Em finais de 2006 e Janeiro de 2007 tiveram lugar duas reuniões solicitadas por Marcelino dos Santos (1929-2020), falecido político e fundador da Frelimo, o poeta Kalungano, em que participei com outros pares, todos na qualidade de organizadores do Fórum Social Moçambicano (FSMoç) cuja primeira edição decorrera em Outubro de 2006 e a segunda, e última, em Outubro de 2007.
Nas duas reuniões, Marcelino dos Santos trazia a documentação de referência do FSMoç repleta de anotações e com parágrafos sublinhados a cores, que demonstravam que a lera. Em nota prévia, Marcelino dos Santos elogiara a organização da documentação e a qualidade do seu conteúdo, e ainda confessara que a mesma tinha o espírito dos estatutos da fundação da Frelimo.
Chamo a terreiro estas reuniões por conta de um pedido de Kalungano que hoje, diante do “11 de Outubro”, não como data eleitoral, mas enquanto um turbulento fenómeno social e político, tal um rio aos solavancos e a alta velocidade - com o seu ponto a montante por definir e o a jusante uma incerteza - tenho a dimensão de tal pedido.
O pedido: Marcelino dos Santos rogou aos seus convidados que levassem o debate para o seu partido e que promovessem neste o espírito, a abordagem e os temas do FSMoç. Segundo Marcelino dos Santos, o partido já carecia. Em suma: um pedido de resgate.
Em recente conversa sobre o “11 de Outubro” com um outro participante das citadas reuniões ficou assente de que na altura do SOS do mais velho não se tivera a profundeza da dimensão do pedido e talvez por isso sem o devido seguimento.
Com o fenómeno “11 de Outubro”, e da conclusão da conversa, a ideia de que urge uma adenda póstuma ao pedido de Kalungano, passando-o para um resgate global da sociedade, pois a carência de que se queixava Kalungano, no seio do seu partido, é transversal a toda sociedade e com sinais claros de que esta caminha, paulatinamente, para um suicídio colectivo.
Nando Menete publica às segundas-feiras
PS: Um exemplo para o resgate global encontra suporte na campanha das eleições de 11 de Outubro onde foi notório o défice de ideias, tendo apenas servido para a divulgação da Constituição da República, sobretudo a parte referente aos direitos dos cidadãos.
As pessoas perguntam-me muitas vezes, Tony O. Elumelu como é que eu aprendo liderança. Devo ir a um curso? Comprar um livro? Arranjar um mentor? Os líderes nascem líderes ou é possível tornar-se um líder? Tal como digo em relação ao sucesso empresarial, a liderança tem muitas componentes - sorte, estar no sítio certo à hora certa. Mas também acredito que os talentos e as disciplinas que traz consigo, criando uma visão e a resiliência e concentração necessárias para concretizar essa visão, também podem forjar a sua própria liderança pessoal.
Tive a sorte de trabalhar com o verdadeiro líder, no início da minha carreira. A minha filosofia de liderança foi construída ao trabalhar com ele. Tudo começou com o facto do Chefe Banigo ter lido a minha carta de candidatura e me ter dado uma oportunidade de provar o meu valor em 1988. Quando os meus colegas me dizem hoje: "Tony, respondes muito depressa aos nossos e-mails", rio-me porque aprendi com o próprio mestre - o Chefe Banigo. Quando eu lhe enviava memorandos, ele respondia no prazo de vinte e quatro horas; por isso, porque é que eu não hei-de responder ainda mais depressa nesta era da tecnologia?
Estes são alguns dos valores de liderança que aprendi com o Chefe Banigo e que pratico atualmente.
Só se formos mais longe e nos esforçarmos é que nos desenvolvemos e destacamos verdadeiramente. O trabalho árduo e a excelência fizeram com que os meus chefes Toyin Akin-Johnson e Ebitimi Banigo reparassem em mim e, subsequentemente, acreditassem em mim. Aos vinte e sete anos, passei de estagiário a chefe, quando fui nomeado gerente da Agência, o mais jovem gerente de Agência bancária na altura. Tudo o que aprendi anteriormente foi posto em prática, e continuei a aprender.
os líderes reconhecem o talento da sua equipa e depois esforçam-se por revelar esse talento. Quando trabalho, trabalho para atingir os meus objectivos, mas também trabalho para revelar as competências das minhas equipas. Sei que todas as pessoas com quem trabalho têm um enorme potencial - para mim, o meu sucesso também tem a ver com o sucesso dos outros, com o crescimento e o desenvolvimento do seu talento. Este foco no talento, nas equipas, na transformação pessoal, é a razão pela qual sou tão insistente na criação de instituições, culturas e caminhos, onde o capital humano pode prosperar. É por isso que sou um investidor em empresas, mas também em jovens empreendedores em toda a África.
