Apesar das mudanças profundas na área económica, com efeito a partir do ano 1987, com o PRE – Programa de Reabilitação Económica e com a entrada em vigor da nova Constituição da República em 1990, que advogava o multipartidarismo e a economia do mercado, Carlos Cardoso manteve a sua veia socialista, ou seja, não se aproveitou da posição privilegiada que tinha, para o locupletamento indevido, antes pelo contrário, denunciava esse enriquecimento fácil de muitos “camaradas” e expunha as formas como isso acontecia e muitos não gostavam da nova forma de estar de Carlos Cardoso.
Conheci-o e com ele privei, graças ao meu colega Belmiro Baptista, a quem Cardoso recorria para se consultar sobre assuntos de natureza económica. Hoje, 23 anos depois do seu bárbaro assassinato, quero, através deste pequeno trecho de reflexão, homenagear aquele que considero um dos grandes ícones do Jornalismo Moçambicano. Aliás, Carlos Cardoso merecia que o Sindicato Nacional de Jornalistas de Moçambique organizasse um Simpósio para homenageá-lo. Espero que um dia se lembrem. Bem haja Cardoso.
AB
“Os anos 90 trouxeram a paz para Moçambique, mas também uma profunda reestruturação económica e um programa de privatizações. Carlos Cardoso acompanhou, com incredulidade, o emergir de uma classe que enriquecia devido ao seu acesso privilegiado aos antigos recursos estatais. E, ao que parece, a sua determinação em expor as ilegalidades desse processo acabou por lhe custar a vida”.
In BBC para África, o mais mediático Julgamento de Moçambique
“Iniciou a actividade jornalística em 1975, no semanário Tempo. Continuou na Rádio Moçambique e na Agência de Informação de Moçambique (AIM), onde foi director por dez anos. Durante vinte anos exerceu o jornalismo como uma forma de contribuir com o seu país.
O jornalista também se dedicou às artes plásticas e realizou sua primeira exposição de pintura no ano de 1990, na cidade de Maputo, denominada de "Os habitantes do forno".
Depois de vários anos trabalhando em órgãos de imprensa do Estado (os únicos que existiam em Moçambique até à abertura política), Cardoso foi membro fundador da primeira cooperativa de jornalistas, a Mediacoop, proprietária do semanário "Savana" e do diário Mediafax, em 1992. Em 1997, fundou o seu próprio diário, também distribuído por fax, o "Metical" que, tal como o nome indica (Metical é a moeda de Moçambique), era virado essencialmente para questões económicas”.
In Wilkipedia.
Conheci o jornalista Carlos Cardoso e com ele privei por algum tempo, durante a minha iniciação na publicação de artigos que abordavam assuntos de natureza social e económica para os Jornais. Cheguei a publicar nos meios em que esteve envolvido, como é o caso do Mediafax, Savana e Metical. Não me lembro de ter publicado nenhum artigo nos órgãos de comunicação estatal. Carlos Cardoso era exigente do ponto de vista de fontes do que se escrevia e, sempre que possível, procurava informar-se da veracidade, no caso de implicar alguém.
O meu convívio com Carlos Cardoso também se deveu ao facto de ser colega do Belmiro Baptista, na altura, Director Geral da Empresa Nacional de Comercialização EE. Na verdade, Carlos Cardoso encontrava-se muitas vezes com o meu colega, para se consultar sobre matérias relacionadas à economia e factos que Carlos Cardoso precisava de aprofundar mais. Encontrava no meu colega uma fonte segura para se informar. Nessa altura, também se falava de política, sobretudo, devido à falta de confiança que Cardoso começava a ter pelos membros da Frelimo, o partido a que se dizia ser “membro sem cartão”.
Pessoalmente, admirava Carlos Cardoso pela forma directa e destemida como abordava os assuntos políticos e económicos. Lembro-me que, nas eleições de 1999, depois da votação, na companhia do meu colega, encontrei-o próximo do Restaurante Madjedje e, quando questionado sobre o que achava das eleições, disse sem papas na língua: “O Presidente pode ganhar estas eleições, mas a Frelimo não”. Justificava a sua afirmação com o facto de no seio dos membros da Frelimo ter-se perdido o princípio de humildade, que os membros da Frelimo se tinham tornado numa elite de burgueses e não respeitavam o povo.
A área predilecta de Carlos Cardoso no jornalismo foi o jornalismo de investigação. O Banco Comercial de Moçambique e o Banco Austral terão sido, provavelmente, a razão do seu assassinato. Vale lembrar aos mais novos que o julgamento das “dívidas ocultas” não é o primeiro a realizar-se na cadeia de máxima segurança, vulgo B.O. Trata-se do segundo caso. O primeiro foi o caso Carlos Cardoso, por isso Carlos Cardoso marcou, de forma indelével, a vida dos moçambicanos e de Moçambique, sobretudo, daqueles que se batem pelo uso correcto do bem comum.
