O volume de negócios da empresa Aeroportos de Moçambique (ADM) atingiu 1.4 mil milhões de Meticais em 2020, valor que representa um decréscimo em 54.2% em relação a 2019. Em causa, a empresa apontou a crise pandémica provocada pelo novo coronavírus que ditou, em todo o mundo, medidas fortes de circulação para evitar a propagação da doença.
Como consequência dessas restrições, a empresa registou uma queda acentuada no número de passageiros e carga transportadas em 2020, bem como o decréscimo de aeronaves que voaram no país.
Dos 2.2 milhões de passageiros previstos, a ADM registou, no ano findo, um milhão, contra 2.1 milhões de passageiros registados em 2019. A aviação nacional é a que mais queda registou, pois, de 1.5 milhão de passageiros esperados, a empresa registou apenas 825.9 pessoas em 2020, contra 1.4 registados no ano anterior.
No ano em análise, a empresa que gere os aeroportos de Moçambique registou 33.8 mil aeronaves que efectuaram voos no país, contra 68.4 mil planificados e 66.6 mil registados no ano anterior.
Em 2020, a empresa esperava transportar-se 17.2 milhões de toneladas de carga, mas apenas registou 8.8 milhões de toneladas, número que é quase metade de 16.9 toneladas registadas em 2019.
A ADM sublinha, em carta envida ao nosso Jornal, que a queda do tráfego aéreo é que influenciou grandemente para a redução drástica do volume de negócios da empresa.
Apesar dessa realidade, a empresa ressalta que, em 2020, continuou a levar a cabo várias acções, em geral, com vista a melhorar a qualidade das infra-estruturas que gere. Da lista de actividades, o foco vai para o início do processo de certificação do Aeroporto Internacional da Beira que culminou com a inspecção do aeroporto pelo Instituto Nacional de Aviação Civil de Moçambique (IACM) em Dezembro de 2020.
No ano passado, a empresa iniciou também o processo de recertificação do Aeroporto Internacional de Nacala; licenciamento dos aeroportos de Nampula e Pemba; continuação do projecto de construção do Aeroporto de Xai-Xai entre outras actividades. (Evaristo Chilingue)
Se até 13 de Janeiro passado, as vendas online, introduzidas no âmbito do combate à Covid-19, tinham-se popularizado na comercialização de produtos alimentares, agora as mesmas estenderam-se para a venda de bebidas alcoólicas.
Com as restrições impostas pelo Presidente da República para a comercialização de bebidas alcoólicas (das 9:00 horas às 13:00 horas apenas de segunda-feira a sábado), alguns comerciantes recorreram às plataformas digitais para a venda do seu produto.
Segundo a Inspecção Nacional das Actividades Económicas (INAE), que diz ter detectado este facto na última semana (de 03 a 15 de Fevereiro), as vendas são feitas com entregas ao domicílio e sem nenhuma observância das medidas de prevenção da Covid-19.
“Este tipo de negócio é ilegal, visto que a legislação não prevê este tipo de actividade económica, havendo muitos riscos para o consumidor que não sabe que procedimentos segue o produto até ser entregue na sua residência”, explicou Tomás Timba, porta-voz da instituição, acrescentando ainda ter-se observado também a transformação de residências em estabelecimentos de venda de bebidas alcoólicas.
Na conferência de imprensa concedida esta terça-feira, a INAE revelou ainda ter destruído diversos produtos alimentares e de higiene, avaliados em 28.920 Meticais por estarem fora de prazo. Entre os produtos destruídos, estão 11 caixas de chá cativadas na cidade de Nampula.
Timba disse ainda se ter verificado a não observância de horários de funcionamento nas lojas de conveniência, localizadas nas bombas de abastecimento de combustível. Tal como os outros estabelecimentos comerciais, as lojas de conveniência devem fechar às 18:00 horas. De um modo geral, a INAE diz ter notificado 59 agentes económicos e suspenso 69 estabelecimentos comerciais durante a última semana. (Marta Afonso)
O Produto Interno Bruto (PIB) a preços de mercado (resultado final da actividade de produção das unidades produtivas nacionais) apresentou uma variação de menos 2.37% no quarto trimestre de 2020, comparado ao mesmo período do ano anterior, e situou-se em menos 1.28%, em todo o ano de 2020.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) explica que o desempenho negativo da actividade económica no quarto trimestre de 2020, comparado com igual período de 2019, é atribuído, em primeiro lugar, ao sector terciário que decresceu em 4.06%, com maior destaque para o ramo de hotelaria e restauração com uma variação de menos 22.54%, seguido pelo ramo dos transportes e comunicações, com menos 7.45% e do ramo de serviços financeiros com cerca de menos 2.07%.
