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Carta de Opinião

segunda-feira, 04 fevereiro 2019 11:45

A disputa por Manuel Chang

O debate sobre a extradição do até aqui deputado da Assembleia da República, Manuel Chang, continua a alimentar muitos comentários e prognósticos sobre o seu futuro. Essencialmente, as posições que mais vingam são duas: extraditar Chang para os Estados Unidos da América ou para Moçambique. A manutenção de Chang na África do Sul seria uma terceira, mas não tem sido muito considerada, pois é generalizada a ideia de que África do Sul tem pouco ou nenhum interesse na sua prisão. Os que advogam que Manuel Chang deve ser devolvido para Moçambique o fazem partindo do princípio de que é em Moçambique onde estariam localizados os bens de Chang e que a recuperação desses seria melhor conseguida se o processo correr aqui; que foram instituições Moçambicanas que foram prejudicadas, que ele é moçambicano, e que toda a trama fora realizada em Moçambique, e tantas outros argumentos que, quanto a mim, fazem pouco sentido, se não apenas as últimas tentativas de segurar o vento pelas mãos.

 

Para começo de conversa, qual é a instituição moçambicana que foi burlada? Quem são os tais bondholders? A favor de que moçambicano se pretende recuperar os bens que Chang e os seus camaradas adquiriram com o dinheiro das dívidas? Até onde eu percebo este processo, Chang e os seus amigos não roubaram dinheiro de Moçambique e nem transferiram valores ou coisa alguma para o exterior que se possa pretender recuperar. O que se sabe é que ele e os amigos montaram um esquema fraudulento, protegidos pelo regime de então, e enganaram algumas instituições e indivíduos lá do hemisfério norte, dizendo que estavam a fazer negócio em nome dos moçambicanos.

 

Portanto, aqui não há que se falar de recuperação dos bens de Chang que estão em Moçambique para pagar aos moçambicanos. O que os moçambicanos revindicam é que o seu nome seja retirado desta tramoia ou maracutaia (como diria Lula da Silva, quando também era do povo) e não aceitarem pagar uma dívida da qual não viram se quer de que cor era o tal dinheiro. Se há alguém que tem direito a revindicar que os bens sejam recuperados e lhes sejam pagos os dinheiros roubados, são as instituições e indivíduos que compraram esta dívida montada na calada da noite em algum lugar que só eles podem explicar. Das dívidas ocultas, Manuel Chang não deve dinheiro aos moçambicanos, deve sim aos gringos e é por isso que estão a trás dele para cobrar o lhes deve.

 

O dinheiro que Chang, e outros que governaram nos tempos da outra senhora, nos deve é do Tesouro, do Banco Austral, do BCM e outros dinheiros dos quais ainda não nos esquecemos. Sobre esse os moçambicanos ainda vão cobrar. Em relação às dívidas ocultas, os moçambicanos não pretendem receber dinheiro nenhum, apenas não querem ser obrigados a pagar nenhuma dívida ilegal e inconstitucional que em nada contribuiu para as suas vidas e, por isso, dizem EU NÃO PAGO!

 

Parece estar claro que os maiores interessados em que Chang seja de facto julgado, e bem julgado, são aqueles de quem ele e os seus camaradas roubaram dinheiro, aqueles que compraram a dívida oculta. Os moçambicanos querem apenas tirar o nome do país deste imbróglio e ficarem longe destas dívidas, e assegurarem-se que não haverá nenhuma possibilidade de serem obrigados a pagar o que não devem. O esforço titânico de trazer Chang para Moçambique, que conta com o apoio incondicional do seu partido, da PGR e do Tribunal Supremo, não mais é que uma tentativa de evitar que Chang e os outros enfrentem a justiça Americana e, de facto, paguem o que devem a quem é devido. 