Os jornalistas moçambicanos, sobretudo o Sindicato Nacional de Jornalistas, parece-me estarem em dívida com Carlos Cardoso. Não faz sentido que um dia como hoje, 22 de Novembro, dia em que foi assassinado Carlos Cardoso, passe sem nenhuma actividade relevante da classe, ainda que fosse somente para uma conversa sobre a vida e obra deste ícone de jornalismo Moçambicano. Algo não está certo na classe. Devemos reflectir.
Adelino Buque
No filme Invictus (2009), do cineasta Clint Eastwood, Nelson Mandela, o então recém-eleito presidente da África do Sul em 1994, recorre ao campeonato do mundo de rugby, realizado em 1995, na sua terra e ganho pelo seu país, como uma ferramenta política do seu governo (1994-1999) para promover a reconciliação racial entre brancos e negros no pós-apartheid, evitando assim o agudizar do conflito que, na altura, esteve à beira de uma guerra civil.
Por alto, retenho uma das passagens do filme, em que a ala dura do partido de Mandela pressionava-o para que se retirassem os símbolos – como a cor do equipamento - que a selecção sul-africana de rugby usava, pois tais símbolos representavam a era do Apartheid.
Mandela defendeu para que assim não fosse, acautelando de que não se podia tirar aos compatriotas brancos o pouco que os restava. Deste pronunciamento, subentende-se a preocupação por consequências imprevisíveis por tal acto. Lembrar que o rugby, o desporto-rei da população branca, é praticado na sua maioria por esta franja da sociedade sul-africana e é um seu símbolo identitário.
Intramuros, e no âmbito dos acontecimentos ligados ao 11 de Outubro, o dia da votação das sextas eleições autárquicas, acirrados com a divulgação dos resultados pela Comissão Nacional de Eleições, venho pensando neste filme, sobretudo na mensagem de Mandela.
Diante dos dados, ora no Conselho Constitucional, penso que Mandela teria feito semelhante intervenção, evitando assim este escaldante calor social que temo que esteja, por estes dias, disfarçado ou em fermentação, se fazendo passar pelo calor natural que também tem abalado o grosso do país.
E porque Mandela esteve ausente na resolução de apresentação e divulgação dos resultados, que haja Mandela no acórdão de validação e proclamação mais esperado de sempre.
Nando Menete publica às segundas-feiras
“Não há dúvidas de que a agricultura, indústria transformadora e o turismo são os sectores que deveriam merecer a melhor atenção para o relançamento da nossa economia, contudo, para que esses sectores tenham sucesso, é importante que se relance o princípio de “produza e consuma Moçambique” e dar primazia a instituições que assim se comportam nos concursos públicos de fornecimento de bens e serviços, através da atribuição do distintivo “Made in Mozambique”, um selo que premeia as empresas que se distinguem no consumo de produtos nacionais. São o exemplo a seguir no trabalho digno e são pagadores das suas obrigações fiscais e outros”.
AB
“Num País, com o nível de dificuldades que nós temos, do financiamento à economia, era possível haver uma estratégia relacionada ao Banco Central e … numa definição, dois ou três sectores prioritários, para o relançamento da economia e pedir aos Bancos que canalizem até um determinado montante aquilo que eles depositam nas reservas obrigatórias. Canalizassem a esses dois ou três sectores a taxas bonificadas porque ganharíamos todos, ganharia a economia a ser financiada, ganhavam os Bancos que não estavam a taxa zero no Banco Central e ganha a economia como um todo”.
In João Figueiredo, no Economic Briefing CTA
Tem sido objecto de debate o financiamento da nossa economia e, pelos dados que amiúde vêm sendo divulgados, os recursos financeiros são canalizados para os sectores menos produtivos e com baixo contributo para o PIB nacional, como é o caso do comércio. No entanto, a agricultura contribui com 25% do PIB, mas recebe qualquer coisa como 3 a 4% do financiamento, ou seja, o financiamento à agricultura, que é o suporte da economia, é feito com base em recursos familiares, o que parece uma distorção e que deve ser corrigido com urgência. Entretanto, a questão é: quais são os sectores que podem servir de alavanca para a nossa economia? Na minha opinião, são três, a saber:
Se considerarmos que mais de 80% da nossa população trabalha na agricultura, e que a agricultura, que contribui para o PIB com 25%, é do tipo familiar, isto significa que o potencial de crescimento deste sector é enorme e resolve-nos o essencial de um País, que é o combate à fome e, ao mesmo tempo, pode equilibrar a balança de pagamento, evitando a importação de produtos, cuja produção é possível e sem recurso a grandes tecnologias.