“Ocupa a segunda posição o sector primário com uma variação de menos 2.70%, induzido pelo ramo da indústria de extracção mineira com menos 13.1%, não obstante o desempenho positivo dos ramos da agricultura e da pesca com 1.13% e 1.56%, respectivamente. O sector secundário registou uma variação também negativa, de menos 2.30%, induzido pelo ramo da electricidade, gás e distribuição de água com menos 5.17%, seguido pelo ramo da construção com menos 3.84% e da indústria transformadora com variação negativa de 1.14%”, lê-se num comunicado do INE.
A Autoridade Estatística observou que, contrariamente aos ramos acima, o sector da agricultura, pecuária, caça, silvicultura, exploração florestal, actividades relacionadas tiveram uma maior participação na economia com peso conjunto no PIB de 18.3%, seguido pelos ramos de comércio e serviços de reparação com 10.7%.
Dos ramos que cresceram positivamente, o INE relata que estiveram, em terceiro lugar (depois da agricultura e comércio), os ramos de transportes, armazenagem e actividades auxiliares dos transportes e informação e comunicações com uma contribuição conjunta de 10.6%, seguido do ramo da Indústria Transformadora com um peso de 9.2%.
“O ramo da indústria da extracção mineira com um peso de 6.4%, administração pública, educação, aluguer de imóveis e serviços prestados às empresas, pesca e aquacultura com pesos de 6.5%, 5.9%, 5.3% e 1.7%, respectivamente. Os restantes ramos de actividade tiveram em conjunto um peso de 25.4%”, conclui a nota do INE sem precisar o real motivo da queda do desempenho da economia moçambicana. Ainda assim, sabe-se que a crise pandémica contribui em grande medida para esse efeito negativo. (E. C.)
Informação avançada, semana finda, pelo Director Nacional de Hidrocarbonetos e Combustíveis, Moisés Paulino, indica que o país vai ter a primeira refinaria de Gás de Petróleo Liquefeito (GPL) ou gás de cozinha em Inhambane.
Segundo Paulino, a construção da refinaria será executada pela petroquímica sul-africana Sasol, em parceria com o Governo de Moçambique. A nossa fonte explicou que a infra-estrutura será erguida nas instalações da Sasol a norte de Inhambane e vai refinar o gás extraído em Pande e Temane.
O Director Nacional de Hidrocarbonetos e Combustíveis sublinhou que a construção da infra-estrutura enquadra-se no Plano Quinquenal do Governo (2020-2024). Paulino acrescentou ainda que a instalação da refinaria enquadra-se nos compromissos que a Sasol tem com o Governo de Moçambique, no âmbito da exploração do gás natural em Pande e Temane.
Em conversa telefónica, o gestor não precisou a data do início da construção da refinaria, mas disse que este ano arrancam “trabalhos de engenharia”, bem como a elaboração do projecto da infra-estrutura. Em termos de manuseamento, Paulinho disse que a refinaria vai processar 30 mil toneladas de GPL por ano.
Em entrevista sobre massificação do uso de gás de cozinha no país, a nossa fonte sublinhou que a refinaria irá ajudar, em grande medida, o Executivo e sector privado a incrementar o uso daquele bem pelos moçambicanos, em substituição da lenha e do carvão, por não serem amigas do meio ambiente, numa altura em que só pouco mais de 1.5 famílias localizadas em grandes cidades do país usam o GPL.
Refira-se que, em parceria com o Governo, a Sasol está também a construir uma Central Térmica a gás com capacidade prevista de 420 Mega Watts. O objectivo da infra-estrutura, que entra em funcionamento em 2023, é eliminar as restrições que se verificam no fornecimento de energia eléctrica na região norte da província de Inhambane e uma parte do sul de Sofala. (Evaristo Chilingue)
Dados fornecidos à “Carta” pela empresa Aeroportos de Moçambique (ADM) indicam que o transporte aéreo caiu drasticamente no ano passado em relação a 2019, por causa dos efeitos da pandemia do novo coronavírus.
Para 2020, a ADM previa transportar-se 2.2 milhões de passageiros pela aviação nacional, regional e internacional, mas só registou metade do planificado, isto é, um milhão, número que também é muito abaixo de 2.1 milhão de passageiros registados em 2019.
Aqui, o destaque vai para os passageiros transportados internamente. A empresa esperava registar cerca de 1.5 milhão de passageiros, mas apenas 825.9 pessoas usaram o transporte aéreo em 2020, contra 1.4 registados em 2019.
