Nada mais rico e interessante como a possibilidade de " Pensar Moçambique" em momento de campanha eleitoral, entendo aqui por campanha como o 'contrato', namoro, a sedução, o assédio, a troca de mimos e carinhos, os olhos lindos, a exibição de charmes e danças, a busca pela empatia e alteridade entre os políticos e potenciais eleitores, entre os manifestos e os eleitores, entre o debate de 'ideias', entre os partidos com vista a melhor piscar os olhos para os potenciais eleitores, e porque não, entre os propagandistas e as suas capacidades de melhor manipular com recurso as tecnologias de informação aos potenciais eleitores.
"Pensar Moçambique" já o fizerá Doutor Eduardo Mondlane (1969) no passado, e faz sentido indagar nesta temática em 2019, se sim, como fazê-lo? Pois, o nosso país que se pretende plural carece de reflexões de todas e de todos predispostos em fazê-lo, com ou sem ideologia, com ou sem cores, no final, as lutas dialéticas e epistémicas sobre Moçambique devem ser livres e espontâneas, sem caixas, sem grupinhos e sem donas e donas, até porque as lutas do Doutor Eduardo Mondlane em representação de um grupo plural, que nem sempre foram dentro da mesma panela, continuam presentes e actuais, e hoje com a vantagem de podermos Pensar Moçambique de maneira plural rumo a uma reconciliação, reparem que o silêncio é inimigo não só da paz, mas particularmente da reconciliação.
Moçambique é um exemplo natural deste antagonismo, paz e reconciliação. Pensar Moçambique pela sociedade, pela academia, deve ser algo normal, visto que os partidos e os governos não gozam da prerrogativa do monopólio deste debate, até porque a própria cultura de subserviência confundida com respeito pode não ajudar estas duas instituições a procederem e fluírem neste debate.
O desejo e o debate académico
Assumo que o normal e o anormal, assim como a nossa capacidade seletiva depende do contexto e muitas vezes, a geografia do poder tem sido determinante. Mas, em época de campanha ficaria uma luta contra a força do vento tentar justificar a ausência de um 'desejo' por um debate de ideias progressista em prol de Moçambique, não há Moçambique sem ideias, a força braçal tarde ou cedo se ressentirá do vazio de ideias.
Os partidos fazem aquilo que melhor conhecem, ou seja, fazem a campanha com base nos nossismos, nos seus euismos, nos seus pessoimos e nos seus meuismos, ou melhor, estão numa panela fechada cheia de ' eu desejo (s)' e como sabem que o mundo deles não procede sem a nossa cumplicidade, entramos numa bola de neve psicanalítica, onde o ' eu desejo' nos é socializado como sendo ' nosso desejo'.
Precisamos desta passividade ' eu desejo versus nosso desejo'? Acredito que esta passividade só ganha espaço com a nossa cumplicidade, visto que a campanha precisa ver vista e percebida não como sinónimo daqueles que fazem política activa, mas e sobretudo de toda e de todo moçambicana\o com interesse em pensar e falar sobre esta temática, respeitando aquelas e aqueles que de forma consciente optam por observar em silêncio, até porque existe uma longa tradição da figura dos ediotes políticos (Grécia antiga).
Mas o interessante e importante é a urgência da classe política perceber que eles devem fazer parte e ser uma força para que o debate académico sobre Pensar Moçambique possa fluir e ser uma prática, libertando assim os ' camaradas reitores' para que estes possam fazer muito bem o seu papel de bem servir rumo a uma academia e sociedade autónomas e com liberdade de expressão.
Existindo académicos e intelectuais com o ' eu desejo social' ou seja, com desejo de debater e pensar em prol do país, imagino que estejam a passar por um conflito interno titânico, uma batalha entre 'falas e silêncios' estruturais e institucionalizados, entre o eu real (silêncio) e o eu ideal (falar). Ouçam, optar pelo silenciamento dos pensamentos, desejos e atitudes, leva as seguintes categorias psíquicas, a saber,
Estas categorias podem ser vistas de forma societal, ou seja, estrutural (de fora para dentro). Mas na dimensão de indivíduo (de dentro para fora) pode levar aquilo que designamos por desindividualização, e sem deixar de lado os danos na sua psique, a saber:
Vulnerabilidade; Perca de autonomia; Desconfiança excessiva; Passa a agir sempre na reativa; Liberdade muito limitada pelo sentimento de medo e insegurança; Próximo do mundo mental da frustração e ;Consciência inconsistente.