Um líder tem de ser coerente. As pessoas querem confiar num líder que acreditam ser íntegro. A liderança não consiste apenas em dizer às pessoas o que devem fazer, mas também em dar o exemplo. Um bom líder deve dar o exemplo e praticar o que prega, o que demonstra integridade, cria confiança e respeito.
Beneficiei da orientação do Chefe Banigo, ele ajudou-me a desenvolver o meu pensamento estratégico, os meus quadros de referência e a canalizar as minhas ideias para acções concretas, de modo a que, quando chegou o momento da oportunidade, aos trinta e quatro anos, eu tivesse a autoconfiança necessária para reunir um pequeno grupo e assumir o controlo e a recuperação de um banco em dificuldades - dar esse enorme passo, que ainda hoje está a moldar uma indústria e um continente.
Hoje, quando me deparo com uma situação impossível, pergunto a mim próprio: "O que é que o Chefe Banigo faria?” Trabalhei com o Chefe Banigo de 1988 a 1995 e, até hoje, é a ele que recorro quando preciso de conselhos.
Tony O. Elumelu é filantropo, economista, investidor, presidente do principal grupo pan-africano de serviços financeiros, o United Bank for Africa (UBA), com presença global em 20 países africanos, nos EUA, Reino Unido, Paris e UAE. Ele preside a empresa de investimentos privada Heirs Holdings com serviços financeiros que abrangem bancos, seguros, bancos de investimento, gestão de activos e registro no mercado de capitais. Tony Elumelu foi incluído na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo pela Forbes, fundador da Tony Elumelu Foundation, onde têm financiado o empreendedorismo jovem em toda a África no valor de 10 milhões de dolares Americano. Ele também é membro da Comunidade de PCAs do Fórum Econômico Mundial.
“As eleições Autárquicas de 11 de Outubro de 2023 já aconteceram e tiveram os resultados que todos sabemos. Em 2024, teremos as eleições Gerais para a eleição do Presidente da República e os Deputados da Assembleia da República e urge, por isso, olhar para o que interessa na actualidade aos moçambicanos porque a Luta de Libertação Nacional, tendo sido importante para que Moçambique se tornasse uma Nação e os moçambicanos terem uma nacionalidade, bandeira e pátria, hoje, esse debate não é mobilizador!
Não é igualmente mobilizador o discurso da Luta pela Democracia, travada entre o Governo de Moçambique e a Renamo, mais conhecida por Guerra dos 16 anos. Passam 31 anos após o Acordo Geral de Paz e, próximo ano, teremos as VII eleições presidenciais, por isso, falar da luta dos 16 anos e seus heróis é uma questão de cultura geral, mas não mobilizador para um eleitorado que não viveu esses eventos. Veja abaixo, como caracterizamos os dois eventos”.
AB
“A luta de libertação Nacional foi dirigida pela FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique).
Esta organização foi fundada em 1962, através da fusão de três movimentos constituídos no exilo, nomeadamente, a UDENAMO (União Nacional Democrática de Moçambique), MANU (Mozambique African National Union) e a UNAMI (União Nacional de Moçambique Independente). A partir do início dos anos 80, o País viveu um conflito armado dirigido pela RENAMO (Resistência Nacional de Moçambique).
O conflito que ceifou muitas vidas e destruiu muitas infra-estruturas económicas só terminaria em 1992 com a assinatura dos Acordos Gerais de Paz entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO.
Em 1994, o País realizou as suas primeiras eleições multipartidárias ganhas pela FRELIMO que voltou a ganhar as segundas e terceiras, realizadas em 2000 e 2004”.
In Portal do Governo, 16/06/2015
Ora, se a luta de libertação nacional não é mobilizadora para o eleitorado de hoje, porque passam 48 anos após a proclamação da independência, a luta pela democracia, mais conhecida por guerra dos 16 anos, também não, porque passam 31 anos. É caso para nos debruçar sobre o que é, na actualidade, mobilizador, quais são os desafios da sociedade Moçambicana neste momento, aqui e agora. Pretendo deixar o meu contributo para o efeito.
Ora, a Juventude é parte de tantos desafios que o País tem, vamos olhar para as chamadas áreas transversais e, desse já, as infra-estruturas públicas, a saber:
Chegados aqui, sem pretender esgotar o que constitui desafios da actualidade, tanto para os jovens quanto para todos nós, espero ter dado o meu modesto contributo e que não caiamos na “ratoeira” de exaltar coisas que, para muitos eleitores, não fazem sentido. Mais do que isso, os membros do partido Frelimo precisam e devem assumir uma postura de maior responsabilidade. Devem usar cada lugar que ocupam de forma a multiplicar os ganhos, para si e para a sociedade circunvizinha, não deve prevalecer o espírito de egoísmo e de açambarcamento.