 

É sintomático que, depois de vários comentários indicando que o TS citou leis revogadas, que o pedido formulado à Assembleia da República não é o mais adequado para o caso; que a anuência da AR para que Chang seja preso sem que lhe tenha sido retirada a sua imunidade viola a lei e a Constituição da República, nenhum destes órgãos tenha reagido a estes comentários nem se mostrado pronto a corrigir tais erros. Esta indiferença pode revelar uma desorganização desorganizada para favorecer Manuel Chang e, por via dele, os restantes camaradas na lista. É muito estranho que o Juiz Conselheiro do TS, Dr. Sebastião Rafael, conhecedor profundo das leis, em particular as criminais, com larga experiência em vários sectores da administração da justiça do nosso país, formador, docente universitário e estudioso do Direito, não tenha visto estas incongruências que, como diria o saudoso presidente Afonso Dhlakama, “até os passarinhos viram”.  Se Manuel Chang for, por uma eventual hipótese, extraditado para Moçambique (como alguns já vaticinam) poderá se considerar um homem livre. O mesmo tribunal que pediu a anuência da AR para permitir que Chang fosse preso, será o mesmo tribunal que vai mandar o cidadão e Deputado Manuel Chang ir em paz e em liberdade, por a sua prisão se mostrar ilegal e inconstitucional. Para a defesa de Chang bastará citar o Estatuto do Deputado e a Constituição para dizer que, como Deputado Manuel Chang não pode ser detido, salvo em caso de flagrante delito, e indicar que as leis que fundamentam a sua prisão foram revogadas. Mantendo-se o status quo Manuel Chang regressaria a Moçambique com a sua im(p)unidade ainda intacta.

 

Se a nossa justiça quiser recuperar alguma dignidade, é chegada a altura de parar com as manobras para inviabilizar a extradição de Chang para os Estados Unidos da América; se a AR, ou melhor a bancada que apoia a extradição de Chang para Moçambique, quiser se reconciliar com o povo, é melhor fazer o que é de lei, retirar-lhe primeiro a imunidade parlamentar para vermos a seriedade com que pretender lidar com este assunto. Por enquanto, o meu parecer é de que Chang deve ser julgado nos EUA e o povo moçambicano deve ser liberto de qualquer responsabilidade em relação às dívidas.

sexta-feira, 01 fevereiro 2019 07:38

Fátima Mimbiri não vai “morrer”

Cinco razões: Não há causa; Ela é Mulher; A experiência mostra que essa não é uma acção de resultados desejados; O “timing” também é mau (sendo ano de eleições, e num momento em que a imagem do partidão está na lama) e não está fechado o assunto Chang; O resultado seria catastrófico ainda.

 

Não há causa? Há sim. Ela, através do CIP, das Televisões que a chamam e a colocam no ar, com o Facebook que não fecha a conta a dela, etc, estão a dar espaço para que ela “abra a boca”. Isso é que é “causa”: Boca Aberta, Boca Grande ou Boca Irrequieta. Todavia, do mesmo jeito que era impróprio, em 1970, uma mulher usar calças e hoje é normalíssimo e, até fica bonito, porquê até hoje não se olha como algo normal, uma cidadã ser um “alto-falante”? É que, as escolas de jornalismo estão aos pontapés pelo país e, aquilo que se ensina, continua a ser a mesma coisa em todas elas: “ensinar a difundir informação; talhar a sociedade de pensamento crítico”. 

 

Portanto, “calar” Fátima não resultaria tão eficazmente, porque os mesmos espaços de aprendizagem e os de difusão, manter-se-ão intactos, activos e com maior força ideológica e, em pouquíssimo tempo, surgiriam novas “Fátimas”. Para quê criar uma Nossa Senhora de Fátima moçambicana? 

 

Ela é Mulher? Sim. A FRELIMO sabe como têm sido cruciais e preciosas as mulheres, no geral (não somente as da OMM), para a mobilização e propaganda ideológica à seu favor. Exemplos recentes do Brasil ou mesmo EUA aonde a onda feminina fez diferença nas urnas devia ajudar a decidir nestes momentos de grande confusão. Talvez Bolsonaro tivesse tido uma luta menos estafante, uma vez que a outra parte era apoiada pelos “Lulistas”, uma ala outrora fragilizada. Todavia, o descuidado discursos de Bolsonaro e irritadiço para as mulheres jogou a seu desfavor funcionando como um “enxame de vespas” em ataque contrário. Em Moçambique, viveu-se um certo tempo e de vazio, com as ausências de figuras femininas de proa, aonde Lina Magaia ou Alice Mabota se destacam.

 

A sua ascensão gradual e natural, prova que Fátima Mimbiri não escolheu a posição que hoje tem. Ela foi eleita pela massa popular como irmã, mana, mãe, amiga, vizinha querida, etc, e defensora de seus ideias. Nada do que ela tem dito tem sido diferente do que os demais disseram. Joaquim Chissano e Tomás Salomão, por exemplo, falaram demais para pessoas que não são da FRELIMO - mas sim, são a própria FRELIMO. Há dias, Samora Machel Jr. pronunciou-se, igualmente, em relação às dívidas e, coincidentemente, defendeu aquilo que é o enunciado do CIP, sem se esquecer de pedir uma reunião para debater tais situações na FRELIMO.

