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Actualizado de Segunda a Sexta

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Carta de Opinião

Acabo de ler outro texto do “estratega comunicacional” Egídio Vaz (como ele se auto-percebe), desta vez onde eu é que sou o título. No novo texto, publicado também no jornal electrónico Carta de Moçambique, no dia 17 de Abril, ele não só não rebate os pontos levantados na minha crítica ao seu primeiro texto (nomeadamente leitura incompetente, citação desonesta e transposição pervertida à realidade moçambicana de uma obra antiga de Stanley Cohen) como também faz um caricato exercício jocoso de auto-celebração (com direito até a exibição curricular) e de jocosa adjectivação da minha pessoa. Aliás, nesta última parte o título do novo texto do Egídio Vaz fala por si mesmo: “Edgar Barroso, pombo-correio da desinformação e maleficência”. Não me ri. Fiquei seriamente preocupado.

 

Não vou insultá-lo como ele mesmo o fez comigo num texto prenhe de ódio e ameaças a minha integridade física, publicado e apagado horas depois de ser copiosamente enxovalhado pelos seus leitores. Não vou responder à vil tentativa de desvio do objecto em debate, quando o Egídio Vaz investe a sua (des)orientação no assassínio do meu carácter e não nos pontos por mim levantados no primeiro texto. Também não vou repetir neste texto os testemunhos sombrios que fui recebendo, em privado e de muitos dos seus mais chegados amigos e colegas (após lerem a sua infame reacção primeira ao meu texto), sobre algumas das nuances mais tenebrosas da sua conduta profissional, familiar e pessoal passada e recente. Um deles trabalhou com a sua esposa e outro ajudou-lhe a abrir a banca onde vende consultas ao poder do dia. Como já disse, não vou recorrer ao que teria sido mais fácil (e que tem sido o argumento mais forte do Egídio Vaz, deveras saliente no texto que acima fiz alusão) porque, além de ser desumano e descortês, é vil e contraproducente. Antes, aproveito a oportunidade para agradecer ao Egídio Vaz pela ousadia, arrancada a muito custo pela própria opinião pública que o segue, de me ter pedido desculpas pela reacção malcriada que o meu primeiro texto provocou no seu insuflável temperamento.

 

Por conseguinte, direi neste texto apenas quatro coisas.

 

Coisa número 1

 

Como dizia anteriormente, não me ri com o novo texto do Egídio Vaz onde eu é que sou o título. Fiquei seriamente preocupado. Não é necessariamente por causa da conotação delirante que uma expressão como a de “pombo-correio da desinformação”, quando emitida por um académico (?) da dimensão do Egídio Vaz e litigiosamente divorciada da exigida fundamentação, pode ter para os amigos (e para os cientistas) da razão. Efectivamente, não é só uma questão de insanidade mas também de rigor comunicacional. Seria metodologicamente apropriado apresentar e fundamentar a tese segundo a qual há desinformação na recensão crítica que fiz à associação de equívocos interpretativos que o Egídio Vaz fez ao citar (mal) as ideias de Stanley Cohen. O exercício intelectual mais básico aqui seria o de trazer evidências. Desafio lançado.

 

Prosseguindo, fiquei preocupado também com a competência linguística de um académico (?) internacionalmente consagrado como o Egídio Vaz pomposamente dá a entender que é, no seu texto, ao me chamar também de pombo-correio da “maleficência”. Ora, até num dicionário de bolso podem ser encontrados alguns sinónimos básicos da palavra “maleficência”: iniquidade, crueldade… Ainda estou por perceber, prezado Egídio Vaz, que iniquidade ou crueldade está a declarar que eu possuo, ao apelar para que te reconcilies com o rigor científico. Em que grau, número e medida, denunciar a torpeza de um exercício fraudulento de retalhar frases de dono, de forma desfasada e descontextualizada, para tentar legitimar discursos ideológicos contra pessoas, organizações da sociedade civil e media independentes, é um exercício maléfico, um acto de iniquidade? Responda-me objectivamente.

 

Coisa número 2

 

Vi, no texto que o Egídio Vaz escreveu com o meu nome como título, recorrentes referências ao carácter prolífico da sua carreira académica e à excepcional qualidade da sua intelectualidade. Congratulo-o por ser o primeiro moçambicano apenas com o grau de licenciatura nessa condição (não que não se possa ser intelectual sem se possuir um grau universitário ou detendo apenas o grau de licenciado, mas por ser o primeiro entre a classe dos académicos que faz disso algo pomposo e especial). Parabenizo-o também pela ousadia em ter chamado aos outros com o mesmo ou superior grau de licenciatura que o seu de “meros licenciados, mestres e doutores” (este auto-elogio pode ser encontrado no quarto parágrafo do texto do Egídio Vaz dirigido a mim). Reclamar só para si mesmo a qualidade de académico e de intelectual, de modo tão apaixonado e num universo tão diverso de oferta como o moçambicano, é obra.