Devido a restrições de circulação de pessoas impostas em todo o mundo, para evitar a propagação do novo coronavírus, a empresa que gere os aeroportos de Moçambique mostra, noutro mapa, o registo também de queda drástica no número de aeronaves que voaram no território nacional.
Durante 2020, a ADM registou 33.8 mil aeronaves que efectuaram voos no país, contra 68.4 mil planificados e 66.6 mil registados no ano anterior.
A carga transportada também caiu em 2020. Nesse ano, a empresa esperava transportar-se 17.2 milhões de toneladas de carga geral, mas apenas registou 8.8 milhões de toneladas, número que é quase metade de 16.9 toneladas registadas em 2019.
Na carta em que constam os dados acima reportados, a empresa sublinha que, apesar da crise pandémica, conseguiu realizar várias actividades, com destaque para o início do processo de certificação do Aeroporto Internacional da Beira, que culminou com a inspecção do aeroporto pelo Instituto Nacional de Aviação Civil de Moçambique (IACM) em Dezembro de 2020.
No ano passado, a empresa iniciou também o processo de recertificação do Aeroporto Internacional de Nacala; licenciamento dos aeroportos de Nampula e Pemba; continuação do projecto de construção do Aeroporto de Xai-Xai, bem como desenvolvimento do Projecto Urbanístico e Imobiliário da Costa do Sol. (Evaristo Chilingue)
Moçambique perdeu cerca de 13 mil postos de trabalho na indústria do caju desde meados de 2020 até ao início de 2021. Esta tragédia económica e social tornou-se agora viral nos media porque o maior processador, a OLAM, anunciou em comunicado do dia 4 de Fevereiro que estava encerrando as suas fábricas, entre as quais a maior do país situada no Monapo. Mas a falência desta indústria e encerramento de fábricas já vem ocorrendo silenciosa e dolorosamente, desde há alguns meses. A causa é uma doença que está instalada na nossa sociedade e sistema económico desde há anos. É um cancro que está a matar este e outros sectores industriais e que se chama “comercialização agrícola desordenada”, onde piratas e lavadores de dinheiro sujo retiram espaço a investidores formais.
A actual tragédia da indústria do caju é uma reedição do que ocorreu há 20 anos. Mas há uma mudança de actores.
Há 22 anos um lobby asiático, ligado do Banco Mundial, impôs ao Governo de Moçambique a total liberalização do comércio do caju. Os industriais deixaram de poder beneficiar de mecanismos que lhes conferiam prioridade na compra de matéria prima. Quase todo o caju nacional passou a ser exportado em bruto para a Índia e as fábricas fecharam, despedindo cerca de 11 mil trabalhadores. Houve uma quase revolta nacional contra essas medidas. Nos anos 2003 e 2004 reinstalaram-se medidas de proteção da indústria. O sector renasceu e em 2018 contava com 17 fábricas que empregavam quase 17 mil trabalhadores.
Hoje, aliás, desde há alguns anos, o lobby já não é só asiático, mas também nacional e está instalado em instituições que participam nos processos de decisão da política económica do país. Desde há anos que a comercialização agrícola e o comércio rural são realizados de uma forma aparentemente desorganizada, camuflando uma organização de diferentes “grupos” / “máfias” que comandam os circuitos comerciais de produtos de exportação, onde o caju tem grande peso. Centenas de milhões dólares são anualmente transferidos para praças financeiras internacionais através de mecanismos de subfacturação na exportação ou de fuga à taxa de 18% em processos clandestinos de exportação do caju.
No dizer de um dos líderes industriais que ainda tenta sobreviver à declaração de falência, “a gota que entornou o copo” foi a decisão anunciada em Outubro de 2020, nas vésperas do início da campanha de comercialização do caju, de se acabar com a interdição na exportação de matéria-prima até ao momento em que a indústria nacional estivesse abastecida. Nos anos anteriores, a exportação antes desse momento estava limitada à amêndoa processada. Era uma condição que explicitamente priorizava a indústria. Não é, pois, estranho que a OLAM argumente agora como uma das razões do fecho das fábricas “as recorrentes dificuldades em aceder a matéria prima de qualidade nos volumes necessários”
“Industriais que têm de investir nos custos fixos e operacionais das fábricas, garantindo milhares de postos de trabalho, assegurar estoques de matéria prima para laborar 12 meses com os consequentes custos financeiros, são tratados como iguais aos que sem quaisquer destes custos nem riscos se limitam a comprar num dia e a exportar logo de seguida.” - disse um dos membros da AICAJU. O facto de agora qualquer um poder exportar o que quiser e quando quiser desvaloriza o valor dos investimentos realizados, bem como a apetência para novos investimentos na indústria. “É melhor ser apenas comerciante”.