Mas no lugar de lutar internamente na mente e com a consciência, o que se pode fazer é criar alianças com aqueles poucos que já passaram por esta fase e valorizam mais a sua consciência do ' eu desejo social'. Não se esqueçam do seguinte, quando nós falamos e somos livres para pensar, encontramos um conforto interno e ajudamos muito a nossa saúde mental. Se notarem, durante os comícios os políticos e os membros, simpatizantes e curiosos trocam muitas gargalhadas, pois, para muitos aqueles momentos são de libertação e de desejos (cruzamos aquilo que ouvimos com os nossos viés).
Last, para os 'camaradas reitores' e para os políticos no activo com o martelo da geografia do poder, pensar este momento sem debate seria surreal, pois, para a sociedade, para a academia, não deve existir a seguinte frase 'não é bom momento', para um debate de ideias, sempre é bom momento em prol de um país autónomo e esclarecido. Não há desenvolvimento, não há crescimento sem confronto de ideias e as academias não devem ser vistas como lugares privilegiados do silêncio, o silêncio não deve encontrar espaço nas academias, as mesmas devem ser os verdadeiros celeiros, terrenos, machambas das ideias, estas por sua vez, devem aceitar as culturas dentro delas. Quem trabalha em instituições académicas, deve saber que em momentos de campanha tem uma responsabilidade acrescida perante a comunidade académica e a sociedade em geral.
' As academias não têm cores, nos corações das academias cabem todas e todos '.
"Desejo do desejo pelo outro", campanha como desejo
A política é uma forma de desejo, que na sua génese se pretende ' eu desejo social'. Os políticos são aqueles que melhores narrativas sabem encontrar para socializar os seus ' desejos ' junto aos membros, simpatizantes e a sociedade como um todo. Pois, a percepção que se tem dos desejos dos políticos e dos seus partidos são importantes neste processo de ' namoro '.
A campanha pode ser percebida como sendo um momento de apetite, um momento de consciência de si que almeja a servidão do outro, um momento onde os partidos políticos querem que eles (comícios, manifestos, músicas, danças) sejam o status quo, onde eles são o centro das atenções. As campanhas necessitam da presença do 'outro ', um outro submisso, obediente, só assim ela alcança os seus intentos, visto que o desejo encontra o seu pilar no outro. Acampanha é um momento de 'dialética' de desejos (Lacan), da reciprocidade (Fanon), ou seja, a busca de ser reconhecido ( Kojéve) e aceite pelas massas.
Em Moçambique, para as Eleições Gerais de 15 de Outubro de 2019, concorrem quatro candidatos às Presidenciais e vinte e seis Partidos Políticos às legislativas e provinciais, que significado têm estes números no desejo do desejo pelo outro? Desejam coisas diferentes para o povo moçambicano? Temos clareza sobre o que eles desejam? Podem estes desejos fluir sem debates inter-candidatos e partidos?
No mundo dialético dos desejos, onde o desejo (auto-consciência) reconhece que precisa do desejo do outro (eleitor), para o caso moçambicano, cada candidato presidencial funciona dentro da consciência de si (desejo pelo centro das atenções), com seus manifestos e os quatro precisam da figura e presença do outro para que este seja dominado e satisfaça os seus desejos. Pois a consciência de si necessita da outra consciência, consciência de si mediante o outro e estas consciências interagem, uma como ' senhor' e outra como ' escravo'.
Campanha como desejos deve prever primeiro e acima de tudo um continuun entre o desejo dos potenciais eleitores e os desejos dos partidos políticos (e seus cabeças de lista), significa que estes desejos de forma ética e saudável devem fluir e comunicar. Esta dialética entre os desejos dos eleitores e dos partidos políticos não deve funcionar na lógica " Do Senhor e do Escravo ", onde a relação de dependência em benefício do ' senhor', que sabe que não sobrevive sem a presença do 'escravo'. Mas uma relação com base num continuun entre o senhor e o escravo ou melhor, com base num continuun entre o escravo e o senhor, onde o escravo saiba que ele é o centro das atenções e o senhor tenha consciência de si como um bom servidor. Para tal é necessário vencer o sentimento de medo e o silêncio.