 

Coisa número 3

 

O advento das novas tecnologias de informação e de comunicação (TIC´s) tem feito surgir em Moçambique, no século XXI, uma nova gama de intelectuais. Os intelectuais populares. Estes pop-intelectuais, de quem se contam com os dedos de uma só mão os livros completos que já puderam ler na vida, projectam-se para a fama através das TIC´s com uma série de textos controversos e de aparições mediáticas consumidas massivamente por um público sem muitas opções de leitura ou de informação alternativa e de qualidade. Muitos deles nunca escreveram, sozinhos, um livro sequer da sua exclusiva autoria (e nem precisaria de ser uma obra científica). Ignorantes dos limites da sua própria condição, naturalmente não percebem a diferença entre um mero gerador de opinião e um intelectual a sério.

 

No caso do Egídio Vaz, por exemplo, uma coisa é trabalhar a cheques para a indústria da comunicação e consultorias derivadas, outra é a de contribuir tangível e decisivamente para o progresso da sociedade em que ele se encontra inserido. Uma coisa é emitir opinião (o que ele faz muito bem, pese embora de forma altamente enviesada e ideológica) e outra é a capacidade de influenciar a sociedade. Aliás, desafio o Egídio Vaz a apresentar apenas uma ideia sua que tenha transformado Moçambique. É que o feedback diário dos seus leitores, ouvintes ou telespectadores dá um panorama aterrador da dimensão da fraude intelectual que insiste em residir indefinidamente no homem.  Igualmente, coloco-me à disposição para trabalhar com um bom estudante de ciências da linguagem, da comunicação ou mesmo das ciências sociais, como seu supervisor na elaboração de uma monografia ou dissertação de fim de curso usando o método de análise de discurso na sucessão de disparates que todos os dias sai para o mundo com a assinatura do Egídio Vaz.

 

Coisa número 4

 

A reacção emocional do Egídio Vaz ao meu primeiro texto reforçou ainda mais a minha convicção em relação à confusão que os pop-intelectuais (como ele) fazem sobre a academia. Um académico, por defeito, deve ter um vínculo permanente com uma instituição superior de ensino e/ou pesquisa, onde descobre ideias (e não simplesmente copia, compila e divulga as ideias de outros autores) e as coloca ao serviço da sociedade. Distingue-se pela qualidade das pesquisas feitas na área da sua especialização, pela qualidade de ensino oferecida aos seus estudantes e pela qualidade das suas actividades de extensão universitária. Egídio Vaz não tem nenhum indicador objectivo em qualquer um destes elementos, para pelo menos ser elegível à categoria de académico. Desengane-se ele se ingenuamente pensa que, na academia, as ideias são respeitadas em função do seu valor de mercado. Ou pelo número de trabalhos propagandísticos postados em redes sociais ou disseminados na imprensa.

 

Na academia, prezado Egídio Vaz, o fruto do trabalho intelectual não mantem uma relação de amantismo com a gordura da folha de salário ao teu dispor durante a governação do presidente Nyusi. Viver a academia é um compromisso inequívoco, imparcial e objectivo com a verdade, os factos e a ciência. Quem vende ideias ao poder vigente, como tu o fazes, não é e nem tem como ser um académico. É apenas um comerciante, como qualquer vendedor de recargas de telemóvel na rua.

 

Esta é a minha última intervenção sobre este assunto.

quinta-feira, 18 abril 2019 09:47

Hoje tenho vergonha de cantar Tiende Pamodzi

Por debaixo dos meus pés a terra treme. Perdi o equilíbrio. A memória. Já não sei se na verdade é a terra que treme ou sou eu. Inteiro. Salimo Mohamed já cantava no seu subtil “Xantima i bodhlela” implorando-me que fumasse com os meus inimigos, que afinal são meus irmãos, o cachimbo da paz, e eu não quis ouvir. Fechei os olhos para não ver o sangue que pisava com os meus pés. Esqueci-me das lianas que acariciavam meu rosto nas matas da epopeia. Na longa noite habitada pelas hienas visíveis. Pelos grilos e mochos e morcegos. Esqueci-me de tudo isso. Das minhas mãos sangrando na luta pela remoção dos espinhos.

 

Hoje eu estou aqui. As minhas mãos já não sangram, é verdade! Mas estou vazio por dentro. Sangro na espinha. Na medula. No meu horizonte o crepúsculo do amanhecer  transformou-se. Degenerou. Feneceu para dentro de mim onde sou arrasado diariamente pelas verrumas de aço. Tudo à minha volta é um sismo. É como se Eusébio Johane Ntamele estivesse a cantar ao vivo na minha estrada cortada, Khmbo la mina mamana, va ranga hi mbilu va lhomula (que azar o meu, mãe, primeiro arrancaram-me o coração).