 

Todavia, todos esses ditos, não só destes FRELIMISTAS, mas também de outras figuras de relevo, até mais importantes que a Fátima na sociedade moçambicana, não têm tido o mesmo peso ou impacto pois, o que o Povo quer, é ouvir, é confiar e seguir o próprio Povo e, a Fátima Mimbiri é o povo falando para ele mesmo. O discurso dela não é mais bonito, o mais organizado, o mais intelectual que os demais, mas vinga ou penetra nas pessoas pois tem o “tempero popular”, dada a sua espontaneidade. Calar Fátima pode significar um tiro contra todas as mulheres moçambicanas. Seria igual a pedir guerra à Al Quaeda: “nunca se desafia para luta alguém que não tenha medo de morrer” – provérbio popular jihadista. Uma pergunta (que não responderei) à este propósito: quantos homens já venceram uma briga comprada contra uma mulher?...

quarta-feira, 30 janeiro 2019 05:30

A época do parte-pernas está quase a voltar

Malta Salema, Macuane já não mais são os alvos. Outros fala-baratos dos programas da STV e MIRA-MAR idem, malta Nuvunga, etc, não são mais apetecíveis para virarem muchuchu de galinha. Esses do CIP, que andam aí a distribuir camisetes, ora fazem cobertura do julgamento em Kempton Park ora promovem abaixo assinados para irem submeter lá no CC, também não criam ganas de serem dados tiros como aqueles do CISTAC, ou então tramá-los, mandando para o Tribunal, acusado-os de uns crimezinhos iguais aos que Matias Guente sofreu. Nem vocês do Facebook, que não param de bombar informações e opiniões... bombam posts, bombam comentários, bombam caricaturas, bombam vídeos de Trump, bombam tudo, mas, mesmo irritando os boisses, não interessam… Pois, todos, desta vez, não criaram nada! Não são culpados… Não foram vocês que fizeram aquela peça chinesa ir acabar em Modderbee…

 

Os que vão abrir a época de Parte-Pernas são esses, que era suposto serem trabalhadores dos boisses. Esses que agora estão a fingir obedecer e trabalhar mas, meia volta, sabotam fazendo-se passar por incompetentes, esquecidos, trapalhões, lerdas, etc. Esses vão acabar por conhecer a fúria dos homens do poder. Do verdadeiro poder. É que os do poder, do verdadeiro poder, não são burros não! A missão sempre esteve Muitíssimo bem clara: resgatar a peça chinesa antes que ela dê a língua com os dentes e sujar a todos. Trazer esse diabético antes de ele bufar aqueles nomes que estão codificados no Relatório da Kroll só para reduzir a pena dele… Trazer, imediatamente, esse tomador de sumo de maracujá e nada de se falar “daquilo ali” de extradição para os EUA. Se é que estavam a precisar de “help”, isso foi dado, uma vez que, até o Ramaphosa foi chamado para dar dicas e, com ele foi visto esse truque de protocolos da SADC. Portanto, nada de ladainhas… Pois: missão dada é missão cumprida. Porém, estão aí a preferir fingir serem lerdas.

 

No tempo do bem bom, para receber flats, não eram lerdas. Quando foi para expedir “aqueles” despachos de Subida de Cargos, não se comportaram como trapalhões não, acertavam na data, invocavam Leis actuais e tudo. Quando a fome ou a vontade de luxúria aparecia, iam pedir dólares e viagens na classe A e, nessa altura, não vislumbrou-se nada de incompetência em vocês. Agora, porquê é que, estão TODOS, ABSOLUTAMENTE TODOS, estupidificados? É um conluio? Falem… É isso? Heeeiiimmm? Olha, vamos lá parar com brincadeiras. VÁMO LÁ PARÁR COM ESSA CENA DE BRINCAR POOORAAAAAA… Digam lá: Vocês vão ou não trazer o Indivíduo C para a Pérola do Índico? Vão ou nãoooo?

