Um ano após a passagem do ciclone Idai pelo Maláui, Moçambique e Zimbabué, dezenas de milhares de pessoas continuam sem casa, sujeitas a condições sanitárias deficientes e em risco de contrair doenças, alertou a Amnistia Internacional (AI). "Um ano após o ciclone Idai ter passado pelo Maláui, Moçambique e Zimbabué, muitas das pessoas afetadas estão a viver os piores efeitos da crise climática. Vivem praticamente no limiar da sobrevivência", disse Tigere Chagutah, subdiretor da AI para a África Oriental e Austral.
Segundo a organização de defesa dos direitos humanos, o apoio financeiro "desadequado e decrescente" aos programas de recuperação da comunidade internacional, e o ritmo lento dos esforços de reconstrução dos governos nos três países tem prolongado a permanência das pessoas afetadas em abrigos improvisados, em risco de contrair doenças como a cólera e, em alguns casos, sem mobilidade.
"Dezenas de milhares de pessoas continuam sem casa, algumas em abrigos das Nações Unidas e em estruturas improvisadas, sem acesso a saneamento básico e com risco de contrair cólera e outras doenças oportunistas", adiantou.
A maioria das escolas danificadas pelo ciclone em Moçambique ainda não foram reconstruídas e centenas de milhares de crianças continuam fora da escola. Apesar da maioria das crianças já ter regressado, os professores enfrentam problemas relacionados com a falta de infraestruturas e materiais. "Dada a situação terrível nestes países e as responsabilidades pela crise climática, os estados mais ricos e os doadores multilaterais precisam de fazer mais para garantir que o dinheiro chegue àqueles que dele necessitam", apelou.
A Amnistia Internacional assinala que, até ao momento, foi conseguido menos de metade dos 450 milhões de dólares (406,8 milhões de euros) necessários para ajudar as comunidades afetadas no Zimbabué e em Moçambique, com o compromisso de apenas 40 mil dólares (36,2 mil euros) nos primeiros meses deste ano.
Moçambique, o país mais afetado, acolheu uma conferência de doadores, em maio de 2019, para conseguir fundos para reconstrução a longo prazo, tendo angariado 1,2 mil milhões de dólares (1,085 mil milhões de euros), menos de um terço do valor necessário.
Na província de Sofala, em Moçambique, numa das zonas mais atingidas muitas das estradas continuam bloqueadas, deixando as pessoas confinadas aos abrigos comunitários e dependentes da assistência humanitária. Por isso, defende a organização, o Governo "deve dar prioridade à reconstrução de infraestruturas críticas para facilitar a reconstrução de meios de subsistência".
Na capital da província, Beira, surtos de cólera e malária infetaram milhares de pessoas, numa altura em que as infraestruturas de saúde foram destruídas, dificultando o acesso das pessoas a cuidados sanitários.
No Zimbabué, o segundo país mais atingido, muitos dos afetados continuam a viver em tendas em campos de refugiados.
"Na sequência desta catástrofe, é evidente que os governos do Maláui, Moçambique e Zimbabué não podem arcar com os danos causados pelo ciclone Idai e empreender a reconstrução massiva das vidas das pessoas sozinhos", disse Tigere Chagutah.
Defendeu, neste contexto, que "os governos afetados e os parceiros internacionais devem renovar os seus compromissos, acelerar a reconstrução e assegurar que esses esforços sejam feitos de forma a assegurar os direitos humanos", acrescentou.
Para a AI, esta situação mostra, por isso, a importância de os Estados "acordarem em mecanismo internacional adequado para apoiar as pessoas cujos direitos foram afetados pela crise climática". O ciclone Idai atingiu o Maláui, Zimbabué e Moçambique entre 14 e 16 de março de 2019, causando mais de 1.000 mortos e deixou mais de três milhões de pessoas sem casa, comida e abrigo. (Lusa)
Multiplicam-se, diariamente, os apelos à observância de medidas de prevenção face à possível propagação do coronavírus na República de Moçambique. Entretanto, alguns parecem irrealistas para a nossa realidade.
Uma das medidas anunciada semana finda, pelo Ministério da Saúde (MISAU), está ligada ao sector dos transportes, um dos maiores calcanhares de Aquiles no país, sobretudo nos maiores centros urbanos. Durante o encontro que manteve com representantes dos transportadores públicos e privados, as autoridades de saúde recomendaram aos transportadores públicos e semi-colectivos de passageiros a evitarem a superlotação dos autocarros, como forma de reduzir os riscos de propagação da doença.
