O ministro ruandês dos Negócios Estrangeiros, Vicent Biruta, declarou, há dias, numa conferência de imprensa em que se fazia acompanhar pelo porta-voz das Forças de Defesa do Ruanda (RDF), Coronel Ronald Rwivanga, em Kigali, capital do Ruanda, que nenhum país da SADC tem problemas com a presença de tropas ruandesas na província de Cabo Delgado, onde estas ajudam a combater a insurgência.
O chefe da diplomacia ruandesa abordou, na ocasião, vários tópicos relacionados com assuntos regionais e globais que fizeram manchetes nas ultimas semanas, tendo-se referido a relatos de que alguns países, em particular, membros da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), levantaram preocupações com o facto de o Ruanda se ter adiantado ao bloco regional no destacamento de um contingente para Moçambique. "O que podemos dizer é que, antes de avançarmos, tivemos consultas com diferentes partes interessadas, como a União Africana e países interessados, em particular da SADC, e outros como França, EUA, Portugal e China”, disse Biruta, acrescentando: “não acordamos de manhã e decidimos avançar. Consultamos e depois partimos para o desdobramento. O que quer que tenha sido dito neste caso, não pode ser atribuído aos países, mas sim aos indivíduos a título pessoal”, disse Biruta.
Lembre-se, a pedido de Moçambique, o Ruanda destacou no início deste mês um contingente de 1.000 homens entre militares e polícias, como parte dos esforços para reprimir os insurgentes e restaurar a autoridade do Estado moçambicano na província de Cabo Delgado.
Ruanda acalma temores de prováveis ataques de represália
Após a recente implantação em Moçambique, Kigali procura aliviar preocupações de prováveis retaliações dos militantes islâmicos. “Sabíamos que havia a possibilidade de sermos alvos, mas estamos prontos para assumir esse risco em nome dos nossos valores de protecção aos civis”, disse o porta-voz das Forças de Defesa do Ruanda, coronel Ronald Rwivanga e acrescentou: “Nós nos comprometemos a proteger os civis onde quer que estejam e isso é algo que decidimos como governo”, disse Rwivanga. (F.I)
Há três anos que não se verifica abate ilegal de elefantes no Parque Nacional da Gorongosa (PNG), assim como na Reserva Especial do Niassa (REN). A garantia foi dada no último sábado pelo Presidente da República, durante a comemoração do Dia Internacional do Fiscal.
Segundo Filipe Jacinto Nyusi, até 2016, a população de elefantes, na Reserva Especial do Niassa, era estimada em 1.000 elementos, sendo que, actualmente, estima-se existir 4.500 elefantes.
De acordo com o Chefe de Estado, a redução dos casos de abate ilegal dos elefantes resulta dos esforços das autoridades em combater o crime organizado, com destaque para os fiscais da Flora e Fauna bravia, as Forças de Defesa e Seguranças e as autoridades judiciárias.
No seu discurso, Nyusi assegurou que o seu governo fará de tudo para defender a flora e a fauna. Aliás, na ocasião, o Chefe de Estado disse fazer parte do The Giants Club, uma iniciativa da Space for Giants, uma organização internacional de conservação, na qual já fazem parte os presidentes do Botswana, Mokgweetsi Masisi; do Quénia, Uhuru Kenyatta; do Ruanda, Paul Kagame; e do Uganda, Yoweri Museveni. (O.O.)
Mais 74 pessoas perderam a vida nos últimos três dias devido à Covid-19. Dos óbitos registados, 19 foram comunicados na sexta-feira, 27 no sábado e 28 neste domingo. Assim, de acordo com as autoridades da saúde, o país conta, neste momento, com um cumulativo de 1.462 vítimas mortais, causadas pela pandemia.
Para além das vítimas mortais, mais 5.881 pessoas ficaram infectadas pelo novo coronavírus, aumentando para 123.541 o total de infecções registadas no país. Dos novos casos, 2.290 foram anunciados na sexta-feira, 2.078 no sábado e 1.513 neste domingo.