 

É que estão a irritar, sabe? Como é possível um Juiz Conselheiro, que falou-se bem com ele e explicou-se o que era para fazer, de modo a ajudar a Buchili no resgate de Chang, de repente, começar a se fazer de maluco, citando leis revogadas? QUATRO Leis revogadas?????? 1,2,3 e 4. Um erro seria normal, mas 4????? Faz-se isso? É erro isso mesmo? Esses do facebook, esses analistas de meia tigela, podem ser enganados sim. Gostam eles de ver aquilo para vos chamar de parvos, incompetentes, etc. Eles que fiquem aí a pensarem que você Juiz Conselheiro, um Venerando Juiz Conselheiro do Tribunal Supremo, Dr. Rafael Sebastião, virou incompetente e trapalhão. Mas nós não!!!! NÓS NÃÃÃÃÃÃOOOO... É bom te pores a Pau… Ou essas tuas perninhas vão virar canja.

 

A outra é aquela senhora. Demos a ela a cadeira de Presidente da Assembleia, naquela ladainha de igualdade de direitos e tal. Agora, já virou as costas. Esqueceu de onde bebeu o primeiro leite? Quer sabotar né? Como é possível uma pessoa como você convocar uma reunião para dia 29 de Janeiro de 2019, mas esse ofício que convoca estar datado de 24 de Fevereiro de 2019? Esses do Facebook pensam que te enganaste… Que foi porque tudo se fez às pressas. Mas no Topo não há burros. É que, só um deputado já tem direito a um ADC e, imagina você mamã? Seria possível você, teu ADC, teu Vice, etc., errarem uma carta de menos de 100 palavras? Não brinca ouviu? NÃO BRINCA. E para piorar, a tal reunião da Comissão Permanente, foi presidida pelo mesmo Edson que foi, outrora, severamente criticado por Venâncio Mondlane e acabou por ser substituído por Sérgio Pantie em 2016. Quer dizer, foram buscar uma pessoa que faz lembrar problemas. Isso não é erro não. É vontade de criar celeuma no Povo só para estragar os planos dos poderosos, se fazendo passar por maluco. Vocês não são malucos…

 

E você Buchili… Ohh Buchiliiii… Bichilê… Você não aprende mesmo? Não sabias que esta jogada toda só teria pernas mesmo, se depois de anunciar que tens 16/18 arguidos, começasses imediatamente, a prender de “mentirinha” alguns? Não sabias mesmo? Se até no Facebook, nas TV´s, nos jornais digitais, já antes do dia 8 de Janeiro de 2019 se dizia como agir. Custava mesmo descodificar alguns nomes? Alguzinhos só… Uns dois? Para servir de matéria forte de modo, que a Justiça Sul-Africana olhasse isso e desse provimento à possibilidade de o Tomador de Sumo de Maracujá merecer voltar para seu país ou então, na pior das hipóteses, ser julgado na Terra do Rand, que não é igual a ir para Nova Iorque... Mas, não sabias disso mesmo? Você está a brincar… E já não é a primeira vez.

 

Machado existe! Martelo tem também! Pistolas então? Rapazes corajosos para partir ossos das penas já nem se fala, são muitos. Será que é preciso começar a partir pernas para vocês pararem de dar esse espectaculizito de palermice? Vocês sabem que os “grandes” sempre tiveram noção de que, de IDIOTA vocês nada têm? Heim? Vocês querem que o regime caia não é? Só pode ser isso… Só não podem sair á rua, corroborar com “aqueles” e falar, também, de “Limpeza de Fileiras” ou “Não Se Pode Rotular Todos da FREL, Enquanto Foram Só Meia Dúzia” porque não dá. Mas, nos vossos corações, querem que o Changuito vá a terra do Trump e acabe connosco… É isso né? Estão do lado da oposição?

 

Então, antes que A ÉPOCA DE PARTE PERNAS SEJA DADA COMO ABERTA, fiquem a saber que JÁ ESTÃO AVISADOS. Acabou esse espectáculo de falsa incompetência, de irreais esquecimentos, de inexistentes trapalhices e de lerdices estúpidas…

FAÇAM O QUE VOS MANDARAM OU...

quarta-feira, 30 janeiro 2019 05:28

O comboio dos bitongas não volta mais

Ao Fazal Lacá, um machope nascido em Inharrime, e que Niassa arrebatou até à morte.