A medida parece “ilusória”, num país onde a escassez do transporte leva pais e chefes a viajar em carrinhas de caixa aberta, vulgo “my loves”. A falta de transporte denota-se ainda nas horas de ponta, onde estudantes, professores e demais trabalhadores lotam as paragens, para além de disputarem, aos cotovelos, por um lugar nos chamados “chapa 100”.
Na sua conversa com os transportadores, a Chefe do Departamento de Epidemiologia, Lorna Gujmal, recomendou àqueles profissionais a desinfectarem os seus autocarros com cloro nos vidros, maçanetas, acentos e corrimões. Recomendou ainda que estes também criem condições de ventilação nos seus veículos automóveis.
No entanto, durante o encontro, que teve lugar na passada quinta-feira, a Chefe do Departamento de Epidemiologia sublinhou que o sector da saúde ainda está a trabalhar com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para perceber quais as orientações específicas para os transportadores, tendo em conta que “é uma doença nova”.
As medidas são tidas como “irrealistas” pelos críticos, tendo em conta a precariedade do nosso sistema de transporte. Aliás, as fontes apontam as condições mecânicas, que grande parte dos autocarros apresentam como prova da falta de condições para a implementação das referidas medidas.
Refira-se que os transportes públicos de passageiros configuram-se como locais férteis para a fácil propagação do Covid-19. Lembre-se que o vírus pode sobreviver até 30 minutos no ar e pode ser transmitido a uma distância mínima de 4.5 metros. (Marta Afonso)
Foi através de um comunicado, recebido ontem na nossa redacção, que a Livaningo, uma organização da sociedade civil que trabalha na área de conservação ambiental, disse ter acompanhado com preocupação a concessão de praias de Inhambane à empresa Savannah, em parceria com Rio Tinto, na dimensão de 400 quilômetros quadrados (equivalente a um quarteirão de 20 km de cada lado) para extrair os minérios, vulgarmente chamados de areias pesadas: titânio e zircão.
A Livaningo afirma: “a concessão inclui 20 km da Estrada Nacional Nº 1 entre Inharrime e Maxixe, bem como parte da estrada de ligação entre Jangamo e Inhambane. O exercício de exploração de áreas pesadas nas zonas costeiras implica dragagem e filtração das areias para posterior separação dos minérios pretendidos”.
Indo mais, a organização diz: “o processo origina crateras e destrói dunas que têm a função de proteger a costa da invasão da água do mar, além do grande valor em termos de biodiversidade. Igualmente, afirma a Livaningo, este tipo de exploração pode causar diversos tipos de impactos ambientais aos ecossistemas marinhos e costeiros, principalmente devido à destruição de habitats, que é um dos principais factores que causam o declínio do número de espécies em todo o mundo. Para além de interferir directamente no fundo do mar”.
“As actividades de mineração podem causar um aumento da turbidez da água, com consequências para a produtividade primária local. Também podem provocar a erosão dos solos, introduzir e promover a liberação de nutrientes, causando a eutrofização e também a introdução de substâncias tóxicas, que quando incorporadas à biota, alteram o crescimento, a taxa de reprodução e a sobrevivência das espécies”, refere o comunicado.
De acordo com a informação que consta no comunicado “todos esses impactos trazem implicações sérias para vida económica e social das populações que vivem na zona costeira, pois o turismo, a pesca, a agricultura e a pecuária fazem parte dos principais meios de subsistência da população da costa de Inhambane. Inhambane é uma das províncias do país mais cotadas no panorama turístico de alta qualidade, proporcionada por uma larga costa com 700 km e terras do interior”.
Segundo dados da Direcção Provincial da Cultura e Turismo em Inhambane, 122 mil estrangeiros visitaram em 2018 a região, gerando cerca de dois milhões de euros para os cofres do Estado. Muitos deles estavam à procura das mais belas praias do mundo para a prática de diferentes tipos de turismo, como o turismo de sol, do mar e o turismo náutico.