O ' Senhor ' pode funcionar como sol, mas não deve esquecer nunca que o ' escravo' é o protetor solar. O desejo do desejo do outro deve ser humanista e saudável, no lugar de desejos tóxicos.
Na verdade este lugar entristeceu-se. Feneceu. Perdeu todas as molécolas da cumplicidade que se foi enraizando na amizade desinteressada da juventude. E de nós, os sexagenários, já no fim da caminhada, levados para ali pelo contágio da alegria. Sando Lodge era o cântaro em si. Um pote puro. Uma espécie de palco onde todos cantavam e dançavam por dentro, deixando o resto por conta das emoções. Aqui residia o sinónimo mais profundo da liberdade. Mas o que sobra agora, para o nosso desespero, são os fiapos da última luz deixada pelo entusiasmo de viver.
Sando Lodge fica aqui perto da minha casa, ao longo da baía de Inhambane. Já sem as sonoridades do bem estar que nos proporcionava no seu sossego. Sem a brancura das areias, ora pejadas da escória devolvida pelo mar à nossa ignorância. Tudo aquilo que nos dava paz e desejo de estar ali, sucumbiu: o espaço livre e limpo, agora ocupado por desgraçados casebres, cujos ocupantes sofrem em tempo de marés enquinociais.
E se você quiser conhecer o testemunho de toda a poesia tecida ali, no roçagar dos corpos, depois dos copos, esse testemunho somos nós. Que não queriamos mais nada para além da brandura do tempo que nos embalava entre os braços da areia branca e o peito das águas tranquilas do mar. Era isso que nos movia para o Sando Lodge. E bastava-nos.
Agora ninguém procura o lugar. Pior do que isso, ninguém fala dele. Nem o próprio Santana, o jovem tornado eixo pela simplicidade e humildade. Santana era, lado a lado com o Sando Londge, ou por detrás disso, o mote para todo o júbilo. Agora ficou sozinho, ruminando a nostalgia do tempo que pode não voltar. Jamais. Até os flamingos já não passam perto para estabailizarem a pressão do coração que se vai esvaindo. E para agravar a tristeza, aí estão as almadias quedadas em maré vaza.
O que dói é perceber que apesar do amor que alimentamos durante longo tempo, entre nós e as águas que se despejavam serenas nas areias brancas do Sando Lodge, já não há nada que nos liga. Ninguém quer saber do outro. Nem as noites de luar, que eram uma maravilha observadas a partir dali, nos afagam a dor de termos perdido um dos lugares mais prazerosos da baía de Inhambane. Nem as luzes que cintilam do outro lado, do lado da Maxixe, chegam para espantar a desolação.
Talvez um dia alguém cante uma música em homenagem ao Sando Lodge. Quem sabe!
Tenho medo dos meses de Setembro e de Outubro. Temo que Samora Machel, o saudoso 1º presidente da pérola do índico, venha à minha casa e como sempre a altas horas. Da última vez em que bateu a minha porta foi no dia 19 de Outubro de 2016, data da sua partida em 1986. Abaixo uma transcrição considerável (e com alguns arranjos) de um texto (“a propósito de mais um 19 de Outubro”) que publiquei num dos semanários da praça. Depois volto aos meus temores.
“Dia 19 de Outubro de 2016!De dez em dez anos, Samora Machel bate a minha porta. O som da batida é já do meu domínio, embora desta vez fosse menos sonoro, mas mais incisivo. Abro! Samora esboça um sorriso diferente, enquanto entra e caminha militarmente pela casa. Faço um compasso de espera e fecho lentamente a porta. Feito o reconhecimento, Samora conclui que estou só. Vou ao encontro dele para a saudação e, já próximo, ignora-me. Entre rodopios e assobios, vai andando pela casa dentro. Era a terceira visita de Samora. Bem ao estilo da ofensiva política e organizacional.
Isto está nublado. Penso. O que terá acontecido desde a última visita há dez anos (2006)? Pergunto aos meus botões. Silêncio total. Decido que o melhor é sentar e relaxar ao som das melodias revolucionárias e do sapateado das botas russas, calculo. De rompante, Samora interrompe a orquestra e com o indicador em riste pergunta:
- Então! O Livro?