Entretanto, mais 3.556 pacientes recuperaram da doença, subindo para 90.845 (73.5%) o número total de pacientes que estão curados da Covid-19, no país.
Refira-se que, neste momento, o país conta com 31.230 casos activos do novo coronavírus, dos quais 18.417 estão na cidade de Maputo, 5.801 na província de Maputo, 1.971 na província de Inhambane e 1.185 na província de Sofala. Há ainda 506 pessoas internadas, das quais 350 na capital do país. (Marta Afonso)
Um membro das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), com patente de capitão, foi assassinado há dias no distrito de Macanga, província de Tete, durante uma operação “mal-sucedida” no circuito do garimpo e comercialização ilegal do ouro.
Ao que a Polícia conta, o referido militar, identificado por Ricardo Dique, foi assassinado por dois garimpeiros que, na altura, se apoderaram de mais de 800 mil Meticais. O homicídio ocorreu durante a noite, sendo que ainda não estão claras as motivações.
Segundo a Polícia, os indiciados foram detidos na última terça-feira, no distrito de Manica, província com mesmo nome e serão levados para a província de Tete para indicar o local onde enterraram o corpo do finado.
O porta-voz da Polícia, em Manica, Mateus Mindú, garantiu que o processo já está sendo tramitado e que, nos próximos dias, os indiciados irão responder pelo crime. (O.O.)
O Tribunal Judicial da Província da Zambézia decidiu despronunciar Elias Durão, do processo-crime nº 19/20, em que era acusado de homicídio qualificado, tráfico de órgãos humanos e branqueamento de capitais. Durão era suspeito de assassinar uma criança de sete anos de idade, na cidade de Quelimane, província de Zambézia, um crime ocorrido em Novembro de 2019. O corpo do menor foi encontrado numa lixeira (sem partes dos seus órgãos), nove dias depois do seu desaparecimento do convívio familiar.
Segundo o Diário da Zambézia, o despacho de não pronúncia foi emitido no passado dia 13 de Julho, pelo colectivo de juízes da 3ª Secção Criminal daquele tribunal. Em causa, escreve aquele jornal editado na província da Zambézia, está o facto de o arguido não ter confessado a prática do crime, para além de que a sua detenção foi baseada apenas em testemunhos de um dos declarantes.
Refira-se que o suspeito era professor na Escola Primária de Magegua, distrito de Nicoadala, na mesma província. Aliás, na altura, o suspeito viu sua residência parcialmente destruída pela população local, que prometia sepultar os restos mortais da criança na sua casa. Porém, nunca houve clareza das ligações deste ao suposto homicídio. (O.O.)
Vasco Francisco, 47 anos, assistiu a exumação e mutilação do cadáver da sua mãe na transferência de campas familiares num espaço que hoje acolhe as obras de um novo aeroporto na província de Gaza, sul de Moçambique.
“Eles partiram [o corpo ao meio] e o dobraram para conseguir metê-lo nos seus caixões”, conta à Lusa Vasco Francisco, visivelmente abalado, sentado por debaixo de uma sombra a poucos metros do espaço que antes foi o cemitério da sua família e hoje é um aeroporto no distrito de Chongane, no interior da província de Gaza.
A data exata da morte da sua mãe não está na sua memória, mas lembra-se vagamente do ano - 2018, ano em que foi lançado o projeto de construção do aeroporto que abrange uma área de cerca de 140 hectares em Chongane, num espaço que, além de cemitérios familiares, acolhia campos agrários de comunidades que vivem nos arredores do projeto.
Vasco conta à Lusa que a comunidade recebeu o projeto de construção do aeroporto, o primeiro naquela província, com agrado na primeira fase, mas a forma como o processo de exumação de corpos foi conduzido chocou a população, numa terra onde os “túmulos são sagrados”.
A comissão criada localmente pelo Governo, que integrava uma médica legista e uma funcionária da Direção Provincial de Assistência Social de Gaza, exumou e mutilou vários corpos com recurso a catanas, serrotes e pás, de forma que pudessem caber nos pequenos caixões adquiridos pelas autoridades, alegando que não havia fundos para compra de novas urnas, segundo as comunidades.
