrições e esse prazo já passou. Findo este período, se um enfermeiro for penalizado, a Associação irá entrar em greve. Por exemplo, se a Ordem suspender um enfermeiro, todos nós nos consideramos suspensos. Isso significa que a Ordem estaria suspendendo as actividades de todos os enfermeiros”, explicou Raúl Piloto, Presidente da Associação dos Enfermeiros, durante uma conferência de imprensa nesta segunda-feira.
Perante esta situação, os enfermeiros moçambicanos vêem-se obrigados a tomar medidas drásticas, como o recurso à greve nacional, caso a direcção da Ordem continue a adoptar práticas que comprometam a legitimidade e os direitos dos profissionais.
A greve seria uma forma de protesto contra a falta de transparência e a injustiça que permeiam a actual gestão da Ordem. Além disso, a Associação dos Enfermeiros exige a convocação de eleições na Ordem, conforme estipulado no seu estatuto, que determina que cada mandato deve durar quatro anos.
O actual mandato, que se estende desde Agosto de 2017, gera desconfiança entre os profissionais de enfermagem quanto à legitimidade da actual liderança. Essa situação é vista como um verdadeiro golpe para a instituição, que deveria ser um espaço de representação e defesa dos interesses dos enfermeiros moçambicanos.
“A manutenção da actual direção sem o devido processo eleitoral fere os princípios democráticos e compromete a legalidade e a integridade da governação da Ordem. Por isso é essencial a convocação de novas eleições para restaurar a legitimidade e a confiança na instituição, promovendo um ambiente profissional que incentive todos os enfermeiros a se inscreverem e contribuírem para o desenvolvimento da enfermagem em Moçambique”, disse Raul Piloto.
Falando sobre o pagamento dos retroactivos dos enfermeiros por parte do Governo, Piloto mencionou que algumas províncias, como a Zambézia, já receberam os pagamentos, incluindo o subsídio de turno. Refira-se que cerca de 19 mil enfermeiros estão inscritos no cadastro do Ministério da Saúde. (Marta Afonso)
O Presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Chimbirombiro Simango, denunciou, na manhã desta segunda-feira, a detenção ilegal de um membro do seu partido, no distrito de Ribaué, província de Nampula. A denúncia foi feita hoje, em conferência de imprensa.
Segundo Simango, o indivíduo foi detido na última quarta-feira, 9 de Outubro de 2024, por ordem do Director Distrital do STAE de Ribaué, após recusar-se a “acatar ordens ilegais”. A fonte afirma que a vítima, de nome Artista José Massaca, ainda não foi ouvida e muito menos foi instaurado um processo contra ele, “o que representa uma violação”.
Numa conferência de imprensa de pouco mais de 10 minutos, Simango defendeu que o seu partido está na posse de “todos editais e actas das Mesas de Votação”, porém, recusou-se a partilhar os resultados da sua contagem paralela. “Neste momento, estamos a realizar a nossa contagem paralela, que está na ordem de 80%, (…) e quando terminar vamos divulgá-la”, afirmou, defendo que, em algum momento, os números em sua posse chocam com os divulgados pelos órgãos eleitorais.
Entretanto, o Presidente do MDM garante que o seu partido continuará na Assembleia da República, embora “ainda não estamos satisfeitos com os resultados”. “Em alguns sítios estamos em frente que os nossos adversários”, assegurou, defendendo que o MDM é pela justiça eleitoral.
“Por isso, vamos convidar a CNE e o STAE para que divulguem os verdadeiros resultados, para que não haja manipulação. Nós sempre estaremos do lado da justiça social, do nosso povo, que votou massivamente pelas mudanças”, enfatizou.
Refira-se que os resultados oficiais, assim como da contagem paralela, indicam para derrota do MDM e seu candidato presidencial, aparecendo em quarto lugar, atrás da Renamo, que também perdeu o trono de maior partido da oposição. (Carta)
O PODEMOS (Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique), que suporta a candidatura presidencial de Venâncio António Bila Mondlane, denunciou, na manhã desta segunda-feira, a existência de um plano para viciar dados eleitorais em benefício dos dois maiores partidos políticos do país, nomeadamente Frelimo e Renamo. A denúncia foi feita por Albino Forquilha, Presidente do Partido, em conferência de imprensa concedida hoje, em Maputo.