- Que livro? Respondo, dissimulando que não me lembrava.
Nessa última visita, a segunda, tinha-lhe prometido que escreveria finalmente o livro, retratando a “nossa amizade” com o título “Samora e Eu”, cujo prefácio (na verdade um postufácio) seria escrito por ele, conforme ficou combinado. Passam já dez anos.
A primeira visita (1996) foi depois de eu ter participado numa palestra ou algo semelhante orientada pela viúva (de Samora) Graça Machel, no Sindicato Nacional dos Jornalistas. Nesse dia, já madrugada, Samora encontrou-me a escrever os primeiros rabiscos, inspirado na palestra e num texto (redacção/composição) que escrevi num teste de língua portuguesa, anos antes, em que o mote tinha sido um artigo publicado, salvo erro, no jornal electrónico media-fax. No artigo, o autor referia-se a Samora como um homem amado por uns e odiado por outros.
A conversa foi tanta e prolongou-se até ao amanhecer. Confessei os 11 anos da “nossa amizade”. Na verdade, narrei factos e momentos vivenciados ou acompanhados por mim durante o seu consulado, desde o primeiro dia em que o avistei até ao dia em que me zanguei e cortei unilateralmente a amizade, observando uma trégua no período da sua morte. No livro de condolências, recordo-me de ter registado: Samora. Para os amigos, o amigo. Para os inimigos, o inimigo!
Na despedida, já com o sol a raiar, ocasião em que brindamos o reatamento da “nossa amizade”, Samora pediu que eu acrescentasse aos factos as minhas reflexões e pensamentos de forma imparcial. O desafio estava lançado. Acredito que esse desafio não seja só para mim e tão pouco para os que privaram directamente com Samora quer no seu dia-a-dia, quer no processo de libertação e governação do país.
-O Livro? Insiste Samora. E com um olhar de quem diz “daqui não saio, daqui ninguém me tira”, anota que no lugar de visitas periódicas de década em década, estará de olho todos os dias.” (fim da transcrição)
Por “ de olhos todos os dias” entendi que ele não iria esperar mais dez anos (2026) para voltar a bater a minha porta (a altas horas) e exigir o livro. Feliz ou infelizmente Samora ainda não me visitou desde o “encontro” de 19 de Outubro de 2016. Presumo que esteja ocupado com dossiers dos últimos desenvolvimentos do país. O facto de ele não ter vindo foi óptimo para mim, pois ainda não tenho o Livro ou algo que se pareça. E já passam dois anos.
Hoje é dia 22 de Setembro. Dentro de seis, sete dias será a data do seu 86º aniversário natalício. Temo que ele venha por estes dias. Sinais não faltam. Tenho ouvido passos nocturnos com a cadência típica dos de Samora Machel. Se não for por estes dias de Setembro ainda resta o mês de Outubro que está à porta.
Já é madrugada. Estou diante do computador. Na secretaria o manuscrito - já com cor de ganga de caqui - em que repousam as primeiras notas, escritas na altura da primeira visita. Um trecho do manuscrito diz: “o que sinto por ele (Samora Machel) é uma miscelânea de amizade e animosidade. Em conversa com amigos uma vezes defendo-o e outras ataca-o veementemente”.
Seja como for tenho que apresentar alguma coisa caso ele apareça. Enquanto cogito, cochilo em busca de inspiração. Em seguida um silêncio. Um frio na barriga. De repente oiço a porta a bater de forma insistente. Será Samora Machel?
Para começar...
O presente comentário constitui a nossa percepção em torno do que os partidos acima mencionados dispõem nos seus manifestos políticos para os jovens moçambicanos. A nossa leitura baseia-se no que está escrito em cada documento analisado, não sendo assim nenhum estudo aprofundado. Por questões de equilíbrio metodológico, escolhemos os três partidos pelo facto destes estarem a concorrer para as eleições presidenciais, mesmo que não nos tenha chegado o manifesto político do partido AMUSI. Num cenário próximo, ficamos com a tarefa de fazer uma leitura que agregue somente os partidos que concorrem para a eleição legislativa, e sem assento parlamentar.