 

Não era só dos bitongas, mas também dos machopes. Misturava as duas etnias em carruagens com bancos de madeira, e uma ou duas com estofos de napa para os privilegiados. Mexia com os locais por onde passava, fazendo tremer a terra. Parava em estações e apeadeiros do tipo “farwest”  - para embarque e desembarque - estendidos ao longo de uma extensão de cerca de noventa quilómetros entre a cidade de Inhambane e a vila de Inharrime. Era uma festa. Proporcionada por uma máquina à vapor numa altura em que não se falava, como hoje, da poluição do ambiente. E esse tempo não dá indicações de que vai voltar um dia.

 

Estou apinhado num “chapa”. Sou uma lenha. Que se junta à outras lenhas que vão compor um feixe  pronto para ser destruído a qualquer momento numa curva ou numa ribanceira, ou ainda num embate frontal irresponsável. Porém o que me reconforta apesar desse desconforto é que aqui dentro, onde mesmo assim estamos todos sentados, não há algazarra. O nosso silêncio colectivo dá total liberdade à música que se ouve nas colunas que libertam som equalizado. Boa música, em volume baixo para  o sossego da alma!

 

Lá vamos nós. De Inharrime à cidade de Inhambane. De “chapa”. Apertados. Oiço o som dos pratos da bateria anunciado a entrada em cena de Hugh Masekela que vai cantar o embalsamante “Stimela”. Transformando o pequeno autocarro que nos transporta como sardinhas desdenháveis numa agradável discoteca. E toda essa levitação do espírito faz esquecer o sofrimento do corpo. Ao mesmo tempo que me recordo do tempo em que nesta terra tivemos um “stimela” que fazia parte da nossa história. Mas do registo desse “poema lírico”, ficaram apenas os hangares transformados num mamarracho, e uma locomotiva negligenciada. Lembrando-nos que aquele comboio era um poema dos bitongas. E dos machopes.  

 

Arrancaram os carris. De aço. Como se estivessem  a arrancar-nos o coração. Sem nos dizerem nada. Sem direito à consulta. Vieram buscar as locomotivas e as carruagens e os vagões. Meteram tudo em grandes camiões e foram-se embora. Deixando-nos com a saudade da música que o comboio cantava para dentro de nós: “pouca-terra, pouca-terra, pouca-terra”. Hoje já não há nada disso. Aliás, Eusébio Johane Ntamele já cantava: “khombo la mina mamana, va ranga hi mbilu va lhomula” (que azar é o meu, mãe: a primeira coisa que fizeram foi arrancar-me o coração). E se te arrancam primeiro o coração, o quê que vai restar de ti?

 

Tudo aquilo era um regalo. Por exemplo, quando a máquina apitasse, anunciando a chegada, homens e mulheres e velhos e crianças e paralíticos, desciam como várias ondas do mar que vão ser despejadas na estação. Ou no apeadeiro. Uma parte deles ia receber os familiares ou amigos. Mas a grande  maioria  ia apenas celebrar a chegada do comboio. Que traz no seu bojo passageiros distribuidos entre os bitongas e os machopes. Todos queriam abraçar a máquina com os olhos e a alma.

 

Os vagões vinham cheios de lenha. Troncos para os fogueiros. As carruagens de carga abarrotavam de mandioca fresca, milho, farinha de mandioca, mel, ananás, manga e quejandos. Cumplicidade. Os Caminhos de Ferro de Moçambique por estas bandas não faziam muito dinheiro com o empreendimento. Contudo davam alegria às pessoas. Ofereciam vida. Quase de graça. Também hoje se calhar as máquinas à vapor não façam parte do nosso tempo. Mas a poesia celebra-se eternamente.

segunda-feira, 28 janeiro 2019 16:29

O parecer de Eduardo Namburete

Sobre o pedido de consentimento do TS à AR para a prisão preventiva do deputado Manual Chang

 

 O Tribunal Supremo, pelo punho do Venerando Juiz Conselheiro do Tribunal Supremo, Dr. Rafael Sebastião, endereçou um ofício à Presidente da Assembleia da República solicitando que a Assembleia da República dê “... o consentimento para a imposição da medida de coacção máxima (que ao caso é a prisão preventiva), nos termos do artigo 173 da Constituição da República e do artigo 13 do Estatuto do Deputado, aprovado pela lei nº 31/2014 de 30 de Dezembro”. 

 

O Tribunal Supremo justifica o seu pedido “por haver receio de fuga uma vez que o arguido se encontra fora do país correndo-se o risco de não atingir os fins do processo, além da perturbação da instrução do processo mantendo-se o arguido em liberdade”.