Segundo Forquilha, o plano, que resulta de “ordens superiores”, passa, primeiro, por retirar o PODEMOS do primeiro lugar, que lhe é devido, de modo a acomodar a Frelimo no poder e, segundo, por dar votos à Renamo, de modo a mantê-la como segunda maior força política do país.
Tal plano, revela Forquilha, visa “honrar os compromissos políticos que existem entre o partido Frelimo e o Líder da Renamo”, fazendo com que Ossufo Momade continue sendo o Líder da Oposição, “custando a justiça eleitoral feita pelo povo nas urnas, votando no PODEMOS e fazer com que ele perca todo mérito que ele teve neste pleito eleitoral”.
“Os resultados [da votação de quarta-feira] que estamos a ter, a nível dos distritos, não são aqueles que o povo, efectivamente, depositou nas urnas, isto tendo em vista a responder à esta ordem superior para que o PODEMOS não consiga estar, nem no primeiro, nem no segundo lugar”, afirma.
O Presidente do PODEMOS garante ter provas que sustentam a sua posição, assim como do seu candidato presidencial, porque “temos actas e editais das Mesas”. Aliás, no último fim-de-semana, Venâncio Mondlane publicou um link dos editais em sua posse, guardados no Google Drive. Os editais mostram, na sua maioria, a vitória de Mondlane, em contradição com os resultados oficiais que apontam para vitória da Frelimo e Daniel Chapo em quase todo país.
Por isso, Forquilha defende que o Partido PODEMOS “nunca irá permitir e nunca irá aceitar a promulgação e validação desses resultados pelo Conselho Constitucional sem que haja uma confrontação dos resultados anunciados pelos distritos e os produzidos nas Mesas, distrito por distrito”.
Para além de acomodar a Frelimo no poder e a Renamo na segunda posição, a viciação dos resultados eleitorais visa também, segundo Forquilha, “manter a supremacia da Frelimo no Parlamento, por forma a aprovar as leis a seu belo prazer”, por um lado, e, por outro lado, manter a Frelimo e a Renamo “como pilares da Lei Eleitoral”, de modo a continuarem a “coordenar a manutenção da injustiça eleitoral”, que se carateriza pela existência “de uma lei objectiva e não abstrata”.
Esta foi a primeira reacção do Presidente do PODEMOS desde que o país foi à votação, na quarta-feira, no âmbito da realização das VII Eleições Presidenciais e Legislativas e IV das Assembleias Provinciais, que incluem a eleição do Governador da Província. Forquilha disse ter muitos membros reunidos pelo país, esperando por orientações superiores do partido para reagir à injustiça eleitoral.
“Nós vamos continuar a fazer esta luta política, denunciando e conversando com todos para perceber o nível de injustiça eleitoral neste país, mas também estamos a interpor recursos junto dos Tribunais Distritais por forma a termos alguma resposta deste nível para que a justiça seja reposta”, defende Forquilha, afastando, do momento, qualquer reação violenta.
Mantendo a “injustiça eleitoral”, o Presidente do PODEMOS afirma que “o povo saberá o que fazer” porque o processo eleitoral é do povo moçambicano e não de um partido. “Se o processo eleitoral, em Moçambique, não responde a democracia, então teremos de encontrar outros mecanismos para que a justiça se reponha neste país”, sentenciou.
Refira-se que, até ontem, a contagem paralela de Venâncio Mondlane apontava sua vitória com 53%, em todo país, à frente de Daniel Chapo, que contava com 39%. Ossufo Momade aparecia na terceira posição com 5%, enquanto Lutero Simango era o quarto e último lugar com 3%. O nível de processamento era de 53,01%.
Do apuramento paralelo feito pela equipa de Venâncio Mondlane e do PODEMOS, Daniel Chapo, que é apontado vencedor das eleições presidenciais, pelos órgãos eleitorais, vencia em apenas três províncias, nomeadamente, Gaza, Inhambane e Niassa, sendo que, nas províncias de Inhambane e Niassa, a vitória de Chapo não ultrapassava 50%.
No entanto, os resultados oficiais, indicam a vitória de Daniel Chapo e Frelimo em todo país, com mais de 50% dos votos. Pelos resultados oficiais, a Frelimo deverá ter, mais uma vez, mais de dois terços dos deputados, o que lhe poderá garantir legitimidade para, querendo, alterar a Constituição da República (A.M.)
