A Transportadora Aérea Portuguesa (TAP Portugal) ainda não está autorizada a fazer voos Lisboa-Maputo (ou vice-versa), esclareceu esta quarta-feira (03) o Presidente do Conselho de Administração (PCA) do Instituto de Aviação Civil de Moçambique (IACM), João De Abreu, em entrevista exclusiva à “Carta”.
O esclarecimento acontece nove dias depois de a companhia divulgar o plano de reposição de parte de voos suspensos, num período de dois meses, em que, para Moçambique, a empresa apontava um voo semanal a partir do dia 15 de Junho corrente.
Em pleno Estado de Emergência, o PCA do IACM disse que o plano da TAP Portugal não se irá materializar, pois, o país ainda observa medidas de limitação de circulação de pessoas, por via aérea, com o encerramento parcial de aeroportos e a não emissão de vistos.
“As companhias aéreas são livres de fazer a sua publicidade, como e quando quiserem, mas a TAP ainda não está autorizada a voltar a operar voos em Moçambique, até que a situação de emergência seja alterada ou haja algum relaxamento, dentro das medidas preestabelecidas para o sector da aviação. Nem a TAP, nem outra companhia está autorizada. Só voos de carga e nada mais”, afirmou De Abreu.
Importa lembrar que o plano da companhia de bandeira portuguesa, elaborado num contexto de levantamento de algumas restrições naquele país, previa para Junho e Julho um total de 274 voos, mas maioritariamente de Lisboa, facto que mereceu críticas por parte de alguns governantes locais, por excluir outras regiões do país.
Perante críticas, os gestores da companhia reconheceram e reviram o plano. No actual disponível no site da companhia, consta, de facto, que a TAP não mais vai retomar voos a Moçambique na data prevista, mas sim um voo por semana, a partir do primeiro de Julho, ainda assim, por confirmar, e dois voos semanais, a partir de Agosto.
A TAP é uma das nove companhias estrangeiras que mais voa para Moçambique. Antes da suspensão de voos por causa da Covid-19, a TAP realizava três voos por semana, ligando Maputo e Lisboa. (Evaristo Chilingue)
As fortes medidas restritivas para prevenção do novo coronavírus, em todo o mundo, estão a surtir efeitos muito nefastos para a aviação em Moçambique. Em entrevista à “Carta”, na última quarta-feira (03), o Presidente do Conselho de Administração (PCA) do Instituto de Aviação Civil de Moçambique (IACM), João De Abreu, disse que a actividade no sector baixou drasticamente e mostrou incertezas em a indústria reerguer-se facilmente, caso a crise se prolongue para além de Junho.
“A Covid-19 está a afectar muito o transporte aéreo no mundo. Em Moçambique, particularmente, a nossa actividade deve estar actualmente entre 8 a 9%”, disse De Abreu. Para o efeito, o nosso interlocutor apontou, por um lado, o cancelamento massivo de voos internacionais operados por companhias estrangeiras e, por outro, as medidas de Estado de Emergência.
Das nove companhias estrangeiras, o PCA do IACM destacou a Transportadora Aérea de Angola (TAAG), TAP Portugal, Qatar Airways, Kenya Airways que suspenderam seus voos logo no início, em Março. Como consequência, a fonte explicou que a actividade baixou em 30%, pois, mesmo com a suspensão massiva, continuavam a acontecer alguns voos, principalmente de repatriamento e humanitários, operados pela Ethiopian Mozambique Airlines (EMA).
Todavia, segundo De Abreu, nos meses de Abril e Maio, a actividade aérea registou uma queda drástica de movimento de passageiros e carga, de 75% e 90% respectivamente, em relação ao mesmo período do ano passado.
Ao nível interno, o nosso entrevistado lembrou que a empresa Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) e a EMA cancelaram dezenas de voos internos e para o exterior. “A LAM tinha 142 voos por semana, mas baixou para menos de 30. A EMA operava com três aeronaves, mas hoje ficou com apenas uma, reduziu substancialmente os seus voos”, detalhou.
Para além do transporte aéreo, De Abreu disse que os efeitos da crise pandémica se estendem a toda a cadeia de valor da indústria aeronáutica. De entre vários seguimentos, a fonte destacou as gasolineiras, as empresas de heandling, catering, os correios e indústria hoteleira.
Em caso de contínua evolução da pandemia e, por consequência, manutenção das medidas de Estado de Emergência, para além de Junho, o PCA do IACM disse que a indústria aeronáutica irá ter séries dificuldades de se reerguer.
“Se o cenário não mudar, vai ser muito complicado os operadores do sector recuperarem os prejuízos causados pela crise”, afirmou a fonte, dias depois do prolongamento por mais 30 dias e, pela segunda vez, do Estado de Emergência, no país.
Importa referir que dados publicados em Abril passado, pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, sigla em inglês), revelam que Moçambique é um dos 10 países do continente mais afectados pela crise. A organização diz que o sector da aviação nacional poderá perder receitas na ordem de 0,13 bilião de USD, 0,2 bilião de USD em contribuição para a economia e a Covid-19 arrisca 126.400 empregos.