Entendemos ser importante esse exercício dado o facto de recorrentemente se colocar o debate em torno da(s) juventude(s) como central no discurso político nacional, mesmo que em dado momento da história esses mesmos jovens tivessem sido chamados a “seiva da nação” (Samora Machel, 1977), e noutro foram tidos como potenciais “vendedores da pátria” (Hama Thai, 2008). Aliás, os três partidos que serão alvo de análise, demostram o seu condão político-juvenil através da criação da Organização da Juventude Moçambicana (OJM) para o caso da Frelimo, e das Ligas Juvenis para os casos do MDM e da Renamo.
Importa esclarecer que a colocação do termo juventude no plural representa, para nós, a dúvida teórica quando procuramos buscar um consenso. De facto, não conseguimos definir o que seria juventude(s), sendo o mesmo polissémico e socialmente ambíguo. Pensamos ser problemático falar de juventude moçambicana, razão pela qual propomos o seu uso no plural por considerar a multiplicidade na sua concepção sócio-cultural, biológica, política e económica.
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FRELIMO
Num total de 100 páginas, é na secção 3.1.4 (Título: Juventude – página 47) que o partido Frelimo trata da(s) juventude(s), na qual afirma: “A FRELIMO reconhece o dinamismo, perseverança, e espírito de liderança que sempre caracterizaram a juventude em todos os processos históricos que culminaram com transformações políticas e sociais profundas no País. O compromisso da FRELIMO em relação à empregabilidade e ao trabalho, a habitação, a promoção de pequenas e médias iniciativas empresariais, o aumento da produção e produtividade, a promoção da educação e a formação profissional tem como principal grupo alvo os jovens Moçambicanos.
Assim, a FRELIMO vai:
“Promover o associativismo juvenil, como um mecanismo de diálogo com as lideranças e de acesso às várias oportunidades de desenvolvimento; Promover iniciativas que contribuam para o fortalecimento do associativismo juvenil, com destaque para as iniciativas colectivas empreendedoras, para tornar os jovens actores cada vez mais preponderantes no combate a pobreza; Desenvolver programas e acções que contribuam para a materialização da Política da Juventude e demais instrumentos orientadores para o desenvolvimento da Juventude; Facilitar o acesso dos jovens à terra infra-estruturada, habitação condigna com crédito em condições concessionais de prazo e juro, bem como aos recursos de que o País dispõe; Promover medidas que incentivem as iniciativas dos jovens, que concorram para o fomento de actividades geradoras; de rendimento e, para o desenvolvimento da economia nacional do País; Estimular a criação de iniciativas que incentivem a participação dos jovens nos processos de planificação e implementação de programas de desenvolvimento; Estimular nos jovens o respeito pelos direitos humanos, valores morais e éticos, o espírito patriótico e o sentido de justiça social e de género; Promover a saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes e jovens e hábitos de vida saudável”.
Pela contagem feita, a palavra JUVENTUDE surge 5 vezes no manifesto do partido Frelimo.
MDM
54 páginas prefazem o manifesto do MDM, sendo que destas o assunto sobre a(s) juventude(s) surge na 46a página (Título: Juventude, secção 4.11), na qual é referido que: “O MDM vê na Juventude a grande esperança de um Moçambique novo e para todos. A Juventude será o eixo inspirador e condutor da acção governativa do MDM. A Juventude será a prioridade do governo do MDM. Para o fortalecimento da juventude moçambicana, o MDM compromete-se, como sua grande prioridade para este grupo social, criar Postos de trabalho, Serviço de Acção Social Escolar e destinar parte do PIB para financiar o Programa Nacional de Habitação para a juventude. A participação e apropriação do processo do desenvolvimento por parte dos jovens vai merecer do Governo o maior empenho, como forma de reforçar e aprofundar a participação dos jovens e, como via privilegiada de assegurar patamares mais elevados de desenvolvimento económico e social”.