O Ministério da Defesa Nacional manifestou “total abertura e disponibilidade” para uma investigação transparente e imparcial às alegações de que as Forças de Defesa e Segurança cometeram atrocidades na província de Cabo Delgado, norte do país.
“Reafirmando o compromisso inabalável das FADM [Forças Armadas de Defesa de Moçambique], nos mais altos padrões de disciplina militar e de respeito pelos direitos humanos, o Ministério da Defesa Nacional manifesta a sua total abertura e disponibilidade em aceitar uma investigação transparente e imparcial sobre as alegações, com vista à busca da verdade material, convidando a quem deseje colaborar, em boa-fé, neste sentido”, refere-se em comunicado, enviado à Lusa.
A nota do MDN surge em reacção a um artigo publicado pelo jornal norte-americano POLITICO, há mais de duas semanas, que denuncia abusos dos direitos humanos, em 2021, e homicídios cometidos por militares moçambicanos contra civis na província de Cabo Delgado, norte do país.
“O Ministério da Defesa Nacional lamenta e refuta, categoricamente, as alegações mencionadas no referido artigo. As acusações de que as Forças Armadas de Defesa de Moçambique estariam envolvidas em actos de tortura, violência e outras atrocidades contra civis não relatam elementos factuais que as sustentem”, lê-se na nota de imprensa enviada à Lusa.
“O Ministério da Defesa Nacional reitera que as unidades das FADM actuam em estrita observância do Direito Internacional Humanitário e outras normas conexas à promoção e protecção dos direitos humanos”, pode ler-se no texto.
As Forças Armadas, prossegue, estão concentradas na consolidação das relações entre civis e militares e no cumprimento dos princípios voluntários sobre a segurança e direitos humanos.
“O Ministério da Defesa Nacional tem investido, imenso, na formação e capacitação das FADM, em colaboração com parceiros nacionais e internacionais de cooperação, ao nível bilateral e multilateral, com destaque para o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, o Instituto Dellare para a Paz e Segurança, entre outras”, enfatiza-se.
O MDN reitera o compromisso de continuar a garantir a defesa da soberania e integridade do território nacional, bem como a protecção das populações e dos seus bens para que o país continue a colher os frutos da paz e a consolidar a agenda de desenvolvimento sócio-económico, sublinha.
As actividades das FADM em Cabo Delgado têm sido exclusivamente focadas no combate aos actos terroristas, na protecção das populações e dos seus bens, assim como na garantia da segurança nas áreas ameaçadas pelos terroristas, realça.
“Desde 2021, as FADM e forças aliadas têm alcançado grandes progressos na estabilização da segurança das zonas afectadas pelo terrorismo na província de Cabo Delgado, através de operações que resultam na neutralização de várias células terroristas”, refere o comunicado.
O MDN assinala que “as alegações são veiculadas num momento em que os esforços das forças moçambicanas, conjugados com os das forças aliadas, visando estabilizar a segurança e restaurar a normalidade mostram progressos assinaláveis, com as populações a regressarem às zonas de origem, o processo de reconstrução e de retoma de actividades sócio-económicas a decorrerem a contento”.
No artigo que publicou em setembro, o POLITICO relata que civis que tentavam escapar de um confronto entre os militares e os insurgentes filiados ao braço africano do autoproclamado Estado Islâmico do Iraque e da Síria foram acusados de serem milicianos.
Os crimes terão sido cometidos no verão de 2021 e, alegadamente, os militares torturaram os homens de uma povoação, retendo-os em contentores de carga, onde os militares os “sufocaram, deixaram à fome, torturaram e, finalmente, mataram”, sobrevivendo apenas 26 de um grupo que deveria ter entre 180 e 250 pessoas, de acordo com o artigo divulgado no POLITICO.
Desde Outubro de 2017, a província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico. (Lusa)
O desafio foi lançado este domingo (13) pelo Presidente do Município de Quelimane, Manuel de Araújo, durante uma “live” feita pelo edil, na sua página oficial, quando se encontrava no Aeroporto da capital da Holanda, em mais uma missão diplomática com vista a resgatar os valores e os processos democráticos em Moçambique.