 

De acordo com o ofício do Tribunal Supremo, o até aqui Deputado da Assembleia da República Manuel Chang é acusado de vários crimes, nomeadamente o de Abuso de cargo ou funções, previsto e punido pelo artigo 16 da Lei nº 9/87 de 18 de Setembro; crime de violação da legalidade orçamental, previsto e punido nos termos do artigo 9 da lei nº 7/98, de 15 de Junho, conjugado com o número 5 do artigo 22 da Lei nº 15/97 de 10 de Junho, referente ao Orçamento e à Conta Geral do Estado, artigo 11 da Lei nº 1/2013 de 7 de Janeiro que aprova o Orçamento do Estado para 2013 e artigo 11 da Lei nº 1/2014, de 24 de Janeiro que aprova o Orçamento do Estado para 2014 e artigo 77 al. a) da Lei nº16/2012 de 14 de Agosto; crime de Burla por defraudação, previsto e punido pelos artigos 451 nº 3 e 421 nº 5, ambos do Código Penal vigente; crime de Peculato, previsto e punido nos termos do artigo 313, conugado com o artigo 437, ambos do Código Penal vigente; Corrupção passiva para acto ilícito, previsto e punido nos termos do artigo 7 da Lei nº 6/2004, de 17 de Junho; e Branqueamento de capitais, previsto e punido nos termos conjugados dos artigos 4, nº 1, al. a), artigo 7, nº 1, als. i), k) e t), e artigo 75, nº 1, al. a) da Lei nº 14/2013, de 12 de Agosto.

 

O pedido do Tribunal Supremo é explícito e não deixa margem de dúvidas quanto aos seus propósitos que é para que a Assembleia da República dê o seu consentimento para que Manuel Chang seja preso. E esse pedido é feito com base no artigo 173 da Constituição da República e do Estatuto do Deputado. Vamo-nos concentrar na Constituição da República e abstrairmo-nos, por alguns instantes do Estatuto do Deputado, em respeito ao que estabelece o nº 4 do artigo 2 da Constituição da República, que as normas Constitucionais prevalecem sobre todas as restantes normas do ordenamento jurídico.

 

O artigo 173 da Constituição da República que é citado pelo Tribunal Supremo para fundamentar o seu pedido, estabelece no seu nº 1 que “nenhum Deputado pode ser detido ou preso, salvo em caso de flagrante delito, ou submetido a julgamento sem consentimento da Assembleia da República”. Fazendo uma leitura atenta a este número, evidente fica que o Deputado só pode ser detido ou preso em caso de flagrante delito, assim como ser submetido a julgamento somente com o consentimento da Assembleia da República.

 

No caso concreto, a pretensão do Tribunal Supremo é prender preventivamente o Deputado Manuel Chang, o que, não se estando em presença de flagrante delito, seria uma grosseira violação do estabelecido na primeira parte deste nº 1 do artigo 173 da Constituição da República. O pedido de consentimento da Assembleia da República só faria sentido se fosse para submeter o Deputado Manuel Chang a julgamento, conforme se pode extrair da segunda parte deste mesmo nº 1 do artigo 173.

 

Atento ao estabelecido no artigo 173 da Constituição da República, e não se estando perante um flagrante delito, o pedido do Tribunal Supremo constitui um apelo à violação da Constituição da República, porquanto não estão reunidos os requisitos constitucionais para que o pedido proceda. A Assembleia da República poderia dar o seu consentimento, não para a prisão do Deputado Manuel Chang, mas sim para ele ser submetido a julgamento, o que se efectivaria através do levantamento da imunidade parlamentar de que Chang goza enquanto Deputado, observando-se as formalidades previstas no artigo 16 do regimento da Assembleia da República.

Quero partilhar algumas ideias. Alguns exemplos de sucesso de que uma onda de “negação” pode positivamente causar. Falo de casos que acontecem, talvez todos os dias aqui nas “nossas barbas” e não se nota facilmente. Quero também negar a crença, que é irreal, de que “O Moçambicano É Tolerante” (sinónimo de panhonho). Essa de TOLERANTE, é das maiores asneiras que se pronuncia por aqui na Pérola do Índico. Mas, não fujamos do assunto. 