Para tal o governo do MDM irá ainda, entre outras coisas:
“Promover acções que estimulem o espírito empreendedor nos jovens de modo a envolverem-se activamente nos processos de desenvolvimento do país, adquirindo e aplicando habilidades que os tornem cidadãos produtivos e desenvolvam as capacidades de gestão e liderança; x Estimular através de uma educação sólida e continuada, o desenvolvimento de uma geração mais qualificada, melhor preparada, mais solidária e mais participativa; x Criar o Serviço de Acção Social Escolar em todas as Instituições Públicas e ou Privadas do Ensino Superior de modo a assegurar a igualdade de acesso ao Ensino superior por parte dos estudantes carenciados oferecendo maiores oportunidades de bolsas de Estudos; x Administrar durante o serviço militar cursos profissionalizantes nos ramos militares e outros de modo a conferir aos jovens um sentido de maior oportunidade e utilidade, tanto na iniciação de formação profissional como em apoios de natureza social e outros da sua vida particular; x Fortalecer a Juventude, implementando o Sistema Nacional de Políticas para a Juventude. Criando condições para uma maior autonomia e independência ideológica em estrito respeito e cumprimento da Constituição da República; Ampliar e consolidar as políticas de juventude, articulando em estrito cumprimento com o definido na Constituição da República; Introduzir programas de divulgação da importância de se frequentar o ensino médio, técnico profissional e de artes e ofícios (...)”.
No manifesto do MDM, a palavra JUVENTUDE foi escrita 13 vezes.
RENAMO
São 44 páginas que compõem o manifesto do partido Renamo, e do mesmo a palavra JUVENTUDE foi escrita 4 vezes. Na página 23, (Título: A Juventude, secção 4.1.5), a Renamo diz que: “A intervenção das políticas públicas, no âmbito da juventude, deve ter como objectivos a promoção do emprego e a inclusão social dos jovens”.
Mais adiante, na página 24, o partido adianta que: “O Governo da RENAMO vai:
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O nosso comentário geral:
Colocados os três partidos, encontramos entre semelhanças, alguma ambiguidade do que chamamos no início deste comentário juventude(s) moçambicana(s). A forma como todos os partidos tratam os jovens – a partir de um conjunto com necessidades iguais – nos remete ao pensamento segundo o qual não há categorias sociais, culturais, políticas ou mesmo económicas do ser jovem em Moçambique, o que consideramos metologicamente errôneo.
Por um lado, dos documentos lidos apenas os partidos Frelimo e MDM apresentam a data de concepção ou aprovação dos respectivos manifestos políticos, sendo Julho para Frelimo e Maio para MDM.
Por outro lado, o elencar de problemas identificados por estes partidos como os que afligem os jovens, pode ser visto como uma estratégia que oculta, em grande medida, a potencialidade que se pretende encontrar nos jovens enquanto auto-didactas e donos do seu próprio caminho. Ou seja, os três manifestos são, na sua essência, um conjunto de soluções para problemas que consideram ser dos jovens, mesmo que em nenhum momento se explique como conseguiram determinar entre problema e não problema.
Contudo, notamos diferença no cuidado e uso dos termos para referir a intenção de cada partido, sendo que nesse quesito os partidos Frelimo e MDM surgem a usar de forma variada alguns termos que nos fazem entender que existe alguma intenção em colocar nos jovens a responsabilidade destes tomarem as rédeas do seu próprio desenvolvimento.
A Renamo apresenta, como vimos acima, quatro destaques nos quais vai intervir no tocante aos jovens, o que em comparação com os partidos Frelimo (oito promessas) e MDM (dezoito promessas) há uma larga diferença da quantidade textual e explicação das acções que se pretendem realizar, mesmo entendendo que a análise vai para além da quantidade das promessas.
Constatamos ainda que dos três partidos, apenas a Frelimo intercala as suas acções com fotografias, sendo que na secção da(s) juventude(s) fê-lo com uma foto que, pelo que se pode entender, representa duas jovens.
Mais ainda, entendemos que tornou-se recorrente a colocação do emprego e da habitação como centrais e necessários “problemas” a resolver quando se fala dos jovens. Talvez sim, mas talvez não. Aliás, não nos parece que estes dois elementos devam ser tratados de forma universal para a(s) juventude(s) em Moçambique. Não consideramos que esses sejam os “problemas primários” dos jovens em Moçambique, pois pensamos que não existe clareza na identificação de tais “problemas” numa dimensão de género, idade ou mesmo situação social.
Por fim, entendemos que continua polissémico caracterizar os jovens a partir de uma perspectiva biológica, ou por outra, faixa etária (18 aos 35 anos, por exemplo), sobretudo num contexto regional, continental ou mesmo mundial em que não existe consensos sobre a fórmula baseada na faixa etária.