“É verdade que é uma posição bastante controversa, pois, alguns, até amigos, acham que deveríamos primeiro esgotar os mecanismos internos antes de accionarmos os mecanismos internacionais. Concordo e respeito essa opinião, mas a minha experiência mostra que a antecipação é fundamental; um homem prevenido vale por dois. Por isso, decidi, e não foi fácil tomar essa decisão, mas já tinha evidências suficientes para poder provar em qualquer tribunal nacional, regional, continental ou internacional, a existência de fraude eleitoral em Moçambique”, destacou.
Manuel de Araújo diz que decidiu pegar essas provas e rumar, em primeiro lugar, para a Europa e depois para a América, para despertar a opinião pública internacional sobre o que está a acontecer em Moçambique neste momento.
“Como sabem, fiz uma campanha eleitoral bastante intensa; passei três vezes pelos 22 distritos da província da Zambézia. Saí de um distrito para outro e não foi tarefa fácil porque não há estradas, mas sinto-me feliz por ter cumprido com essa missão patriótica de contribuir de forma singela para o fortalecimento da democracia em Moçambique”.
De Araújo aponta que possui evidências sobre a fraude eleitoral. “Tenho vídeos comigo, cópias de boletins de votos que estão fora do sistema controlado pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral e Comissão Nacional de Eleições (STAE e CNE). Tenho uma série de evidências que são importantes para mostrar à comunidade internacional a radiografia da fraude eleitoral em Moçambique”.
O edil diz que o país teve uma missão do Parlamento Europeu, composta por alguns parlamentares europeus e não só.
“Esteve presente o meu antigo professor João Gomes Cravinho, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, que fez uma afirmação controversa. Porém, coloco uma dúvida: não quero acreditar que aquele vídeo que circula tenha sido o que o professor Cravinho disse. Alguém pode ter tirado do contexto. Mas, como não vi o vídeo completo, vou julgar o professor apenas pelo que vi. Se foi aquilo que ele disse e se não foi tirado de contexto, “professor, acabaste de me decepcionar”.
O Presidente do Município de Quelimane diz que tinha muito respeito pelo professor João Gomes Cravinho, não só pela sua capacidade intelectual, mas também pelas diversas posições que ocupava.
“Estou bastante preocupado com os pronunciamentos do professor Cravinho e espero que tenha sido algo tirado do contexto, porque, se não, todo o respeito que eu tinha por ele acaba aqui”.
Para Manuel de Araújo, Portugal deve superar o complexo da colonização. “Noto que há dificuldades, tanto do governo como da oposição, em tomar uma posição construtiva para fortalecer a democracia em Moçambique, porque muitos no PSD e no PS ainda têm um complexo em relação à colonização. Irmãos portugueses, nós, os moçambicanos, já superamos esse complexo; de Moçambique para Portugal, já não há esse complexo, mas de Portugal para Moçambique, ainda persiste o complexo da colonização e da descolonização, que ocorreu de forma errada e desordenada”.
A fonte avança no seu live que é preciso dar um passo em frente e ultrapassar esse complexo, tanto no PSD quanto no PS.
Sugeriu a organização de uma conferência em Moçambique, em Portugal ou em outro país, para discutir a questão da colonização e descolonização. Referiu ainda que o que acontece é uma vergonha tendo em conta que, nos últimos cinco anos, o antigo embaixador de Moçambique em Portugal, Casimiro Bule Joaquim (que foi seu colega), celebrou vários acordos, de milhares de euros, mas nem um terço foi implementado.
“Nós queremos dois terços, se não 100% deste acordo implementado, porque o acordo foi renovado. Aliás, todos celebraram quando Costa e o Presidente Marcelo adiaram a visita a Quelimane no dia 21 de Agosto”, anotou.
“Portanto, quero desafiar a todos para que, de peito aberto, olhemos para as eleições, corrijamos o que está errado e coloquemos Moçambique no caminho da democracia. Estou a fazer a minha parte, que é pequena, mas estou agora na Holanda e vou para outros países com o dossier que tenho de vídeos, provas, fotos e boletins originais para mostrar à comunidade internacional que há fraude em Moçambique e que quem faz a fraude é a Frelimo. A soberania já não reside no povo, mas no comité central da Frelimo”, afirmou o autarca de Quelimane. (M. Afonso)
Populares acusam os militares de terem baleado mortalmente dois operadores de táxi mota, a menos de um quilómetro do quartel das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), no bairro Maringanhe, na cidade de Pemba, em Cabo Delgado. Os corpos das vítimas foram encontrados na manhã da passada quinta-feira (10).