A Frelimo deve informar-se sobre quantos postos de trabalho criaram os empresários nacionais e ou estrangeiros, que de alguma forma apoiam a Frelimo e ainda se os seus colaboradores se sentem valorizados. Muitas vezes, drena-se valores para encobrir aquilo que de mal se pratica na unidade produtiva. Convenhamos, os negócios em Moçambique não são tão lucrativos a ponto de drenar milhões sem contrapartidas. Deve-se olhar para o povo primeiro.
Adelino Buque
De longe tenho acompanhado – sempre que posso - a vida musical de Gimo Remane, rebatizado Gimo Mendes. Rejubilo mesmo sentindo que é pouco o que me chega por via das redes siciais, é como se eu estivesse a assistir a um espectáculo encostado num canto distante sem poder divisar claramente os actores que vibram no palco, contentando-me apenas com o som e as imagens transmitidas nas telas gigantes. Mesmo assim não não deixo de aplaudir.
Há pouco tempo esteve em Moçambique o Gimo, e não era a primeira vez que o fazia, depois de ter partido para as longíquas terras dinamarquesas onde continua a ser um importante candelabro, com a mesma intensidade luminosa de como era no Eyuphuru, uma das maiores bandas que já tivemos no nosso país, Gimo Remane terá sido o esteio inegável.
Sempre que vem ou que volta, há um ressurgir de memórias gravadas no tempo e nos discos e nos palcos, Eyuphuru era mais que um remoínho. Aliás a escolha que fizeram, de avançar com instrumentos acústicos e percussionistas rústicos livres de preconceitos, fazia deles uma catarata. Foi assim que abriram alas, e em pouco tempo tornaram-se conhecidos e desejados e ovacionados por onde passavam.
Mas há situações que acontecem de forma inesperada na vida musical que você não percebe, Gimo Remane deixou de pertencer a banda que ajudou a firmar, e seguiu outros ventos: os ventos do amor! E amor molda a quem quer que seja, e ninguém vai contrariar essa verdade.
Hoje, Gimo não parece o mesmo. Aquele cujos temas que compunha e tocava, eram um derrame num grupo insuperável e tinham cheiro profundo à emakwa, à África. Escolheu outra forma de fazer música para nos mostrar que na exploração da escala diatónica jamais se chega ao fim e nada é linear nessa área. Mas o importante é que esse emakwa ainda está vivo, com a mesma voz e os mesmos dedos percorrendo as cordas da guitarra.
E porque o belo atrai o belo, é gratificante ver o agora Gimo Mendes rodeado de crianças e adultos dinamarqueses, aprendendo música com um moçambicano que não terá vestido propriamente outras asas, mas se calhar fortificou-as com novas escolas que lhe darão certamente outras perspectivas e conhecimentos.
E Gimo jamais será retirado dos escaparates onde jazem os nomes mais expressivos da melhor música moçambicana e africana, pela elevada qualidade dos seus trabalhos esxaltados no Eyuphuru, e que o tornarão assim, um artista de fina estirpe. E ainda bem que está mostrando a todos, que os seus limites não terminam em Nampula.
Os anúncios sucessivos dos resultados intermédios das eleições autárquicas de 11 de Outubro pariram uma corrente de profetas que inundaram as artérias autárquicas, e não só, da terra da Pérola do Índico.
Certamente que o leitor já se terá cruzado, ou sido interpelado, por meios tecnológicos, com um ou mais “Profetas do 11 de Outubro”. O teor, e de consenso, da profecia: todos já, previamente, sabiam quais seriam os resultados das eleições e tudo o que aconteceria depois, incluindo as decisões dos tribunais e o “bit” do momento.
Faz pouco tempo um dos profetas ligou-me a reclamar a vitória do seu vaticínio: “Eu sempre te disse que desta vez seria diferente. O povo está cansado. Não me destes ouvidos”. Outro dia, um outro profeta também lembrou-me algo parecido, concluindo: “Nada que eu não tivesse previsto”.
Tenho outros exemplos de vaticínios dos “Profetas do 11 de Outubro”, mas deixo os parágrafos seguintes para o leitor elencar os da sua órbitra de amizades. Depois volto para fechar.
Em jeito de desfecho, e para efeitos de prevenção, espero que os “Profetas do 11 de Outubro” já tenham a decisão e o rumo dos acontecimentos quando o Conselho Constitucional deliberar sobre a validação destas polémicas eleições. Em caso de curiosidade, o leitor que pergunte a um ou mais “Profetas do 11 de Outubro” da sua órbitra de amizade. Eu farei o mesmo.