 

Em 1996, eu ainda muito jovem, fui à Cidade da Beira, Província de Sofala. Nunca tinha sentido uma espécie de “pensamento comum”. Nunca tinha visto no rosto nas atitudes de pessoas, uma coisa que hoje entendo como DETERMINAÇÃO. Na altura, fazia poucos anos que a Coca-Cola, SABCO tinha retornado a Moçambique. Nem todas as variedades de sabores existiam quando a empresa se reinstalou, em 1994. Só vendiam o sabor Coca-Cola e foram progredindo para Fanta, Sprite e por aí em diante. Bebemos, quando a fábrica abriu, a garrafa de 300ml ou ao preço de 1500Mt que hoje seriam 1,5Mt (Um Metical e Cinquenta Centavos). 

 

Falo de 1.500Mt porque a Nova Família do Metical só entrou em vigor em 2006, a 1 de Julho. Com o evoluir dos anos, penso que em 2002 ou pouco depois, a mesma garrafa de 300ml já tinha subido de preço e cifrava-se em 7.5Mt. Quando fui a Beira, percebi que “os beirenses” não toleraram essas constantes subidas. Sei que não houve uma manifestação contra a empresa Coca-Cola, mas o seu sentido de “pensamento comum” fez com que NINGUÉM pagasse esses 7.5Mt que aqui em Maputo eram pagos. Eles, pura e simplesmente PARÁRAM DE CONSUMIR os refrigerantes. A empresa foi forçada a baixar o preço até ao nível que “eles se predispunham a pagar”, que eram os 5Mt. Reparei que, até há bem pouco tempo, talvez uns 3 ou cinco anos atrás, na Beira o refrigerante sempre esteve mais barato que Maputo. O facto de a Coca-Cola ter introduzido a garrafa de 200ml e outras formas de embalagem como a plástica mudou hoje esse cenário que constatei há vários anos atrás.

 

O preço do refrigerante – atente-se que nem precisaram de Associação de Defesa do Consumidor - não foi o único que “eles” (devia ser nós Moçambique) contestaram veemente. As subidas dos preço do chapa, do pão e nos dias recentes do Txopela, também foram combatidos. Importa e muito falar do Txopela. Os Txopelas emergiram em Maputo (Moçambique) com a tónica de serem uma alternativa barata aos Táxis convencionais. Carros normais, como um Toyota Vitz, que por exemplo, tem um Motor de 1.000cc, já são maiores em motor e por conseguinte, maiores consumidores de combustível que um Txopela, pois este tem apenas 200cc, portanto, 5 vezes mais económico. Entretanto, esta opção de preço baixo em Maputo, só durou alguns meses, talvez pouquérrimos anos. Nos dias de hoje (isso testei, pessoalmente) uma distância de 4Km em Maputo é cobrada 200Mt.

 

Experimentem estar no Supermercado MICA ou Shoprite de Maputo no Bairro da Malhangalene e pedir ao txopeleiro para descer no Bairro do Aeroporto (é uma distância de 4Km, aproximadamente) e virão que serão cobrados esses 200Mt. É um absurdo permitido na Cidade e Província de Maputo. Se um Toyota Vitz consome apenas 1 litro a cada 12Km, então um Txopela que é cinco vezes mais barato poderá, na pior da hipóteses consumir metade disso. Portanto, numa distância de 4Km não consumirá mais que um sexto do litro de combustível, logo, o custo em combustível, nesse trajecto é de 11Mt. Já na Beira (algo que também testei, recentemente) se se sair do Supermercado Shoprite da Beira até ao bairro Palmeiras (Próximo ao Tropicana), que é uma distância de 4Km, o Txopela só cobrará 70Mt, portanto abaixo da metade do que se cobra em Maputo. E veja que são 70Mt que eu não quis negociar porque aqui em Maputo pagaria mais 130Mt. Porquê, então, essas diferenças de preço? 

 

Os economistas até poderão fundamentar com teorias de sua região intelectual, mas para mim estas diferenças prendem-se com a mentalidade da população daquela região – BEIRENSE NÃO TOLERA ABUSOS OU INJUSTIÇAS. E esta aura de necessidade de ser respeitado é algo que está inculcado em cada beirense. É algo que está até na medula óssea dele. Basta um beirense do bairro de Matacuane dizer NÃO QUERO, é porque, de certeza, de certezinha que, o beirense do bairro Esturro dirá, exactamente, a mesma coisa... isso existe desde 1996 que eu saiba e não havia Internet, Facebook e WhatsApp para falarem de “Influência do Exterior”…

 

Não fiz estudo algum, mas, hoje quando olho a mudança no panorama político na região centro e norte, fico claro que a mentalidade lá é, definitivamente, diferente. Asseveraria que o MDM, jamais teria a oportunidade que teve se estivesse em Maputo. Na Cidade da Beira, Deviz Simango, mesmo tendo se desligado da Coligação (aonde a Renamo fazia parte) e formado a sua organização, continuou e continua, até agora a merecer o apoio popular, como Presidente do Conselho Autárquico da Beira. 