A produção Agrícola, à escala comercial, também pode permitir a retenção de jovens nas zonas rurais, limitando, dessa forma, a migração campo/cidade e com as consequências que isso tem trazido para a superlotação das cidades e vilas pelo País. Não só a taxa de desemprego iria baixar, como também a criminalidade, resultante de ociosidade, baixaria e teríamos as cidades e vilas lugares livres de crimes e com boas condições para se viver.
Relativamente à indústria transformadora, a ideia seria financiar a transformação dos principais produtos agrícolas e evitar a exportação em bruto da maior parte da nossa produção. Essa indústria poderia, igualmente, conservar produtos cuja produção é sazonal como, por exemplo, tomate, citrinos, algumas hortícolas, carnes, peixe entre outros. Esta indústria, devidamente acarinhada, poderia também empregar muita gente e contribuiria, sobremaneira, para o desenvolvimento da nossa economia, como diz o Dr. João Figueiredo, ficaríamos todos a ganhar, por isso, na minha opinião, seria o segundo sector elegível para o relançamento da nossa economia, mas, não há dúvidas que o processamento dos produtos agrícolas acrescenta valor.
Por outro lado, para que os dois sectores tenham sucesso, é imperioso a revisitação do princípio “produza e consuma Moçambique”. Na verdade, não basta que o produtor produza e a indústria transforme os produtos agrícolas, se não tivermos consumidores preferenciais, a economia continuará estagnada e/ou pior do que está hoje. Um dos melhores consumidores destes produtos é o Estado Moçambicano, através da saúde, sector militar, as cadeias e outros sectores afins, mas, se estes sectores de grande consumo continuarem a preferir compras de produtos importados, esqueçamos a ideia do relançamento da economia. Se estamos recordados, o slogan “produza e consuma Moçambique” tirou da falência muitas empresas nacionais, foi quando se introduziu o selo de “Made in Mozambique” que parece ter caído em desuso.
O terceiro sector de economia a relançar, na minha opinião, seria o Turismo. Não há dúvidas de que o Turismo é o sector transversal, pode e alavanca muitos sectores da nossa economia, ou das economias que levam a sério esta indústria. O Turismo consome quase tudo, desde os bens alimentares de agricultura, os bens do artesanato, oferece emprego a milhares de pessoas, que transportam pessoas e bens, cuida, através dos serviços de saúde, exige formação dos tendentes do sector, enfim, o Turismo pode relançar a economia em muitos sectores da nossa vida.
Dito isto, quis contribuir e reforçar a ideia do Dr. João Figueiredo e suportada por muito mais colegas do sector privado sobre a necessidade de olhar para Moçambique e sua economia, não somente na perspectiva de “enxugar” os recursos financeiros disponíveis para evitar a inflação, mas e sobretudo, fazer com que os recursos financeiros disponíveis e meio estéreis na Banca Central sejam usados para alavancar a nossa economia.
PS: Dedico esta reflexão ao meu amigo e jovem empresário Eder Pale. Abraço.
Adelino Buque
“Senhor Ministro da Indústria e Comércio! As Associações, o conjunto das Associações, não falam, quem fala são os seus representantes individualmente e chamar atenção sobre o efeito negativo da criação de uma espécie de taxa paralela, sobre as exportações e importações, quer para os operadores do Comércio Externo, como para o consumidor, precisa de apoio do Governo! É preciso recordar o Governo sobre o ciclo das culturas agrícolas que, negligenciando a saída dos produtos em armazéns, pode criar problemas logísticos. Necessita de apoio de algum Ministro em específico ou do Governo? Chamar atenção para aprovação de uma regra e ou Lei que irá impactar negativamente nos negócios internos e externos é protagonismo individual? Não devemos criar “algemas” ao Diálogo Público-Privado. Devemos mantê-lo e de forma horizontal”.
AB
Depois da independência nacional, Moçambique escolheu, para a economia, o modelo de planificação centralizada. Entretanto, não está em causa nesta reflexão as razões disso. Trata-se apenas duma constatação. Na Constituição de 1990, assume, formal e constitucionalmente, o Modelo de Economia de Mercado, em que as pessoas, individual ou colectivamente, são a força da economia. Nesse sentido, assume a defesa de propriedade individual e colectiva, premissas bastantes para que haja segurança jurídica no sector económico e empresarial.