As vítimas, de 22 e 27 anos de idade, foram baleadas na madrugada do mesmo dia por indivíduos desconhecidos, mas a população local suspeita que tenham sido mortos por militares, os únicos que podem circular com armas naquele raio.
"Não se chega àquela zona de qualquer maneira, então a informação que temos aqui é que esses dois homens foram baleados por militares. Disso não temos dúvidas. Acho que não queriam pagar o serviço de táxi, então nessa discussão acabaram matando", disse um residente local, explicando que o segundo moto-taxista foi baleado cerca de 300 metros do local onde iniciou a discussão.
"Tudo indica que, quando mataram o primeiro, o segundo moto taxista começou a fugir e, vendo que este podia denunciá-los, os soldados perseguiram-no e mataram-no também", acrescentou outro residente.
Os corpos das vítimas permaneceram ao ar livre e foram evacuados por volta das 13h00 por uma equipa multi-sectorial liderada pelo Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) que até ao momento não se pronunciou.
Em Maringanhe, embora os residentes considerem uma zona calma em termos de criminalidade, há relatos de violações sexuais e violação de direitos humanos protagonizados pelos militares.
“Recentemente, um militar foi encontrado a violar sexualmente uma menina numa casa inacabada. Nós só ouvimos gritos e quando chegamos encontramos os dois. Os familiares da menor bateram no militar que foi salvo pela polícia comunitária", narrou outro residente de Maringanhe.
As nossas fontes apelam às autoridades a intensificar a educação patriótica dos membros das Forças de Defesa e Segurança para ter a mesma postura dos soldados ruandeses.
O suposto envolvimento dos membros das Forças Armadas de Defesa de Moçambique nos dois baleamentos em Maringanhe aconteceu cerca de duas semanas depois da visita do ministro da Defesa Nacional, Cristóvão Chume, às obras do hospital militar em construção naquele bairro.
A Polícia da República de Moçambique já está no terreno para investigar o caso e promete pronunciar-se dentro em breve. (Carta)
O enchimento de urnas não é novidade, mas foi muito mais descarado e aberto nesta eleição em comparação com eleições passadas. Os observadores da União Europeia testemunharam o enchimento de urnas em seis províncias, disse a observadora-chefe Laura Ballarin Cereza, em conferência de imprensa, na sexta-feira.
E os observadores nacionais observaram enchimento de urnas em 10% das assembleias de voto visitadas na Zambézia, que novamente é a pior província. Observadores na Zambézia relataram muitos presidentes com pilhas de boletins de voto já arrancados do livro de votos, prontos para serem entregues a pessoas seleccionadas que irão preencher vários boletins de voto para a Frelimo e depois dobrá-los.
Num exemplo particularmente óbvio, o Presidente da Mesa de Voto deu três boletins de voto adicionais a um eleitor que depois se dirigiu à cabina de votação, mas o eleitor regressou ao Presidente da Mesa para pedir mais um boletim de voto extra. Todos foram colocados nas urnas.
Noutro caso, o presidente foi instruído a entregar boletins de voto adicionais a um director de escola que fosse mais antigo no partido. Mas, noutra Assembleia de Voto, um director de escola queixou-se de não terem recebido boletins de voto adicionais suficientes. Contudo, nem todos os presidentes acertaram. Numa assembleia de voto, eleitores furiosos rasgaram os boletins de voto extra que receberam.
E os observadores relataram que eleitores com pastas e telefones entraram nas cabines de votação. Diz-se que as pastas contêm boletins de voto extras e o telefone serve para tirar foto dos boletins de voto, para que a pessoa possa ser paga. Para evitar isso, os celulares não são permitidos nas cabines de votação, mas os funcionários nunca se opõem.
Todos esses casos foram vistos e relatados por observadores. Não há mais nenhuma tentativa de manter em segredo o enchimento das urnas. Em três assembleias de voto onde os delegados da oposição se opuseram, a polícia foi chamada e os delegados decidiram não continuar o seu protesto. (Joe Hanlon)
Quase todas as 30 empresas petrolíferas que importam e distribuem combustíveis em Moçambique estão afectadas pela grave escassez de moeda externa no sistema bancário nacional. O facto ameaça a normal distribuição de produtos petrolíferos nos próximos tempos em todo o país, gerando uma crise na economia.