Desde o diagnóstico do primeiro caso, a 22 de Março passado, o novo coronavírus já infectou, no país, 352 pessoas (dos quais 114 recuperadas) e matou duas pessoas. (Evaristo Chilingue)
A confiança dos agentes económicos na economia degradou-se ainda mais no mês de Abril, atingindo um nível mais baixo nos últimos 10 anos. O Indicador do Clima Económico (ICE), uma publicação mensal sobre a conjuntura económica do país, nomeadamente acerca da evolução corrente da actividade empresarial e perspectivas no curto prazo, particularmente sobre emprego, procura, encomendas, preços, produção, vendas e limitações da actividade, demonstra que o saldo no mês de Março situou-se nos 95.6 pontos, mas em Abril, a confiança dos empresários caiu drasticamente para 88.3 pontos, um valor nunca registado desde 2010.
Elaborado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o estudo explica que a situação desfavorável que se vem registando desde Março esteve em linha com as expectativas de procura, que continuaram com perfil descendente pelo terceiro mês consecutivo e de emprego, apreciada negativamente pelo segundo mês seguido.
Em termos de dimensão empresarial, a análise divulgada em finais de Maio passado concluiu que contribuíram para o estágio actual do ICE a queda da confiança em todos os grupos empresariais, com maior destaque para o grupo das Pequenas e Médias Empresas.
“A contínua queda do ICE deveu-se, sectorialmente, à queda de confiança em todos os sectores alvos do inquérito com maior destaque para os sectores de alojamento e restauração, que regista uma diminuição pelo terceiro mês consecutivo, do comércio, bem como dos outros serviços não financeiros se comparados com o mês de Março”, detalha o relatório.
Perspectiva de queda ligeira de preços nos próximos meses
Em estudo, a Autoridade Estatística revela que a expectativa dos agentes económicos sobre preços futuros teve uma depreciação, facto que levou o indicador de perspectiva dos preços a registar uma queda ligeira face aos últimos dois meses, tendo, deste modo, o seu nível continuado abaixo da média e atingido um novo mínimo da respectiva série temporal.
“Essa redução do indicador de preços futuros, no período em análise, deveu-se à percepção generalizada dos agentes económicos dos sectores de outros serviços não financeiros, de alojamento e restauração, de comércio e de transportes, de que os preços vão diminuir nos próximos meses com excepção dos sectores de construção e da produção industrial que prognosticaram um aumento ligeiro dos preços futuros no mesmo período de referência”, explica o estudo.
Empresas com constrangimentos aumentaram
Perante a crise pandémica, o INE revela que, em média, 60% das empresas inquiridas enfrentaram algum obstáculo em Abril, o que representou um incremento de empresas com limitação de actividade face ao mês anterior, numa magnitude de 1%, facto que se mostra alinhado ao ICE que diminuiu.
“Essa situação foi influenciada pelo aumento de empresas com limitações no exercício de suas actividades nos sectores de alojamento e restauração (+6% de empresas, ao passar de 74% para 80%), comércio e serviços (+9%) e da prevalência de limitações nos sectores de transportes (69% de empresas), da construção (59%) e da produção industrial (52%)”, lê-se no ICE que, em contrapartida, salienta que o sector dos outros serviços não financeiros registou menos empresas com limitações (52%). (Evaristo Chilingue)
O presidente do Instituto Nacional de Petróleo (INP) de Moçambique, Carlos Zacarias, disse hoje esperar que a decisão final de investimento para a produção de gás natural liquefeito em terra na Área 4, norte do país, seja tomada em 2021.
"A decisão final de investimento do Projeto Rovuma LNG foi adiada para, em princípio, o próximo ano", referiu em conferência de imprensa.
A petrolífera norte-americana ExxonMobil anunciou no início de abril o adiamento, sem prazo, da decisão que era esperada para este ano.
O adiamento deve-se a um corte nas despesas de capital em 30% e nas despesas operacionais em 15% devido à queda dos preços do petróleo e derivados, provocada pelo excesso de oferta e baixa procura com a pandemia de covid-19.
O empreendimento está avaliado entre 20 a 25 mil milhões de dólares (18,3 a 23 mil milhões de euros), um dos maiores previstos para África.
É um valor semelhante ao do megaprojeto da Área 1 da petrolífera francesa Total - que já disse continuar a avançar como previsto - e sobre os quais recaem as esperanças de Moçambique para dar fôlego à sua economia.
Ainda dentro da Área 4, o desenvolvimento da plataforma flutuante Coral Sul prossegue como previsto, com o navio em construção na Coreia do Sul e início de exploração marcado para 2022.
A plataforma em mar alto vai fornecer 3,4 milhões de toneladas por ano (mtpa) de gás liquefeito.
A extração em mar e processamento em terra (pensínsula de Afungi) das jazidas Mamba, cuja decisão de investimento ficou adiada, deverá fornecer 4,5 vezes mais, ou seja, 15 mtpa.
A Área 4 é operada pela Mozambique Rovuma Venture (MRV), uma 'joint venture' em co-propriedade da ExxonMobil, Eni e CNPC (China), que detém 70 por cento de interesse participativo no contrato de concessão.