Passam, hoje, 33 anos desde que Moçambique abraçou a economia do mercado e, para tanto, muito esforço tem sido despendido, de forma voluntária, pelo sector privado, para que as normas que regem este modelo estejam em conformidade com o que se passa no mundo fora. É preciso lembrar que Moçambique não é nenhuma ilha. Aquilo que se passa em Moçambique repercute-se noutras latitudes, para o bem ou para o mal e aqui está o comprometimento do sector privado, junto do Governo de Moçambique, para encontrar formas que tornem o ambiente de negócios mais apetecível em Moçambique.
A participação do sector privado na melhoria do ambiente de negócios não deve confundir o sector público, no sentido de subordinação, pois, as organizações do sector privado, quer do ponto de vista de Associações, Câmaras Bilaterais ou outras são entidades com autonomia Administrativa, Patrimonial e Financeira. Não dependem do Orçamento Geral do Estado, dependem, sim, da contribuição dos seus membros, dos donativos e/ou doações de parceiros e membros, pelo que nenhum governante se deve imiscuir na vida dessas organizações e tão-pouco ordenar seja lá o que for.
A recente intervenção do Ministro da Indústria e Comércio, no Fórum de Investimentos no Niassa, mostra, de forma clara, que existem membros do Governo de Moçambique que não estão claros sobre o seu papel e a natureza de relações a estabelecer com a sociedade civil ou sector privado, mas também pode ser que, passados 33 anos depois da introdução da economia do mercado, esses membros do Governo de Moçambique tenham saudades do centralismo económico ou economia planificada, o que se torna bastante estranho porque não se pode viver em função de conveniências, ou somos uma economia do mercado ou somos uma economia centralizada.
Na minha opinião, não se pode usar regras de economia de mercado, quando nos convêm e de economia centralizada ou planificada quando é conveniente. Quando o Ministro diz: “como Governo, não apoiamos intervenções movidas por conta de protagonismo individual, como Governo, não apoiamos intervenções das Associações ou conjunto de associações movidas por protagonismo individual”. Espero ter feito a citação correctamente. Ora, não sei se alguém ou alguma Associação terá pedido apoio ao Ministério da Indústria e Comércio para qualquer que seja o assunto, mas o que se sabe é:
1) Foi chamada a atenção ao Governo de Moçambique sobre a provável queda em 20% de exportações de produtos agrícolas, devido ao problema de quotas e certificados;
2) Que os operadores de exportação de Feijão Bóer, Gergelim, castanha de Caju e outros são os mesmos, pelo que, no caso de iniciar uma campanha com produtos de outra campanha em Armazém, criaria problemas de logística;
3) Que o PAC, na forma como foi introduzido, sem um debate aprofundado com o sector privado, pode constituir um obstáculo ao bom Ambiente de Negócios;
4) Que a INTERTEK, na sua actuação, parece ter criado uma pauta Aduaneira paralela, o que pode minar o Comércio Internacional e onerar o consumidor interno.
Vamos raciocinar com base em alguma lógica. Se esta chamada de atenção é dirigida ao Governo de Moçambique, devido ao impacto que pode ter na imagem do País e nas exportações, faz algum sentido esperar pelo apoio do Governo ou do Ministério da Indústria e Comércio? Se uma instituição do Governo parece ignorar os ciclos produtivos agrícolas e dificulta o escoamento de produção, o que poderá criar problemas logísticos. Chamar atenção sobre isto precisa de anuência de algum Ministro ou do Governo no seu todo! Por favor, a relação entre o Governo de Moçambique e o Sector Privado é horizontal, não existem chefes e subordinados. Haja clareza!
Adelino Buque
Por ocasião dos 136 anos de Maputo, a cidade capital de Moçambique, vulgo a cidade das acácias, que foram celebrados no passado dia 10 de Novembro, o Jardim Zoológico de Maputo (JZM) foi um dos locais que mereceu a visita de alguns citadinos maputenses, das cidades e vilas circunvizinhas.
Na qualidade de anfitrião acompanhei uma família-viente na visita ao JZM. De regresso, já em casa, foi interessante ouvir a criançada a dar o relatório aos que não foram ao JZM. Em uníssono só se ouvia: “Vimos onde ficava Leão”; “Vimos onde ficavam elefantes”; Vimos onde ficavam girafas”, e por ai mata adentro.
No dia seguinte levei os petizes a conhecerem o centro da cidade. De regresso, eis alguns excertos do reporte: “Vimos onde ficavam as árvores”; “Vimos onde tinha parque das crianças”; “Vimos onde tinha passeios e onde passavam comboios”.
Depois do jantar, e no momento da planificação do programa de visita para o dia seguinte, um dos petizes pergunta: “Tio, amanhã podemos visitar a cidade das acácias?”
Nando Menete publica às segundas-feiras