A Livaningo avança que um projecto de exploração de areias pesadas na zona costeira de Inhambane compromete sobremaneira todo este potencial turístico e ambiental que a zona costeira de Inhambane oferece e cria um impacto visual forte, pois as belas paisagens e ambiente deixam de existir para dar lugar a crateras e falta de vegetação. Outrossim, implicará a perda de oportunidades económicas e meios de subsistência de mais de 2,800 mil famílias pescadoras e camponesas. (Carta)
A Associação de Comércio Indústria e Serviços (ACIS), uma agremiação composta por perto de seiscentas pequenas, médias e grandes empresas dos ramos industrial, comercial e prestação de serviços, disse, esta quinta-feira, haver empresas que já se ressentem do novo coronavírus, uma doença já declarada pandemia.
Em conferência de imprensa, realizada em Maputo, o Director-Executivo da ACIS, Edson Chichongue, disse que pelo menos 15 empresas associadas reportaram estar a registar os efeitos da pandemia, pelo facto de os seus negócios dependerem, de certa forma, dos países afectados, com destaque para a China e a vizinha África do Sul.
“Temos membros que deveriam importar materiais da China, através dos seus parceiros na África do Sul, mas que neste momento não o podem fazer”, apontou Chichongue.
O Director Executivo da ACIS destacou ainda casos de membros que pretendiam capacitar os seus colaboradores em países como China, Itália, para dar resposta às necessidades internas, mas viram-se impedidos por causa dessa situação. E isto “claramente prejudica os seus negócios”, reportou a fonte.
Perante efeitos da pandemia, cada vez mais visíveis ao nível do empresado nacional, a Associação não escondeu a sua preocupação. “Nós, como ACIS, estamos preocupados com esta situação”, afirmou Chichongue.
A ACIS ainda não calculou quanto efectivamente as empresas já perderam. Todavia, Chichongue disse que, ainda esta semana, a agremiação iria começar a contabilizar os efeitos do Covid-19 no tecido empresarial.
Para minimizar os efeitos, o Director Executivo da ACIS apelou aos empresários para buscar permanentemente informação sobre os efeitos da doença no mundo, para evitar pânico e saber perspectivar o futuro.
“O nosso apelo é de maior gestão de informação. Porque a má gestão pode aumentar cada vez mais o alarme. Aliás, é o que se tem visto no dia-a-dia. Ao nível de funcionamento interno, as empresas devem também adoptar medidas internas de saúde”, advertiu Chichongue, mesmo antes de registo de caso de Covid-19 no país.
Refira-se que o Banco de Moçambique considerou em finais de Fevereiro passado que, em caso de prolongamento do Covid-19, a longo prazo, poderá haver uma subida de preços no geral, e, particularmente, de diversos produtos que o país importa da China, onde o referido vírus surtiu em finais do ano passado.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou, esta terça-feira (10), que o novo coronavírus deve causar perdas de um trilião de USD à economia mundial em 2020. A Organização antevê a perda nesse valor, pelo facto de o impacto do vírus causar instabilidade nos mercados financeiros mundiais, preocupações sobre a cadeia de suplementos ao nível global e incerteza no preço do petróleo.
Estatísticas Globais indicavam até ontem perto de 128 mil casos infectados pelo Covid-19, em 120 territórios de todo o mundo, mais de 4700 mortes e pouco mais de 68 mil casos se recuperam. (Evaristo Chilingue)
Os partidos políticos devem reflectir sobre o uso das redes sociais. Esta é uma das conclusões que consta no relatório sobre “eleições gerais de 2019, em Moçambique, nas redes sociais” apresentado, esta quinta-feira, em Maputo, pelo Instituto Eleitoral para Democracia Sustentável na África (EISA) em Moçambique, no âmbito da conferência sobre media e eleições nas redes sociais, organizado pelo Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA), Sindicato Nacional dos Jornalistas (SNJ) e Centro de Estudos Interdisciplinares de Comunicação (CEC).
Egídio Guambe, em representação do EISA, disse que o país está a passar um grande “boom” nas comunicações digitais, porém, durante as eleições, revela o estudo, verificou-se que as redes sociais mais usadas foram o Facebook e Youtube, sendo apenas 1% da população é que usa o Twitter. Grande parte dos cidadãos usa o WhatsApp como aplicativo de mensagem.
Guambe explicou que 8% da população é que usa o Facebook, sendo que 64% são homens. Porém, 44% dos usuários é que são mais activos. O estudo do EISA avança ainda que, de meados de Agosto a 15 de Outubro de 2019, o partido Frelimo teve 80 mil seguidores na sua conta do Facebook, a Renamo conseguiu 20 mil, enquanto o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) conta com 22.800 seguidores numa conta e noutra (MDM – Gabinete de Informação) regista 12.500 e AMUSI com 800.