A Galp, KOGAS (Coreia do Sul) e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (Moçambique) detém cada uma participações de 10%.(Lusa)
A empresa estatal Eletricidade de Moçambique (EDM) vai ter um custo de 15 milhões de dólares (13,3 milhões de euros) com a redução da tarifa para as famílias mais desfavorecidas e pequenas e médias empresas, anunciou hoje a companhia.
Na última semana, o ministro dos Recursos Minerais e Energia moçambicano, Max Tonela, disse no parlamento que a EDM vai cortar 50% da tarifa de energia para as famílias vulneráveis e 10% para as pequenas e médias empresas afetadas pela pandemia de covid-19.
O porta-voz da EDM, Luis Amado, disse hoje em conferência de imprensa, em Maputo, que a redução das tarifas vai beneficiar 179 mil clientes e terá um impacto de 15 milhões de dólares nas receitas da empresa.
Luís Amado avançou que a empresa vai procurar junto do Governo encontrar uma forma de compensação, uma vez que pode afetar a capacidade de a empresa cumprir o seu plano de investimento na expansão da rede elétrica.
Para este ano, a elétrica pública moçambicana projeta expandir o fornecimento de energia para 300 mil consumidores.
A redução da tarifa de energia para as famílias mais desfavorecidas e para as micro, pequenas e médias empresas afetadas pela pandemia de covid-19 enquadra-se num conjunto de medidas de alívio económico e fiscal que o Governo de Moçambique tem vindo a anunciar.
Moçambique tem um total acumulado de 316 casos de infeção pelo novo coronavírus, dois óbitos e 10 recuperados.(Lusa)
A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) anunciou, semana finda, estar a caminho um fundo a ser injectado à economia, desembolsado pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). Enquanto isso, há uma linha de financiamento injectado pelo Governo que, na óptica da CTA, não está a surtir efeito desejado.
Mesmo sem precisar a quantidade e data da disponibilização, o membro do Pelouro dos Recursos Minerais, Hidrocarbonetos e Energia na CTA, Chivambo Mamadhosen, garantiu, em conferência de imprensa, que as negociações estão num bom rumo.
“A CTA tem estado em contacto com o Banco Africano de Desenvolvimento e estamos à espera de confirmação de um financiamento directo ao Orçamento do Estado, que visa beneficiar o sector privado no pagamento do IRPC para 2020. Mas, tudo isto ainda está em mesa e carece ainda de aprovação”, disse o empresário.
A “boa nova”, para as empresas moçambicanas mergulhadas na crise pandémica, vem duas semanas depois de o Governo, através do Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, anunciar duas linhas de financiamento à economia. Uma é avaliada em 1 bilião de Meticais e vai ser oferecida em condições concessionais pelo Banco Nacional de Investimento.
Para apoiar as Pequenas e Médias Empresas da área do turismo e outras, igualmente afectadas pelas medidas administrativas do Estado de Emergência, o Governo vai disponibilizar ainda uma linha de financiamento de 600 milhões de Meticais, proveniente do fundo do Instituto Nacional de Segurança Social e será concedida às empresas, através da banca comercial.
Uma quinzena após o anúncio dessas linhas, ainda são escassas as informações sobre a data do início da disponibilização das verbas, bem como as condições detalhadas de elegibilidade das empresas, para além do seu real impacto à actividade económica.
Enquanto se multiplicam fundos à economia, crescem críticas sobre os 500 milhões de USD disponibilizados a 23 de Março passado, pelo Banco de Moçambique, através de bancos comerciais elegíveis.
Ao disponibilizar a verba, antes mesmo das medidas de emergência, o Banco Central acreditou que, ao aceder a esta linha de financiamento, os bancos comerciais teriam mais liquidez (dinheiro) em moeda estrangeira, podendo vendê-la aos seus clientes para a realização de importações.
Com a transacção da moeda estrangeira aos seus clientes, o Banco de Moçambique projectou ainda que os bancos comerciais iriam aumentar a disponibilidade do Dólar no mercado, reduzindo a oscilação da taxa de câmbio e, por essa via, promover a estabilidade do preço dos bens e serviços (inflação baixa e estável), o principal objectivo da instituição.
Todavia, esses efeitos não estão a ser verificados como se deve na economia e, como consequência, o sector privado, através da CTA, multiplica a cada aparição pública críticas em relação ao impacto dos 500 milhões de USD.
Em verdade, se um dos objectivos era proteger a moeda nacional, tal não é o que está a acontecer. O Metical está a verificar uma derrapagem preocupante. Se na primeira quinzena de Janeiro passado, 1 USD era, de acordo com o câmbio do próprio Banco Central, vendido a 62.74 Meticais, neste Junho, o mesmo câmbio aponta a transacção de 1 USD por 70 Meticais (uma diferença de 8 Meticais).
Perante esse cenário, que suscita críticas por parte do sector empresarial, questionam-se as condições e o impacto dos fundos anunciados para que não sejam mais alguns, sem o desejado impacto para a economia. (Evaristo Chilingue)