Um sector estratégico
O caju é das culturas de rendimento com mais história na economia de Moçambique. No início da década 1970, fomos o maior produtor mundial, tendo atingido as 230 mil toneladas em 1973. Depois de ao longo dos anos de guerra e desmantelamento da indústria o sector ter caído a níveis sem qualquer reconhecimento, em 2018, Moçambique voltou a ter nome internacional: foi o 5º país processador de caju no mundo.
Estima-se que 1,4 milhões de famílias nas zonas rurais obtenham uma parte dos seus rendimentos a partir do caju, além dos milhares de operários, muitos deles sendo mulheres, que tinham um salário garantido para o sustento das suas famílias. Só em Nametil e no Anchilo, os 3500 trabalhadores das duas fábricas ali instaladas receberam de salários em 2017 um total na ordem dos 160 milhões de Mts, além de outros valores de subsídios. Embora sem dados exactos estima-se que a nível de toda a indústria o global de salários que em 2017 ficaram em zonas rurais ascenda a USD 12 milhões.
Nos anos 2016 e 2017 o valor da amêndoa processada e exportada por todas as fábricas assegurou uma entrada de divisas no país na ordem dos 70 a 75 milhões de US Dólares em cada um desses anos. Mas o valor das exportações de matéria prima em bruto (castanha) andou entre os USD21 e 24 milhões.
A importância da industrialização e processamento tem uma lógica que decorre do seguinte rácio. A valorização da castanha no processamento é da ordem 40 a 50 por cento. Ou seja, a cada mil toneladas exportada em bruto corresponde uma entrada de divisas na ordem de USD1 milhão; se as mesmas mil toneladas forem processadas e convertidas em amêndoa com qualidade, o valor final será cerca de USD1,4 a 1,5 milhões.
Se a esta valorização se acrescentarem as receitas em salários, impostos e outros impactos na economia rural percebe-se por que razão o relatório da Nitidae ([i]) financiado pela AFD afirma: “Ao aumentar o valor das exportações de caju, proporcionando mais de 15.000 empregos e participando da industrialização de Moçambique, o setor de processamento de caju é estratégico para o país”.
Falácias que encobrem as redes criminosas
O ataque às medidas de proteção da indústria, que agora já não vem de lobbyes externos, tem vários argumentos e autores. O principal argumento é o da falta de competitividade das nossas fábricas. O estudo (1) extensivo e divulgado no início de 2020 concluiu que o problema não reside na falta de competitividade das fábricas, mas sim na fragilidade de políticas públicas para estimular a indústria. É, aliás, reconhecido em foros internacionais que Moçambique tem algumas das fábricas mais modernas de África.
Na actualidade, os principais competidores de Moçambique são o Vietname, Índia e Costa do Marfim. O estudo que temos vindo a citar observa que a indústria moçambicana enfrenta inúmeras desvantagens quando comparada com os seus principais concorrentes. Os principais factores de desvantagem são:
Estão identificados ainda um conjunto de outros factores que tornam o ecossistema do caju adverso a uma maior competitividade da indústria. Porém, que fique claro: não é um problema que se resuma à necessidade de uma melhor gestão e/ou modernização das fábricas. Enquanto uns governos adoptam medidas de apoio e fomento consequentes, em Moçambique assiste-se a uma inércia suicida.
Além do falso argumento da competitividade das fábricas existe também o da falácia de que alguns industriais fecham as fábricas por não serem capazes de gerir a liquidez das suas empresas. Isto é uma falácia porque confunde causa com a consequência.
A maior parte das fábricas que hoje estão fechadas mostram que nas suas contas, a 31 de Dezembro de 2017, não tinham dívidas com a banca, ou, pelo menos, não tinham qualquer dívida em atraso. Porém, em 2018, houve uma crise a nível global nesta commodity fazendo baixar os preços da amêndoa e, em simultâneo, um processo de inflacionamento de preços na já referida “organizada desordem” da comercialização agrícola do caju na zona Norte do país.
Não é de estranhar o facto de desde esse ano se ter verificado o agravamento dos actos terroristas no Norte de Moçambique em simultâneo com um aumento de agentes ilegais inflacionando os preços na compra aos produtores de alguns bens exportáveis como o caju, mas também o gergelim entre outros. Também não é uma mera coincidência o inflacionamento nos preços da compra de caju nas zonas rurais com os relatos de aumento de tráfego de droga transitada pelos portos da região norte de Moçambique.