 

Lembro-me que nas matas da longa caminhada eu repetia Louis Armstrong,  What a wonderful world, gravado em 1967, cinco anos depois de fundarmos a FRELIMO. Cantava enquanto descansava tendo como travesseiro a metralhadadora em segunda mão enviada da histórica União Soviética. Eu também sonhava com um mundo maravilhoso como o grande Louis.  Do meu cano saíam flores também. Buganvílias.  Mas tudo isso esbateu-se na minha mudança de rumo. Perdi os sentimentos. Perdi o amor da juventude quando o que me movia era a utopia em si.

 

Hoje tenho vergonha de cantar Walimba moya, composta nas conservatórias espalhadas em lugares como Ntchinga, onde todos nos uniamos. Já não sou digno de abrir minha boca e libertar os versos ornamentados com sangue dos meus compatriotas. Toda a caminhada que fiz nas noites sem fim, atravessando rios e subindo montes e montanhas, levantando alto o meu braço nos gritos de guerra do tipo A Luta Continua, esvaziaram-se. Começa-me a doer a ferida que eu próprio plantei nas minhas palavras. Isto é o uma úlcera resultante das repetidas violações que fui cometendo.

 

Ontem sublevei-me contra o colono, e hoje o colono sou eu, cercado porém pelo povo que já não está do meu lado. Sinto que a loucura pode ser a minha próxima etapa. O meu fim. Estou por de cima da calçada onde sou achincalhado por todos. Não posso cair nem para um lado, nem para o outro. Rompi todos os tratados com o meu povo, e o que me resta é só um gemido.  Destruí-me com  o ouro amealhado nas noites, e hoje já nenhum unguento serve para me abafar a dor. Nenhum analgésico.

 

Sei! Eu é que não quis escutar a enxurrada das canções cantadas pelos pássaros nas manhãs, apelando-me ao amor. À concórdia. À tolerância. À honestidade. E hoje estou aqui, cercado pela noite.

quarta-feira, 17 abril 2019 05:56

Os intelectuais copy&paste…

Edgar Barroso


Li um texto muito problemático, publicado no jornal Carta de Moçambique da ultima sexta-feira (12 de Abril de 2019) e da autoria do intelectual (?) Egídio Vaz. Em praticamente 2/3 (dois terços) do referido texto, intitulado “Reflexão em torno do actual pânico moral”, o articulista faz citações não textuais do que ele percebeu de um livro de um dado autor (Stanley Cohen, “Folk Devils and Moral Panics”, 2011). Nos restantes 1/3 (um terço) do texto, o articulista tenta fazer uma transposição do que cita no texto com a realidade moçambicana actual. Dentre outras coisas, Egídio Vaz chama de “pânico moral” aos esforços conjugados de alguns indivíduos, de algumas organizações da sociedade civil e da imprensa independente na identificação, denúncia e pressão para a devida responsabilização dos grandes dossiers de corrupção em Moçambique. 

segunda-feira, 15 abril 2019 06:53

O pesadelo do vampiro

Bateram à porta com violência. Foram três pancadas de rajada que pareciam o matraquear de uma AK-47 disparada para aviso. O homem assustou-se. Levantou ligeiramente a cabeça do travesseiro e perguntou-se a si mesmo, mas o que é isto!? Bateram outra vez, na mesma cadência. Com a mesma intensidade bruta. E agora percebeu que na verdade estava alguém lá fora. Olhou para o relógio, eram duas horas da madrugada e lembrou-se, uma pessoa que te procura à esta  hora é para te matar.

segunda-feira, 08 abril 2019 08:34

Morte aos changanas!

Aos africanos nossos irmãos, agredidos pela xenofobia na África do Sul"

 

"A história é uma ficção controlada" – Agustina Bessa Luís

segunda-feira, 01 abril 2019 05:35

Na estação de malas vazias

Nasceu nos meados da década de oitenta quando a utopia da juventude parecia inabalável. Acabava de morrer o paradigma do povo, Samora Machel, seguido por quase todos, não propriamente - se calhar - por aquilo que ele fazia, mas pela capacidade de contagiar através dos seus discursos caudalosos. Samora era, por assim dizer,  um grande actor projectado em palanques imensos que estravasavam para as ruas e mercados e todos os cantos, por isso não havia como não lhe seguir as peugadas. Ele vibrava de tal forma que parecia imortal, por debaixo da risada, porém, daqueles que o fariam sucumbir sem piedade.

 

Layitha foi dado à luz quando Samora estava no auge, mas pouco tempo depois a aurora de todos nós foi encoberta. Apagou-se o engajamento. O entusiasmo. Aquele que nos dava motivos para acordar sucumbiu aos algozes.  E até hoje, depois dessa tragédia nacional,  a impressão que subjaz é a de que ninguém tem a certeza do destino que nos espera. O pior ainda é que, mesmo sabendo das dúvidas que mais parecem a certeza de que vamos para lado nenhum, mostramo-nos incapazes de inventar um novo futuro.