*Os manifestos foram de acesso electrónico, sendo que copiamos taxactivamente o que cada partido político refere na secção sobre a(s) juventude(s), com excepção do partido do MDM que por opção tivemos que fazer um recorte na segunda página, dado o facto de se apresentar como demasiado extenso.
Ver os manifestos analisados em https://cipeleicoes.org/documentos/
Desculpa, senhor Presidente, mas foi você mesmo que acendeu o rastilho desta dinamite estúpida. Lembra-se? Esqueceu? Agora como é que vem, em pleno Estádio Nacional de Rufaro, perante os holofotes do mundo, pronunciar aquelas palavras sem sentido? Opacas. Você tomou uma atitude retrógrada, senhor Presidente! Você me fez lembrar Tchaka Zulu, que por tudo e por nada, mandava matar, mu bulaleni (matem-no).
A sua posição, meu caro Presidente, é de um primitivo. Porque uma pessoa que incita à violência e à morte de outros seres humanos, e fica insensível perante o sangue que jorra dos corpos desses seres, no mínimo é irracional. E você, senhor Presidente, prometeu, durante a campanha eleitoral, que ira correr com os estrangeiros da África do Sul.
Os seus compatriotas pilharam, destruiram e mataram em nome do Presidente da África do Sul. E o Presidente é você, senhor Ramaphosa, que autorizou implicitamente aquilo tudo. O seu comandante-supremo da Polícia dançou a música que você tocou, ou mandou tocar. Os agentes policiais também, participaram como actores de primeira linha na execução da sinfonia animalesca daquela semana. E depois da tragédia lá vem você, senhor Presidente, pedir-nos desculpas, lembrando-nos um tirano daqui da nossa zona, que mandava matar um companheiro de luta, e depois ia fazer ele próprio o elogio fúnebre exaltando os feitos patrióticos do finado. Veja só!
Se a África do Sul tem problemas, senhor Presidente, o culpado do vosso declínio não somos nós. Você sabe muito bem aonde é que está o busilis da questão. E saiba mais, os tempos de ouro nunca voltarão usando gasolina para incendiar nossos corpos, provocando a risada dos crueis polícias sob sua égide como comandante-chefe. Não é esse o caminho. Não são as facadas que nos decapitam, nem as pauladas por sobre as nossas cabeças que vão trazer a prosperidade para os sul-africanos. Não é toda essa selvajaria. Esse primitivismo.
Senhor Presidente, se você quer, na verdade, uma África so Sul que caminhe à luz do arco-iris, guie-se pela sensatez. Respeite sobretudo a vida do seu próximo. E mais, esse grande país nunca vai crescer sozinho. Aliás, uma boa parte da economia sul-africana foi sempre movida por estrangeiros, por moçambicanos como eu, trabalhando nas minas de onde voltaram doentes para morrer aqui no nosso solo-pátrio. Muito outros morreram aí mesmo, erguendo o grande edifício que acolhe a você, senhor Presidente e a todos os seus compatriotas.
Eu tenho muito respeito por si, como símbolo da Nação, mas deixei de me simpatizar consigo como pessoa, a partir do dia em que incitou à violência, prometendo expulsar as pessoas que não são daí. Ora essa! Vista outra roupa, meu caro Presidente. Roupa nova, e venha nos mostrar que está, daqui em diante, depois das desculpas que pediu em Harare, comprometido com uma África do Sul não vingativa contra estrangeiros. Porque até prova em contrário, você, senhor Presidente, está no mesmo saco dos vingativos. A sua atitude mancha a África inteira.
Senhor Presidente, não se esqueça que você é uma pessoa vulgar. O que está a acontecer é que está investido de poderes invulgares. Mas esse escafandro não é eterno. O seu madato vai terminar depois de alguns anos. E eu não acredito que gostaria de sair e deixar uma África do Sul mais manchada de sangue do que já está. Você é uma pessoa capaz de se mudar a si mesmo, senhor Presidente, e se fizer isso, toda a África do Sul vai lhe seguir e toda a África vai-lhe agradecer.
Por enquanto estarei aqui, deste lado, agora mais do que nunca, aconchegando a lenha na fervura da esperança.