Com a escassez de divisas, as empresas enfrentam sérias dificuldades para importar combustíveis ou mesmo emitir garantias bancárias para o efeito. Dados na posse da “Carta” indicam que, até meados de Outubro corrente, há combustíveis em terminais oceânicos avaliados em 120 milhões de USD em financial hold. Isto é, os produtos são descarregados e retidos, mas não são tomados pela empresa distribuidora que encomendou por falta de pagamento ou exibição de garantia bancária.
Das cerca de 30 empresas afectadas pela escassez de divisas, está a Puma Energy que há dias informou os seus clientes sobre a possibilidade de diminuir o fornecimento aos seus clientes.
“Devido a circunstâncias fora do nosso controlo, lamentamos informar que estamos a enfrentar dificuldades consideráveis na importação de produtos combustíveis, em virtude da grave escassez de moeda estrangeira disponível nos bancos comerciais”, informou a empresa em carta a que o Jornal teve acesso.
Segundo a Puma Energy, a obtenção de garantias bancárias necessárias para assegurar nossas aquisições de combustível tem-se revelado extremamente desafiadora. “Como consequência, as nossas importações foram impactadas, e este cenário pode, eventualmente, resultar em ajustes temporários no fornecimento aos nossos clientes”, lê-se na carta.
Contudo, a companhia garante envidar todos os esforços para minimizar o impacto desta situação e manter contacto constante com as partes interessadas relevantes, incluindo bancos e o Governo. Caso não haja melhorias no acesso a divisas, a Puma Energy diz que será inevitável uma reavaliação das suas operações, incluindo o volume de vendas.
A escassez de divisas no sistema bancário agravou-se quando o Banco de Moçambique parou de comparticipar na factura de importação de combustíveis em finais de Maio de 2023, para além dos efeitos da crise pandémica, do conflito entre a Rússia e a Ucrânia e no Médio Oriente. (Evaristo Chilingue)
Mais de 500 vice-presidentes das Mesas de Votação estão agastados com a forma como o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) processa o pagamento dos subsídios. Segundo relatos, muitos MMV estão desde sábado a tentar receber os seus pagamentos, mas sem sucesso devido à morosidade do processo.
“Sinto-me muito triste com toda esta situação. Trabalhamos muito, mas não está a ser fácil receber o nosso dinheiro. Há muita lentidão no processo, e são apenas duas pessoas realizando pagamentos para mais de 500 Vice-Presidentes de Mesa de Votação. Eles dizem que o processo termina hoje, domingo, para este grupo, mas do jeito que as coisas estão, vamos dormir aqui”, relatou uma das fontes, que preferiu não ser identificada.
Outro MMV contou à “Carta” que muitos colegas que chegaram ao Instituto Industrial da Matola, local escolhido para o pagamento dos subsídios, nas primeiras horas (entre 04 e 09 horas), mas ainda não receberam os seus valores porque a fila não avança.
“Cheguei às 07h00, mas até agora, 17h00, ainda não tive o meu subsídio. Aqui entra quem tem 100 Mts para subornar os polícias e passar para frente. Mas daqui não saio sem o meu valor, vivo muito longe e não foi fácil chegar aqui”, relatou outra fonte.
Mais adiante, conversamos com outra fonte, que já estava com a voz rouca de tanto gritar para exigir aquilo que é seu por direito. “Cheguei a este local às 07h00, não levei comida porque não sabia que estaria aqui até às 15h00. A fila não anda, muitos MMV que chegam vão entrando mediante pagamento de suborno, e nós, que não temos nada, somos obrigados a aguentar a fila. Há relatos de colegas que saíram deste local ontem por volta das 20h00 e acabaram sendo assaltados e tiveram os seus subsídios roubados. Então, eu penso que isso é propositado, para chegarmos às nossas casas sem nada”.
Cármen Maoche, residente na Machava, lançou um grito de socorro. “Pedimos socorro às autoridades competentes. Trabalhamos duro, mesmo nas formações não tínhamos subsídio de alimentação e de transporte. Mas não podíamos faltar, pois, seríamos substituídos. Aguentamos tudo isso na expectativa de que receberíamos o nosso dinheiro sem todos esses constrangimentos. Trabalhamos para eles e agora temos que chorar para que nos paguem”.
Entretanto, “Carta” tentou ouvir o Secretariado de Administração Eleitoral (STAE) da Matola, que prometeu reagir esta segunda-feira. (M. Afonso)