O inflacionamento dos preços de alguns produtos exportáveis obedece a uma lógica de exportação ilegal de capitais. Basicamente, ainda que de forma simplista, os mecanismos dessa operação são os seguintes:
Não há indústria formal e gerida segundo regras de transparência capaz de concorrer com redes de lavagem de dinheiro sujo e comércio ilegal.
No caso concreto da industria do caju, o impacto destas redes no inflacionamento temporário de preços de aquisição de matérias primas é devastador.
As dificuldades de liquidez em algumas fábricas só marginalmente podem ser atribuídas a uma deficiente gestão de riscos por pare dos seus gestores. Na essência, ela é a consequência de uma conjuntura para a qual o nosso Estado e Governo não têm mecanismos de prevenção nem proteção, pois não têm sido capazes de ordenar e disciplinar a comercialização de produtos estratégicos de exportação.
Quem ganha, quem perde?
A pergunta de quem ganha ou perde é matéria politicamente sensível. Mas ela precisa de ser respondida de forma profissional com estudos e auditorias.
Como economista apenas estranho que órgãos oficiais nos digam que num determinado ano recente produzimos por exemplo cerca de 160 mil toneladas de castanha, mas as estatísticas oficiais revelam que os industriais apenas processaram 60 mil e os exportadores inscritos venderam para o exterior 20 mil toneladas. A pergunta óbvia é: 60mil+ 20 mil = 80 mil, o que representa 50% do que foi propagandeado como produção nacional. Aonde foram as outras 80 mil toneladas?
Os números que aqui cito são deduções aproximadas com algum conservadorismo do que têm sido as estatísticas que nos são oferecidas pelas autoridades do sector.
Aonde foram os outros 50% da produção?
As respostas que obtive de várias fontes é a de que num máximo uns 10% tenham sido consumidos localmente incluindo algumas transações informais entre comunidades fronteiriças com a Tanzania. Os outros 40% foram exportados ilegalmente. Só nas taxas de 18% sobre o valor da exportação isto corresponde a valores entre 7 a 8 milhões de USD.
Quem beneficia com estes 7 a 8 milhões de US Dólares não pagos ao Estado por ano? Há quantos anos e em que volumes se fazem estas exportações ilegais? Quem são os autores destas exportações? “Na verdade, os valores desviados são muito superiores a esta estimativa” - comentou-me um auditor que trabalha no sector há cinco anos.
Está acordado que uma porção desta tarifa de 18% na exportação deveria beneficiar a modernização da indústria de processamento, mas por que razão até hoje o Instituto responsável pelo sector não foi capaz de alocar nenhuma verba a esse fim?
A resposta à pergunta “quem ganha, quem perde” já está dada. Perde o orçamento de Estado, perdem os investidores privados formais, perdem as comunidades; ganham as máfias que se instalaram nos centros de decisão e conseguem de forma cada vez mais livre expandir a sua actividade ilegal.
Como salvar a indústria do caju?
Esta é a pergunta chave que me tem sido colocada por vários industriais do caju, mas também por agências financeiras internacionais.
Das leituras que fiz, observo com grande satisfação que aqueles que há 22 anos contribuíram para liquidar a indústria então existente – o Banco Mundial – estão hoje numa posição bem diferente. Apregoam a necessidade de se tomarem medidas de proteção à indústria nacional capaz de geral empregos e melhoria dos rendimentos das comunidades.
Mas, como se disse no início “…desde há alguns anos, o lobby já não é só asiático, mas também nacional e está instalado em instituições que participam nos processos de decisão da política económica do País.”. Por isso, e para salvar a indústria do caju é preciso saber se o Governo está disposto a distanciar-se desse lobby canceroso.
Diria alguém que “o problema que estamos com ele” é que acabar com estes lobbies não é tarefa de um só ministro. Isto é uma rede que se instalou nos centros de decisão aos mais altos níveis. “Os negócios provenientes das exportações ilegais e ou de subfacturações, incluindo os negócios do caju, beneficiam muitas pessoas concretas em posições chaves de tomada de decisão”.
Ciente de que nem todas empresas enfrentam dificuldades pelas mesmas e ou justificadas razões, é necessário intervir para salvar e recuperar as fábricas em função dos seus méritos e capacidades de sustentabilidade futura. É preciso intervir com uma lógica de reforçar a competitividade da economia e da indústria nacional e não porque existam relações de lobbies políticos.
Proponho que se inicie um programa para:
*Este artigo foi publicado no Semanário Savana (www.savana.co.mz) edição 1414, a 12 de Fevereiro de 2021