 

O mesmo acontece com Quelimane aonde Manuel de Araújo, vai mudando de bandeira, mas o Povo não o larga. Isso é sinónimo de que, os espectáculos, as camisetas e bonés, as capulanas e lenços, etc. não afectam capacidade de julgamento de certos moçambicanos. Eles não esquecem quando você mente, injuria, despreza, etc... Muitos dirão que é porque aqui no sul - Maputo, Gaza e Inhambane - foram os locais aonde as atrocidades das armas mais se evidenciaram na Guerra dos 16 anos. Isso é falso, pois se assim fosse, essa UNIDADE para a JUSTIÇA, esse DEVER DO CIDADÃO para com os SEUS DIREITOS, na Beira, só se verificaria politicamente. Todavia, os exemplos Coca-Cola e Txopela demonstram que essa mentalidade, essa DETERMINAÇÃO e o espírito de “Um Só pensamento” se estende para os campos sociais e económicos.

 

Dito isto, acredito ter enunciado algo que demonstra que esse Chavão “O Moçambicano É Tolerante” é uma tese falsa. Isto mata também a ideia da “mão externa”. Há sim, um crescimento em termos de atitude que se começa a verificar cá para o Sul com muita mais acutilância. A votação na Matola é prova disso. Aliás, aqui mesmo em Maputo, nas eleições passadas verificaram-se fenómenos interessantes. Antropólogos podem especificar melhor que “experiências” os Povos do Centro e Norte do País vivenciaram durante décadas, senão séculos, até atingirem essa maturidade do tipo IMATRECÁVEIS  e de INSEPARÁVEIS que hoje apresentam. 

 

Cá no Sul, há ainda gente que cai na ladainha política de que “eles vão mudar”… Ou na ideia de que “nós pertencemos à elite e então devemos apoiar os Papás corruptos”. Por inocência ou mesmo por brutalidade, vemos muitos Maputenses (não é só para os naturais de Maputo, Gaza e Inhambane – mas também os do centro e norte, mas que já foram instrumentalizados) a procurarem, com todas as teorias possíveis justificar que a campanha EU NÃO PAGO AS DÍVIDAS OCULTAS é um erro. Tentam construir a ideia de que a campanha está mal formulada; ou então porque deve-se mesmo pagar uma vez que já se prometeu ao credor que Moçambique pagaria (e não pagar seria demonstração de irresponsabilidade que teria uma reacção severa do ocidente); ou ainda porque é algo vindo de fora (Teoria da Mão Externa).

 

O grande sucesso desta campanha deve-se exactamente ao facto de se notar um “evoluir” dessa MENTALIDADE ÚNICA, desse DEVER SOLIDÁRIO. Falo de solidariedade, porque o que muito aconteceu aqui em Maputo (e toda zona sul – por resvalo) é encontrar gente que, mesmo não sendo membro do partido A ou B, mas porque tem um salário ou emprego consistente, tender a não ser solidário para com o seu irmão que se manifesta ou chora porque essa “marcha” reduzirá o seu sofrimento, sua fome, seu frio. Essa gente sempre se diz para consigo “eu não me meto pois não é meu problema” como se a sua Mãe, a Mãe do Melhor Amigo, a sua Prima, o seu Tio Querido (aquele que vem fazer as vezes dele quando você vai lobolar), o seu Avó, a sua futura comadre, etc. não fossem pessoas por quem valesse a pela lutar por eles. Muitas vezes nem precisa fazer tanto, bastando NÃO ATRAPALHAR dizendo pouco da luta e esforço dos outros, pois isso só encoraja o OPRESSOR… Não sou o John Lenon mas, atrevo-me a dizer que I HAVE DREAM (Tenho Um Sonho) de ver Um Moçambique aonde todos querem o mesmo… e hoje NINGUÉM (menos os 16/18 e seus sequazes) QUER PAGAR ESSAS DÍVIDAS… 

 

Esse é um dos grandes méritos do CIP…