O estudo do EISA afirma que, durante a campanha, a Frelimo tinha mais mensagens direccionadas e profissionais do que os partidos da oposição que muitas vezes se apoiavam na partilha de conteúdos de activistas. Já no Youtube, onde foram analisados 219 vídeos e 504 comentários, verificou-se que, no intervalo de tempo acima mencionado, registaram-se 1.4 milhão de visualizações, tendo a Frelimo somado 1.700 visualizações e os canais das Televisões Miramar e de Moçambique e um canal, denominado “Quelimane 24”, pertencente ao Edil de Quelimane, Manuel De Araújo.
EISA diz ter analisado 4.442 mensagens de WhatsApp, de quatro grupos, onde circulavam 150 mensagens por dia e foi nesta rede onde decorreram vários debates e denúncias sobre ilícitos eleitorais.
Nesta senda, o EISA entende haver evidências de uma comunidade emergente de líderes e comentadores nacionais da sociedade civil a usarem o Twitter e que o envolvimento do público com os partidos políticos regista-se mais no Facebook em detrimento de outras redes sociais, embora dentro do partido Frelimo existam pessoas com mais influência nas redes sociais que o partido em si.
Acrescentando, Egídio Guambe explicou que quem tem acesso ao Facebook, em Moçambique, continua a ser uma classe média-alta, assim como o Twitter. Em reacção às apresentações dos oradores, Lutero Simango, Chefe da bancada parlamentar do MDM, na Assembleia da República, por sinal o único partido com assento parlamentar presente no evento, disse que “as máquinas políticas partidárias são muito complexas. Às vezes, temos de observar certas forças internas”.
Simango reconheceu que “não dominamos a técnica porque não temos conhecimento”, porém, sublinhou que os partidos registam falta de recursos humanos e financeiros. Lutero Simango prometeu apresentar os dados colhidos pelo EISA aos seus colegas, de modo que o seu partido se possa reinventar. (O.O.)
O Conselho Autárquico da Cidade de Maputo (CACM) começa, nesta quinta-feira, 12 de Março, a retirar pouco mais de quatro mil vendedores informais que continuam a desenvolver as suas actividades nos passeios da capital do país. Dos quatro mil vendedores informais abrangidos, dois mil encontram-se concentrados na zona da baixa da Cidade de Maputo e os restantes nas proximidades dos Mercados Municipais da Praça dos Combatentes, vulgo Xiquelene, e do Mercado Grossista do Zimpeto.
De acordo com o comunicado de imprensa, enviado à nossa Redacção, a edilidade afirma que a decisão surge depois de vários meses de sensibilização, razão pela qual estabeleceu o dia de hoje como o último. As avenidas mais afectadas pelo comércio informal são: Eduardo Mondlane, Guerra Popular, Samora Machel, 25 de Setembro, Mártires de Inhaminga, Fernão Magalhães, Zedequias Manganhela, Filipe Samuel Magaia, Josina Machel e Vladimir Lenine.
Na nota a que “Carta” teve acesso, o Conselho Autárquico da Cidade de Maputo diz esperar que os vendedores abrangidos pela medida abandonem os seus actuais postos de venda, de forma voluntária, e passem a ocupar as mais de 4.766 bancas e quiosques disponíveis nos distritos municipais. Garante que os mercados municipais dispõem de brigadas para receber e integrar os vendedores informais.
Salientar que, em Janeiro último, a edilidade tomou uma decisão similar com os pouco mais de 190 vendedores de mariscos, que ocupavam a Praça 25 de Junho, porém, o processo de ocupação do Mercado Janet, no bairro da Coop, tem sido, até aqui, problemático.
Conforme avança a edilidade da capital do país, a medida visa organizar os vendedores informais na capital do país e, para tal, a equipa do Conselho Autárquico de Maputo irá continuar a retirar os vendedores de bebidas alcoólicas na via pública e de hortícolas, em lugares impróprios.
Referir que desde 2019 o Executivo de Eneas Comiche vem fazendo campanhas de sensibilização para a retirada de vendedores informais, destacando a campanha levada a cabo em Abril último, após atropelamento de pessoas junto do Terminal Rodoviário Interurbano do Zimpeto, onde duas pessoas perderam a vida e 27 ficaram feridas, o CACM retirou todos os vendedores daquele local. (O.O.)