No caso da mãe de Vasco, o corpo dela foi cortado ao meio, mas mesmo assim não coube no caixão, que foi transferido para o novo cemitério aberto, na presença da família da malograda.
“Levaram uma capulana amararam a tampa do caixão e foram meter lá no novo cemitério. Eu chorei”, lamenta o agricultor, acrescentando que a “comunidade não pôde fazer nada porque eles disseram que são ordens do Governo”.
Hoje, o local ontem "sagrado" para Vasco, está protegido por cercas e muros, onde panfletos publicitários de empresas chinesas que constroem a infraestrutura e a bandeira daquele país asiático destacam-se no meio da poeira das secas terras de Gaza.
Olinda Romão, 46 anos, também lembra do dia em que a mãe de Vasco foi exumada e, depois do episódio “chocante” que assistiu, não aceitou que os seus familiares que também estavam naquele cemitério fossem exumados, tendo chamado para si a responsabilidade de improvisar um caixão com base em caniço (uma planta usada para construção de casas em zonas rurais de Moçambique).
“Vimos que eles partiram o corpo da mãe do tio Vasco, então não aceitamos aqueles caixões e tivemos de fazer os nossos, através de caniço”, declarou Olinda Romão.
Além da “exumação indigna”, segundo Olinda Romão, há casos de pessoas que não conseguiram localizar as sepulturas dos seus familiares enterrados no local, o que leva a comunidades a acreditarem que ainda há corpos por de baixo da pista.
Para o ativista social em Gaza Carlos Mula, o processo de exumação pode ser descrito como uma “agressão grosseira” à moral das famílias, acrescentando que no corpo jurídico moçambicano a vandalização de campas é crime.
“O Governo devia ter contratado uma empresa especializada na exumação de corpos e não deixar que seja a comunidade, porque a comunidade não tem a perícia”, frisou o ativista, acrescentando que, mesmo no novo cemitério, a forma como os corpos foram enterrados atenta contra os hábitos e costumes das comunidades daquela província.
“Na nossa cultura, ao enterrar alguém, o corpo desta pessoa não deve estar virado para o nascente ou para o pôr do sol. Não só, a hora de fazer uma cerimónia fúnebre não pode ser de noite, como foi feito neste caso, há um horário que deve ser obedecido com todo rigor “, acrescentou o ativista, ligado também ao Centro Terra Viva, uma organização não governamental que despoletou o caso.
Além da exumação polémica, as cerca de 400 famílias que tinham campos agrícolas e cemitérios familiares no local em que está a ser construído o aeroporto queixam-se de que há compensações em falta.
Celeste Mondlane é uma das várias agricultoras que perdeu o seu campo e na última vez que reclamou em nome das famílias afetadas junto das autoridades a resposta que recebeu foi: “o bolso do governo está furado”.
“Nós, quando vamos reclamar ao nosso Governo, as autoridades dizem que o bolso do Governo está furado. Mas as obras do Aeroporto já terminaram”, lamenta a camponesa.
A Lusa em Gaza tentou, sem sucessos, contactar o diretor dos Serviços Provinciais de Infraestruturas, Alberto Matussse, que tem estado a coordenar o processo que envolve as famílias afetadas pelo projeto.
O projeto de construção do aeroporto foi descrito, em 2018, pelo chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, como uma infraestrutura que vai "promover o desenvolvimento da economia local e regional", colocando a província de Gaza na "rede de transporte aéreo".
O aeroporto de Chongoene, com uma pista de aterragem de 1.800 metros, está orçado em 75 milhões de dólares, disponibilizado pelo banco chinês Exim Bank, segundo dados avançados pela Presidência em 2018.
Para quem vem de fora, a beleza e a dimensão da moderna infraestrutura levantada com financiamento chinês é inquestionável, mas maior é a dor de Vasco, que terá de lembrar pelos próximos anos do corpo da sua mãe cortado ao meio, no roncar dos motores de cada avião que aterrar em Chonguene. (Lusa)